19/06/2009
Meu irmão Márcio
19/06/2009 16:41:49
Histórias - Meu irmão Márcio
Meu irmão Márcio Haas
Ontem por infelicidade – ou para nós que acreditamos: felicidade – fizemos o enterro de meu irmão Márcio Haas, que residia na cidade de Brusque, e faleceu de ataque cardíaco fulminante. Infelicidade seria se ele fosse mau – mas era um homem exemplar – e é então dupla e até tripla felicidade saber que ele está no Céu, e melhor que nós.
Na quarta feira pela manhã quando nos informaram de seu falecimento, imediatamente eu telefonei aos nossos amigos que estavam em retiro em Nova Trento , dando conta do fato e pedindo orações por ele. Uma hora depois o Sálvio me telefonou e disse que quando rezavam os Mistérios gloriosos do Rosário, no quarto mistério na 3ª Ave Maria, ele subiu ao Céu com Nossa Senhora. Sim, e já rezava com eles! Não é uma alegria saber disso?
Assim, e sabendo disso, o funeral não foi destes lamentosos, cheios de gritos histéricos, de prantos inconformados, mas algo normal, de pessoas de fé, conformados com a Divina Vontade. Claro, as lágrimas são inevitáveis, porque somos humanos. Mas lágrimas no silêncio do coração, que são aquelas que salvam.
Ontem às 9:00 horas tivemos então a Santa Missa de corpo presente, celebrada pelo Padre Arilton que o conhecia e fez uma comovente homilia. Ao final, também a Ministra da Comunhão, companheira de luta com o Márcio e a esposa Renate na construção daquela capela, junto com a comunidade, de onde ele foi líder por mais de 10 anos. E como homem de comunidade ele foi grande em seu meio.
Na hora meus familiares todos esperavam e queiram mesmo que eu dissesse algumas palavras, em nome da família, mas avisei que falaria apenas na hora do enterro, á beira do túmulo. E como o padre já havia encomendado o corpo, ficamos aguardando até que todos chegassem ao local do Cemitério Parque da Saudade de Brusque, onde Márcio ficará até o dia do Grande Juízo.
Durante este tempo, cantamos em família alguns cantos escolhidos da nossa Igreja Católica, e como ministros da Comunhão, minha irmã Marlene e eu procedemos aos últimos detalhes da benção do túmulo. Bom ter ministros em família...
Antes de lacrarmos o túmulo, tomei a palavra e disse algo mais ou menos assim:
Antes de enterrarmos nosso querido irmão Márcio, eu gostaria de dizer algumas palavras a todos, em nome da nossa família. Vejam que tanto o Padre Arilton, como a ministra amiga, teceram sobre o Márcio uma série de elogios, que certamente ele bem merece e nos enche de satisfação.
E para nós é alegria estar aqui neste momento, porque pelos caminhos que somente Deus tem, posso lhes afirmar com toda segurança que já ontem, às 11 horas da manhã, enquanto nossos grupos rezavam o Rosário, no 4º Mistério Glorioso, na 3ª Ave Maria, ele foi ao céu, pelas mãos de Nossa Senhora. Ficou então no Purgatório apenas 1 hora e 30 minutos, para aparar pequenas arestas.
Mas vejam que na Missa eles falaram apenas do Márcio grande deste mundo, daquele que construiu obras e participou ativamente da vida da Igreja na sua comunidade. Mas Jesus disse assim: em verdade Eu vos digo, que se não fordes como uma criança, se vocês não tiverem um coração de criança não entrareis no Reino dos Céus.
Então eu prefiro entregar a Deus não o Márcio grande deste mundo, mas sim o Márcio criança, e para isso vou contar uma passagem de nossa infância. Assim ficará bem claro o motivo pelo qual o Reino dos Céus é das crianças... Como o Márcio... E com isso vocês poderão entender por que ele ganhou o céu tão rápido.
Quando nós éramos pequenos – eu sou o primeiro filho ele o segundo dentre 13 irmãos – eu sempre tinha habilidade de fazer as coisas e então o Márcio vinha e me pedia: Arnaldo,
faz uma soiteirinha pra mim? E lá fazia eu a tal soiteirinha - um pequeno chicote – com o qual ele ficava por horas seguidas estalando, todo feliz.
Noutro dia ele pedia: Arnaldo: faz um funda – estilingue – pra mim? Então eu fazia e ambos íamos “caçar”, na verdade andar pelo mato dando pelotadas sem acertar. Mas eu percebia que o Márcio não atirava a pelota para acertar e sim para espantar o passarinho, porque eu era mais malvado e queria acertar de fato, ele não.
E aconteceu que certo dia nós estávamos próximo de uma árvore isolada, bem alta, e bem nos altos galhos havia uma pequena cambacica amarela, meio difícil de ver. Então apontei o dedo explicando onde ela estava e ele disse: já vi! E estalou a funda, mas jogou a pedra para o alto... Que tomou rumo o céu azul, não da copa da árvore. Para espantar...
Ora, com o barulho o pequeno passarinho se assustou e voou... Mas, acreditem: por uma destas coisas que não acontece duas vezes, não é que o infeliz cruzou exatamente a rota da pelota, que o acertou em cheio, em pleno vôo!.... E o bichinho morreu aos nossos pés.
Vocês não imaginam o desespero do Márcio. Ele começou a chorar e se lamentava o tempo todo. Pegou sua “caça” pelo pezinho e a ia levando todo choroso, porque tivemos de ir embora devido sua insistência. Parecia que o Márcio queria enterrar o pobrezinho...
Pois bem: para cumprir aquele desejo dele, que eu sei que ele tinha, de enterrar o passarinho, hoje eu quero pedir a vocês que esqueçamos o Márcio grande, aquele que construiu obras do mundo e vamos entregar a Deus este pequeno Márcio passarinho, nosso irmão... Seu coração era de criança...
Claro, vocês nem podem imaginar a emoção que tomou conta de todos, mas uma emoção santa, de orgulho sadio, porque temos agora um irmão santo, no Céu. Uma criança! ... e houve uma pausa para o fôlego...
Para terminar falei: agora peço que terminemos com uma última homenagem ao Márcio. Sei que ele gostava de música, cantava bem, e tocava flautinha doce. Ele e eu nunca aprendemos a tocar violão, mas eu aprendi gaitinha de boca, ele flauta. Pedi então ao Márcio que, do Céu, pegasse sua flautinha e viesse fazer dueto comigo.
E tomando a pequena gatinha “dó”, conforme já tinha combinado com minha irmã Marlene, eu toquei o “Doce é Sentir”, como sempre faço nos cenáculos, enquanto ela cantava. Foi emocionante, porque a letra fala da terra mãe, obra divina e fonte de vida das criaturas de Deus. Podem crer, foi singelo, mas fantástico, pela simplicidade. Deus estava ali junto, podem crer. E o Márcio também...
No final o caixão foi baixado ao som da gatinha – e quem sabe da flautinha do Márcio – ao som da música “Mais perto do meu Deus”, aquela que chamamos aqui: a música do Titanic.... Emocionante! Fico ainda agora enquanto escrevo! E ficará para sempre, como tão bem ficou gravada aquela nossa “caçada”.
E quando lembro que Deus já programava isso tudo, uns 52 anos atrás...
Quem contém as lágrimas? Sim, da mais pura alegria!
Arnaldo, irmão de São Márcio....
19/06/2009 16:41:49
Histórias - Meu irmão Márcio
Meu irmão Márcio Haas
Ontem por infelicidade – ou para nós que acreditamos: felicidade – fizemos o enterro de meu irmão Márcio Haas, que residia na cidade de Brusque, e faleceu de ataque cardíaco fulminante. Infelicidade seria se ele fosse mau – mas era um homem exemplar – e é então dupla e até tripla felicidade saber que ele está no Céu, e melhor que nós.
Na quarta feira pela manhã quando nos informaram de seu falecimento, imediatamente eu telefonei aos nossos amigos que estavam em retiro
Assim, e sabendo disso, o funeral não foi destes lamentosos, cheios de gritos histéricos, de prantos inconformados, mas algo normal, de pessoas de fé, conformados com a Divina Vontade. Claro, as lágrimas são inevitáveis, porque somos humanos. Mas lágrimas no silêncio do coração, que são aquelas que salvam.
Ontem às 9:00 horas tivemos então a Santa Missa de corpo presente, celebrada pelo Padre Arilton que o conhecia e fez uma comovente homilia. Ao final, também a Ministra da Comunhão, companheira de luta com o Márcio e a esposa Renate na construção daquela capela, junto com a comunidade, de onde ele foi líder por mais de 10 anos. E como homem de comunidade ele foi grande em seu meio.
Na hora meus familiares todos esperavam e queiram mesmo que eu dissesse algumas palavras, em nome da família, mas avisei que falaria apenas na hora do enterro, á beira do túmulo. E como o padre já havia encomendado o corpo, ficamos aguardando até que todos chegassem ao local do Cemitério Parque da Saudade de Brusque, onde Márcio ficará até o dia do Grande Juízo.
Durante este tempo, cantamos em família alguns cantos escolhidos da nossa Igreja Católica, e como ministros da Comunhão, minha irmã Marlene e eu procedemos aos últimos detalhes da benção do túmulo. Bom ter ministros em família...
Antes de lacrarmos o túmulo, tomei a palavra e disse algo mais ou menos assim:
Antes de enterrarmos nosso querido irmão Márcio, eu gostaria de dizer algumas palavras a todos, em nome da nossa família. Vejam que tanto o Padre Arilton, como a ministra amiga, teceram sobre o Márcio uma série de elogios, que certamente ele bem merece e nos enche de satisfação.
E para nós é alegria estar aqui neste momento, porque pelos caminhos que somente Deus tem, posso lhes afirmar com toda segurança que já ontem, às 11 horas da manhã, enquanto nossos grupos rezavam o Rosário, no 4º Mistério Glorioso, na 3ª Ave Maria, ele foi ao céu, pelas mãos de Nossa Senhora. Ficou então no Purgatório apenas 1 hora e 30 minutos, para aparar pequenas arestas.
Mas vejam que na Missa eles falaram apenas do Márcio grande deste mundo, daquele que construiu obras e participou ativamente da vida da Igreja na sua comunidade. Mas Jesus disse assim:
Então eu prefiro entregar a Deus não o Márcio grande deste mundo, mas sim o Márcio criança, e para isso vou contar uma passagem de nossa infância. Assim ficará bem claro o motivo pelo qual o Reino dos Céus é das crianças... Como o Márcio... E com isso vocês poderão entender por que ele ganhou o céu tão rápido.
Quando nós éramos pequenos – eu sou o primeiro filho ele o segundo dentre 13 irmãos – eu sempre tinha habilidade de fazer as coisas e então o Márcio vinha e me pedia: Arnaldo,
faz uma soiteirinha pra mim? E lá fazia eu a tal soiteirinha - um pequeno chicote – com o qual ele ficava por horas seguidas estalando, todo feliz.
Noutro dia ele pedia: Arnaldo: faz um funda – estilingue – pra mim? Então eu fazia e ambos íamos “caçar”, na verdade andar pelo mato dando pelotadas sem acertar. Mas eu percebia que o Márcio não atirava a pelota para acertar e sim para espantar o passarinho, porque eu era mais malvado e queria acertar de fato, ele não.
E aconteceu que certo dia nós estávamos próximo de uma árvore isolada, bem alta, e bem nos altos galhos havia uma pequena cambacica amarela, meio difícil de ver. Então apontei o dedo explicando onde ela estava e ele disse: já vi! E estalou a funda, mas jogou a pedra para o alto... Que tomou rumo o céu azul, não da copa da árvore. Para espantar...
Ora, com o barulho o pequeno passarinho se assustou e voou... Mas, acreditem: por uma destas coisas que não acontece duas vezes, não é que o infeliz cruzou exatamente a rota da pelota, que o acertou em cheio, em pleno vôo!.... E o bichinho morreu aos nossos pés.
Vocês não imaginam o desespero do Márcio. Ele começou a chorar e se lamentava o tempo todo. Pegou sua “caça” pelo pezinho e a ia levando todo choroso, porque tivemos de ir embora devido sua insistência. Parecia que o Márcio queria enterrar o pobrezinho...
Pois bem: para cumprir aquele desejo dele, que eu sei que ele tinha, de enterrar o passarinho, hoje eu quero pedir a vocês que esqueçamos o Márcio grande, aquele que construiu obras do mundo e vamos entregar a Deus este pequeno Márcio passarinho, nosso irmão... Seu coração era de criança...
Claro, vocês nem podem imaginar a emoção que tomou conta de todos, mas uma emoção santa, de orgulho sadio, porque temos agora um irmão santo, no Céu. Uma criança! ... e houve uma pausa para o fôlego...
Para terminar falei: agora peço que terminemos com uma última homenagem ao Márcio. Sei que ele gostava de música, cantava bem, e tocava flautinha doce. Ele e eu nunca aprendemos a tocar violão, mas eu aprendi gaitinha de boca, ele flauta. Pedi então ao Márcio que, do Céu, pegasse sua flautinha e viesse fazer dueto comigo.
E tomando a pequena gatinha “dó”, conforme já tinha combinado com minha irmã Marlene, eu toquei o “Doce é Sentir”, como sempre faço nos cenáculos, enquanto ela cantava. Foi emocionante, porque a letra fala da terra mãe, obra divina e fonte de vida das criaturas de Deus. Podem crer, foi singelo, mas fantástico, pela simplicidade. Deus estava ali junto, podem crer. E o Márcio também...
No final o caixão foi baixado ao som da gatinha – e quem sabe da flautinha do Márcio – ao som da música “Mais perto do meu Deus”, aquela que chamamos aqui: a música do Titanic.... Emocionante! Fico ainda agora enquanto escrevo! E ficará para sempre, como tão bem ficou gravada aquela nossa “caçada”.
E quando lembro que Deus já programava isso tudo, uns 52 anos atrás...
Quem contém as lágrimas? Sim, da mais pura alegria!
Arnaldo, irmão de São Márcio....
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