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24/06/2005
Servir


Montanha - 11 Servir
Montanha - 11 Servir

10ª MONTANHA
SERVIR
 
     No Evangelho está: “O Filho do homem não veio ao mundo para ser servido, mas para servir”. E ainda: “também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. Estas duas passagens das escrituras nos remetem a um profundo exame de consciência, quanto a tudo aquilo que temos feito em relação aos nossos irmãos. Na verdade a nossa vida deveria ser toda um só ato de servir aos outros, anulando-se cada um nos seus próprios sentimentos e desejos, para viver no outro a alegria que existe em doar-se.
 
     Vejam bem: servir, não é ser servil! Uma pessoa servil, pode nem sempre ser sinônima de alguém que serve desinteressadamente – tal como pede o evangelho – mas sim o pode fazer com segundas intenções. Aqui se anula diante dos outros, mas adiante pretende a obtenção de alguma vantagem maior. Este é um comportamento farisaico e deplorável, em especial quando se faz muito mais em palavras efeitos que em ações concretas. A pessoa então, se humilha fingidamente diante da outra, mas seu sentido não é servir de verdade e sim buscar explora-la no momento oportuno.
 
     Novamente o ato de servir – e servir sempre e sem reservas – exige de nós uma outra dose brutal de humildade. Aliás, exige humildade total! Neste particular a humilde Maria, a serva dos servos de Deus, foi insuperável em todas as suas atitudes. Nem mesmo ao humilde José ela deixou de se submeter, tornando-se assim, com esta virtude, a mais incrível das criaturas de Deus. Uma centelha da humildade de Maria – tivéssemos nós a iluminar nossos caminhos – e o mundo já teria sido literalmente transformado. Ela, de fato, desceu – na verdade subiu – a extremos tais, que ela nunca será superada por pessoa alguma na atitude de servir. De doar-se, de se entregar ao serviço dos outros.
 
     Como uma das virgens do templo, onde entrou aos três anos e meio, Maria já de imediato se tornou a maior e a mais solicita serviçal. Eram dela os trabalhos mais simples e humildes, eram dela as funções mais estafantes. Muitas perseguições, inclusive, teve ela que enfrentar de suas superioras, ou das virgens mais velhas, tendo em vista que o comportamento humilde de nossa pequena Serva, acusava continuamente os procedimentos arrogantes das outras. Então ela sofreu muitas humilhações, mas jamais se revoltou contra quem quer fosse, jamais elevou sua voz em defesa própria, jamais respondeu com rispidez à arrogância alguma. Onde buscar tamanha força para exercer este assombroso ministério do servir? De humilhar-se a um tal ponto?
 
     Ela deve ser buscada no exemplo de Jesus, que – sendo Ele Deus – veio para servir e não para ser servido como o merecia. Deve ser buscado no amor incondicional a Deus – eis aí a fonte inesgotável onde Maria bebeu – amor que se reflete no irmão necessitado, e até naquele que não precisa de coisa alguma. Se todos nós seguíssemos os preciosos exemplos de Jesus, Maria e José, com toda a certeza a terra já seria um paraíso, onde não faltaria coisa alguma para quem quer que fosse. Na verdade, todos seríamos ricos – falo em virtudes – que nos levariam também a uma grande fartura material, pois o próprio Deus proveria tudo para todos.
     
     Nesta altura, o leitor poderá perguntar para mim, se consigo viver desta forma proposta por Jesus? E devo dizer que infelizmente ainda não consegui avançar muito neste sentido. Na verdade, todos nós somos um pouco egoístas e gostamos demais de ser servidos, não de servir. São muitíssimo poucos aqueles que têm, como que no sangue, esta vontade de servir aos outros, embora em certos momentos de nossa vida, possamos presenciar muitas provas de solidariedade. São, porém, provas momentâneas e de ímpeto, que acabam naquele momento, não sendo aquelas ações continuadas que o Evangelho nos pede e que devem palmilhar toda a nossa vida.
 
     Ajudar alguém quanto ao carro que quebra na beira da estrada, muitos até fazem ist
o, mas com certeza a cada dia menos. Isso acontece ainda no interior, onde ainda é forte este sentimento de ajuda, mas nas cidades já está quase morto. Até porque o medo dos assaltos e de ser prejudicado é muito grande, pois o banditismo é tão intenso que até para quem é solicitado a apenas ajudar, muitas vezes sobram dissabores quando não a morte. Isso, aliás, é prova de um mundo que apodreceu, justamente porque a ganância, o querer tudo para si a qualquer custo, tem se tornado a tônica e a quase lei.
 
     Vou dar um exemplo de servir, que levou a imensos dissabores, e aconteceu com um primo meu, já falecido e no céu. Ele sempre foi uma pessoa serviçal, que ajudou os outros o quanto podia. Foi sempre enganado nos negócios por causa de sua bondade e muitas vezes esteve em dificuldades financeiras por causa disto. E aconteceu que num dia, já de madrugada, veio à sua casa um vizinho, a pedir que ele fosse leva-lo de carro a uma localidade distante, para ver sua esposa que estava internada. Ele ponderou ao homem que naquele horário – duas horas da manhã – ele não conseguiria entrar no hospital, mas não teve nada no mundo que o fizesse desistir.
 
     Pois aconteceu o pior! Talvez por estar meio estremunhado pelo sono, talvez por um pouco de pressa – pessoalmente acho que foi por ser um carro velho e mal cuidado – aconteceu um acidente e este homem que ia ver a esposa morreu. E o carro não tinha seguro obrigatório, e começou a confusão. Durante mais de cinco anos a família da esposa e ela própria, pressionaram para arrancar dinheiro, levaram processos à justiça, tomaram terras, e nada os parecia contentar. Enfim, depois de tudo e de uma grande indenização, finalmente eles pararam de exigir. E tudo isso porque foi servir a um homem que, na verdade, queria mesmo é ver a esposa para transar com ele, nada mais que isto.
 
     Sim, alguns homens são serviçais, mas com certeza, as mulheres são mais solícitas e serviçais. As mães de um modo geral têm no servir aos filhos e aos esposos, um caminho fértil que tem dado o céu a muitas delas. Mas vejam, o simples servir aos seus, não é ainda prova deste amor que se doa, porque isso pode ser até intrínseco da nossa natureza animal. Também os animais das florestas, também as aves do céu, servem aos seus até limites extremos. Mas fazem isto como instinto de preservação, não como prova de amor. E assim, dos homens, inteligentes, que receberam uma alma – dom superior de Deus – é esperado algo muito maior e mais nobre.
 
     Na verdade, a doação que se espera dos filhos de Deus, é algo que ultrapassa todos os limites e vai até as últimas conseqüências. Se as mães servissem aos filhos como prova de amor, sem reclamar jamais – Maria nunca reclamou de coisa alguma – esta solicitude e esta entrega operariam verdadeiros milagres no seio das famílias. Na verdade, porém, as reclamações constantes, tornam a vida familiar estressante, até porque, grande parte das mães não consegue educar também os filhos para servir. De fato, uma mãe que não sabe instruir seus filhos quanto a suas obrigações para com os outros, acaba por se tornar uma escrava do lar, pois seus filhos, e mesmo o marido a escravizam!
 
     Ora, a verdadeira caridade do servir, somente se consuma na reciprocidade mútua, na gentileza permanente de ambas as partes, esposas e maridos, pais e filhos e vice e versa. Quando uma das partes interrompe o ciclo, imediatamente sobram ônus demais para uns e vantagens demais para outros. Então, dificilmente encontraremos mães que são capazes de suportar tudo isso, durante a vida inteira, sem externarem de alguma forma o seu desagrado, ou sem explodirem mais tarde em doenças somáticas, ou no tal stress moderno, quem sabe até em depressão profunda.
    
     Desta forma, uma mãe, um pai, jamais poderão pensar que é fazendo todas vontades de seus filhos, que lhes estarão dando uma prova de amor. Isso antes, é uma fábrica de tiranos, quando não de bandidos. Justo por isso o mundo não é solidário total, porque a imensa maioria das pessoas se acostumou a ser
servido, servindo o mínimo ou nada. E tal atitude, não se verifica somente em relação aos ricos, que têm posses, que podem pagar empregados, mas também aos menos favorecidos e pobres. É do berço que se deve educar para o servir e para a solidariedade.
 
     Vejam, é já no colo da mãe que a criança começa a delimitar seu campo e a sentir até onde ela pode exigir, sem dar nada em troca. É, então, também desde o berço que as mães devem começar a “torcer o pepino”, para evitar, de todas as formas, que a criança cresça sem a noção de servir, somente de querer para si, de ser atendida em tudo. E muitas vezes é com choro e lágrimas, birras e manhas, que eles conseguem ir muito além do desejável, tornando-se verdadeiros tiranos do lar. O mundo está cheio deles e justo por isso está tão mal.
 
     Da mesma forma as relações entre marido e mulher, já desde os primeiros dias do casamento e até antes – bem melhor – devem ser estabelecidos limites claros entre a ação de cada um e a ação conjunta para benefício de todos. Na verdade, já desde o namoro é que se formam os vícios, porque dificilmente os pares e casais se formam em cima do amor cristão e do servir mútuo, e sim no maior ou menor poder de coerção exercido por um deles, tanto homens, quanto mulheres. Quase sempre é a mulher quem se rebaixa, até porque coagida pela força, quando Deus os fez “homem e mulher” para o amor, para a entrega total, e para o mútuo servir.
 
     Na verdade, milhões de lares se desfizeram depois do processo liberalizante da mulher, que se julgava escrava da cozinha, quando na verdade era rainha do lar, foi assim que Deus a constituiu. Esta foi, com certeza, a maior erva daninha que o diabo conseguiu introduzir dentro das famílias, transtornando as relações familiares, pondo os filhos ao abandono e deixando os maridos mais livres para as relações extra conjugais. Em que número percentual aumentaram as traições mútuas depois disto?
 
     Ora, uma moça que luta muito para conseguir um homem, fácil se torna escrava dele e este não um marido, um esposo santo, mas um patrão irascível, o que é algo indigno! Da mesma forma o homem, se luta demais para ficar com a mulher “dos seus sonhos”, pode facilmente cair em concessões excessivas durante o namoro, e vir a se tornar capacho na vida familiar, escravo da mulher, o que é aviltante! Isso tudo acontece porque cada um tende a achar demasiado o que faz para o outro e mínimo o que recebe em troca. Na verdade nós não conseguimos pesar bem o valor das nossas ações e por isso é comum, as pessoas se sentirem injustiçadas. Aliás, quando medimos o valor de cada concessão nossa, estamos dando uma prova de não servir, mas de cobrança e exigência.  
 
     Servir, ajudar, participar da vida comunitária! Estes são caminhos a serem seguidos pelos filhos e filhas de Deus. A participação na comunidade é algo que nos exige muita doação e entrega, notadamente quando a função é exercida sem remuneração e quando exige da pessoa o dispêndio de muito tempo. No início da minha vida de casado, assumi uma série de funções na comunidade, em secretarias, em presidência, em direção e durante algum tempo preenchi todos os meus espaços. E tudo chegou a um talo ponto, em que me vi obrigado a dar um basta, e aos poucos me desvinculei de tudo.
 
     Na verdade, nestes sentido comunitário, até mesmo o servir tem limites, porque eu não posso dedicar minha vida a servir na comunidade, se deixo com isso de servir a meus filhos e milha família. Eu não posso jamais passar minhas noites em reuniões de clubes, de partidos políticos, de associações, de fundações e outras entidades sem fins lucrativos, quando deixo de me reunir com meus filhos, minha esposa, minha família. Para tudo tem um limite, e a família é mais importante.
 
    Também no serviço da Igreja, é necessário que nos empenhemos bastante. Existe uma grande diversidade de ministérios e TODOS são convidados e servir em pelo menos um destes ministérios. NINGUÉM, se pode considerar católico de verdade, quando se furta a participar de pelo menos
uma atividade na sua Igreja. Se não existe o ministério, ou a vaga, deve no mínimo existir no coração a abertura, o desprendimento e a vontade de ajudar, nas festas, nas promoções, nas pastorais, em tudo que diz respeito à vida eclesial.
 
     Mas que acontece? Acontece que alguns ficam sempre sobrecarregados de muitos fardos, porque centenas de outros não se dispõe a carregar fardo algum. Sim, é sabido que existem aqueles centralizadores, que se adonam de tudo, e não confiam nos outros. Esta gente é de fato perniciosa, porque não faz seu trabalho por amor, por caridade cristã nem porque faz de sua vida um humilde serviço, mas fazem para aparecer, para receber as loas e louvações do povo, e até como inveja, para evitar o sucesso de outros. Estas pessoas são na verdade malignas e são prejudiciais à Igreja e à coletividade.
    
     No entanto, o que se verifica na maioria dos lugares é justamente o contrário: muitas pessoas se furtam decididamente de prestar qualquer serviço ao bem comum, porque são egoístas ao extremo ou são preguiçosos demais. São pessoas que querem os serviços, sabem que todos precisam deles, mas jamais se prestam a ajudar, deixando tudo nas costas de uns poucos abnegados. Claro que muitas vezes falta um convite. Claro que outras tantas vezes falta a liderança que divide responsabilidades. Mas é a falta absoluta de caridade, o elemento pernicioso que coíbe a ação de servir, de doar-se pelos outros.
 
     Jesus, que é Deus, quando na terra nos deu inumeráveis exemplos de servir. Falo em servir, também fisicamente, e são exemplos a multiplicação dos pães, as pescas milagrosas e tantos outros que não estão relatados nos Evangelhos. Mas Ele não precisava fazer isto. Entretanto, vejam, até no futuro Novo Reino está dito que “Ele estará na nossa presença e nos servirá”. Que “estando eles ainda pensando e já serão atendidos” o que prova a continuidade do servir pelo sempre e eterno afora. Então, se na eternidade continuaremos a servir, por qual motivo não começar agora, para tornar o mundo mais humano, mais fraterno e mais irmão?
 
     Na eternidade serviremos a Deus. Os anjos servem a Deus! E Deus é tão perfeito e tão justo, que permitirá a todos, um crescer em alegria e graça, mesmo na eternidade, tudo dependendo de nosso desejo, ardente, forte, inquebrantável de amar e servir a Ele. De fato, na eternidade não viveremos o estático, a mesmice e a inoperância, mas deveremos e poderemos participar com Deus da renovação do Universo em mutação constante e até da criação de outros mundos, de acordo com o Plano e a Vontade criadora de Deus.
 
     Mas tudo isso somente acontecerá, na medida de nosso desejo ardente de O servir desde já – servindo também aos irmãos – jamais sendo apenas concessão de Deus sem a nossa vontade expressa e nossa ação efetiva. Então, por qual motivo não começamos já este exercício de servir incondicional, centrado no amor profundo, na humildade, força que se obtém somente pela oração? Se não começarmos já aqui, nesta vida, a exercitar esta humilde entrega a serviço dos outros, JAMAIS conseguiremos na eternidade galgar os passos necessários para termos a força de servir a Deus, num crescendo constante.  
 
     De fato, nenhum grau em virtude cresceremos na eternidade, se não dermos agora o passo decisivo neste sentido. Como já dissemos, Maria foi a serviçal por excelência. E tanto ela cresceu nesta virtude em vida, que continua na eternidade a ser a maior e a mais efetiva serviçal de Deus. Mais que os próprios anjos mais resplandecentes, mais que Miguel o Príncipe das Milícias Celestes, mais que todos aqueles que servem diante do Trono do Altíssimo e Onipotente,  a todos Maria suplantou e suplanta, eis que foi a ela que a Trindade encarregou da missão assombrosa de esmagar a cabeça da serpente.
 
     Quem não serve, é orgulhoso, e é, pois, a antítese de Maria Santíssima. O dragão infernal, Lúcifer, é o orgulho personificado, e foi por deixar de servir a Deus e se rebelar contra Ele, que se transformou em demônio. Ele não serve a ninguém,
nem a si mesmo. Penso que Lúcifer é tão orgulhoso, que se não tivesse subalternos, outros demônios de poder como Belzebu, satanás, e outros, ele não atenderia nem os pedidos daqueles que lhe pedem o mal para as outras pessoas. De fato, ele é tão desejoso de não servir, que muitas vezes se compraz em devolver o “feitiço ao feiticeiro”, para ridicularizar de quem se humilha e pede, para gozar da cara daqueles que o servem.
 
     Humildade e servir, são sinônimos e inseparáveis. Quem não é humilde não serve, quem não serve dificilmente consegue ganhar o céu. E se o ganha, é somente depois de um duríssimo purgatório, depois de muitos sofrimentos e dores, para que repare por seu orgulho, por sua inoperância, por sua falta de caridade, por sua falta de amor. E hoje, nos dias em que vivemos, não existe maior caridade nem maior servir, que procurar levar os outros à salvação; em buscar as almas para Deus; em procurar as ovelhas desgarradas e insensatas que andam por abismos de orgulho, em busca do ser, do ter e do poder.
 
     Quem, assim, se preocupa com a salvação dos outros, que lhes leva livros, bons textos e bons conselhos, acaba por exercer a maior das caridades e executar o maior dos serviços, eis que assim serve ao próprio Deus. De fato, agora, sabendo das coisas que estão para acontecer, não comporta mais corremos atrás daquilo que passa, entre um egoísmo e outro, porque o importante é cuidar da nossa alma e da alma dos outros. Não existe maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus irmãos, disse Jesus. Mas a grande e verdadeira vida que se pode dar a alguém é a vida eterna. Quem consegue uma conversão, consegue junto o Céu.
 
O tempo de servir é agora!
 
Arnaldo(Aarão)



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