recadosdoaarao



Revelações
Voltar




07/08/2008
Nasceu Maria


Revelações - Nasceu Maria
07/08/2008 14:30:49

Revelações - Nasceu Maria


NASCIMENTO DE MARIA.
A SUA VIRGINDADE NO ETERNO PENSAMENTO DO PAI
 
26 de agosto de 1944. Visão de Maria Valtorta. O Evangelho como me foi revelado,Volume 1, págs. 23 a 37.
 
Vejo Ana (Santa Ana, mãe de Nossa Senhora) sair no pomar. Apóia-se ao braço de uma parente certamente, porque se assemelha a ela. Está muito volumosa e parece afadigada talvez pelo afã, bem parecido a isto que me abate.
 
Embora o pomar esteja na sombra, o ar ali está quente, pesado. Um ar de se cortar como uma massa mole e quente, tanto está denso, sob um impiedoso céu de um azul que a poeira suspensa nos espaços o faz levemente embaçado. Faz tempo que deve haver estiagem, porque a terra, onde não é irrigada, é literalmente reduzida a uma poeira finíssima e quase branca. De um branco levemente tendente a um rosa-escuro, enquanto está marrom rosado escuro, por ser banhada, ao pé das plantas ou ao longo dos breves canteiros onde crescem fileiras de hortaliças, e em torno aos roseirais, aos jasmineiros, e outras flores e florzinhas, que estão especialmente diante e ao lado de uma parreira bonita que corta pela metade o jardim até ao início dos campos, já agora despojados de gramináceas. Também a relva do prado, que sinala o fim da propriedade, está chamuscada e rala. Só as margens dela, lá onde está uma cerca de espinheiro-alvar selvagem, já todo marcado pelos rubis dos pequenos frutos, a grama é mais verde e espessa, e lá, a procura de pasto e de sombra, estão as ovelhinhas com um pequeno pastor.
 
Joaquim (São Joaquim, pai de Nossa Senhora) está ao redor das fileiras e das oliveiras. Com ele estão dois homens que o ajudam. Mas, ainda que ancião, é ágil e trabalha com gosto. Estão abrindo pequenos cercados nos limites de um campo, para dar água às plantas sequiosas; e a água abre um caminho borbulhando entre a relva e a terra abrasada, e se estende em anéis, que por um momento parecem de um cristal amarelado e depois são só anéis escuros de terra úmida, em torno aos sarmentos e as oliveiras sobrecarregadas.
 
Ana lentamente, pela parreira sombreada, sob a qual abelhas de ouro zumbem gulosas do açúcar dos grãos de uva branca, vai à direção de Joaquim que quando a vê se apressa a encontrá-la.
 
"Chegastes até aqui ?".
 
"A casa está quente como um forno".
 
"E tu sofres".
 
"O único sofrimento desta minha última hora de grávida. O sofrimento de todos, homens e animais. Não te acalores demais, Joaquim".
 
"A água, que esperamos faz tempo e que de três dias para cá parecia bem próxima, ainda não veio, e o campo queima. É bom para nós que ali está a nascente próxima e é esta muito rica de águas. Abri os canais. Um pouco de refrigério para as plantas, que têm as folhas murchas e cobertas de poeira. Mas justo para tê-las em vida. Se chovesse!...". Joaquim, com a ânsia de todos os agricultores, perscruta o céu, enquanto Ana, cansada, se abana com um leque que parece feito com uma folha seca de palma, entrelaçada com fios multicolores que a fazem rígida.
 
A parente diz: "Lá, além do grande Hermon, surgem nuvens velozes. Vento do norte. Refrescará e talvez trará água".
 
"São três dias que se levanta e depois cai com o surgir da lua. Será ainda assim ". Joaquim está desanimado.”
 
" Voltemos para casa. Aqui também não se respira, e depois penso que seja bom voltarmos...", diz Ana, que parece ainda mais olivácea por causa de uma palidez que lhe veio sobre o rosto.
 
" Sofres ? ".
 
" Não. Mas sinto aquela grande paz que senti no Templo quando me foi dada a graça e que senti ainda quando soube que seria mãe. É como um êxtase. Um doce sono do corpo, enquanto o espírito jubila e se aplaca em uma paz sem comparação humana. Eu te amei, Joaquim, e quando entrei na tua casa e disse a mim mesma : "Sou esposa de um justo", tive paz, e assim todas as vezes que o teu amor provid
encial tinha cuidado com a tua Ana. Mas esta paz é diferente. Vejas, eu creio que é uma paz como aquela que devia invadir, como óleo que se expande e suaviza o espírito de Jacó, nosso pai, depois do seu sonho de anjos; e, melhor ainda, semelhante à paz jubilosa dos Tobias depois que Rafael se manifestou à eles. Se me abandono a apreciá-la, ela sempre cresce mais. É como se eu subisse pelos espaços azuis do céu... e, não sei porque, desde que eu tenho em mim esta alegria pacífica, eu tenho um cântico no coração, aquele do velho Tobias. Parece-me que tenha sido escrito para esta hora... para esta alegria... para a terra de Israel que a recebe...para Jerusalém pecadora e agora perdoada... mas... - mas não riais dos delírios de uma mãe... - mas quando digo : " Agradece o Senhor pelos teus bens e glorifica o Deus dos séculos, a fim de que reedificas em ti o  seu tabernáculo ", eu penso que aquele que reedificará em Jerusalém o Tabernáculo do Deus verdadeiro será este que está para nascer..., e penso ainda que não mais do que a Cidade santa, mas  pela minha criança seja profetizado o destino quando o cântico diz : "Tu brilharás com uma luz esplêndida, todos os povos da terra se prostrarão a ti, as nações virão a ti trazendo presentes, em ti adorarão o Senhor e julgarão santa a tua terra, porque dentro de ti invocarão o Grande Nome. Tu serás feliz nos teus filhos, porque todos serão abençoados e se reunirão ao lado do Senhor. Bem-aventurados aqueles que te amam e regozijam tua paz!...”“; e a primeira e regozijar sou eu, a sua mãe bem-aventurada...".
 
Ana empalidece e se inflama como algo trazido pela luz a um grande fogo e vice-versa, no dizer estas palavras. Doces lágrimas escorrem sobre suas faces e ela nem as percebe, e sorri na sua alegria. E assim vai em direção à casa, entre o esposo e a parente, que a escutam e calam-se comovidos.
 
Apressam-se porque as nuvens, impelidas por um vento forte galopam e crescem pelo céu, e a planície torna-se escura e estremece por um aviso de temporal. Quando alcançam à soleira da casa, um primeiro relâmpago lívido sulca o céu e o barulho do primeiro trovão parece o rufar de um enorme tambor que se mistura ao harpejo dos primeiros pingos sobre as folhas secas.
 
Entram todos e Ana se retira, enquanto Joaquim, alcançado pelos criados, fala, da porta, desta longa espera da água, que é uma benção para a terra sedenta. Mas a alegria se transforma em temor, porque vem um temporal violentíssimo com raios carregados de granizo. "Se a nuvem rompe, a uva e as oliveiras serão esmagadas como pela moenda. Pobres de nós!".
 
Joaquim tem uma outra ânsia, pela esposa para a qual chegou a hora de dar à luz o seu filho. A parente o tranqüiliza que Ana não sobre absolutamente. Ma sele está ansioso, e cada vez que a parente ou outras mulheres, entre as quais a mãe de Alfeu, saem do quarto de Ana para depois voltarem com água quente e bacias e linhos enxutos junto ao fogo, que brilha contente na lareira central em uma cozinha ampla, vai e pergunta, e não se acalma com suas afirmações. Também a ausência de gritos de Ana o preocupa. Diz: " Eu sou homem e nunca vi um parto. Mas lembro-me de ter ouvido dizer que a ausência de dores é fatal... ".
 
Vem a noite, antecipada pela fúria tempestuosa que violentíssima. Água torrencial, ventos, raios, ali tem de tudo, menos o granizo que foi cair em outra parte.
 
Um dos criados percebe esta violência e diz : " Parece que Satanás saiu do Inferno com seus demônios. Olha as nuvens negras! Sente que cheiro de enxofre está no ar, e assobios e sibilos e vozes de lamento e maldição. Se é ele, está furioso esta noite!".
 
Outro criado ri e diz: "Fugiu-lhe uma grande prêsa, ou Miguel o espancou com uma nova faísca de Deus, e ele tem chifre e rabo cortado e queimado".
 
Passa correndo uma mulher e grita : "Joaquim! Está para nascer! E foi todo rápido e feliz!" e desaparece com uma pequena ânfora entre as mãos.

 
O temporal cai improvisamente, depois dum último raio tão violento que arremessa contra as paredes os três homens; e na frente da casa, no chão do horto-jardim, fica como lembrança um buraco preto e fumante. E enquanto um gemido, que parece o lamento de uma rolinha que pela primeira vez não pia mais, mas arrulha, vem de lá da porta de Ana, um enorme arco-íris estende a sua listra em semicírculo sobre toda a amplidão do céu. Surge, ou pelo menos parece surgir, do cume do Hermon que, beijado por uma lama de sol, parece de alabastro de um branco-rosado delicadíssimo; levanta-se até o mais claro céu de setembro, e, atravessando por espaços limpos de toda impureza, sobrevoa as colinas da Galiléia e a planície que aparece, entre duas árvores de figo, que está ao sul e depois ainda um outro monte; e parece pousar a sua ponta final ao extremo horizonte, lá onde uma áspera cadeia de montanhas fecha qualquer outro panorama.
 
"Nunca vi tal coisa!".
 
"Olhai, olhai!".
 
"Parece que liga em um círculo, toda a terra de Israel, e já, mas olhai, ali já há uma estrela, enquanto que o sol ainda não desapareceu. Que estrela! Brilha como um enorme diamante!...".
 
"E a lua, lá, é toda plena, enquanto que ainda faltam três dias para a lua cheia. Mas olhai como resplandece!".
 
As mulheres chegam repentinamente, alegres com um embrulhozinho rosado entre tecidos alvos.
 
É Maria (Nossa Senhora), a Mãe! Uma Maria pequenina que poderia dormir entre o círculo de braços de um menino, uma Maria comprida ao máximo quanto um braço, uma cabeçinha de marfim tingido de um rosa tênue e da boquinha de carmim, que já não chora mais, mas faz o instintivo ato de sugar, tão pequena que não sabe como fará para pegar um mamilo, um narizinho diminuto entre duas pequenas faces arredondadas e , quando tocando-o, fazem abrir os olhinhos, dois pedacinhos do céu, dois pontinhos inocentes e azuis que olham, e não vêem, entre cílios delicados e de um loiro quase róseo, de tanto que é loiro. Também os cabelinhos sobre a cabecinha arredondada têm a veladura loiro-rosado de algumas qualidades de mel que são quase brancos.
 
No lugar de orelhas, duas conchinhas rosadas e transparentes, perfeitas. E por mãozinhas... o que são aquelas duas coisinhas que agitam-se pelo ar e depois vão à boca ? Fechadas como agora, dois botões de rosa musgo que separam o verde dos sépalos e lhes estende a seda de um tênue rosa; abertas como agora, duas pequenas jóias de marfim de alabastro ligeiramente rosado, com cinco romãs pálidas no lugar das unhazinhas. Como farão aquelas mãozinhas para enxugar tanto choro ?
 
E os pezinhos ? Onde estão ? Por enquanto são só um espernear escondido entre os linhos. Mas eis que a parente senta-se e a descobre... Oh! Os pezinhos! Compridos uns quatro centímetros, têm por planta, uma concha coralina, como dorso uma concha de um branco como a neve com veiazinhas azuis, por dedinhos das obras-primas de escultura liliputiana, eles também coroados por pequenos fragmentos de pálida romã. Mas como se encontrarão sandalinhas, quando aqueles pezinhos de boneca darão os primeiros passos,tão pequenos para poder estar naqueles pezinhos ? E como aqueles pezinhos farão tão áspero caminho e sustentar tanta dor debaixo de uma cruz ?
 
Mas agora isto não se sabe, e se ri e sorri do seu debater-se e espernear, das perninhas bonitas torneadas, das coxas pequenas que fazem covinhas e dobrinhas de tanto que são gorduchas, da barriguinha, uma taça emborcada do pequeno tórax perfeito sob cuja seda cândida se vê o movimento da respiração e certamente se ouve, como faz agora o pai feliz, ali apóia a boca em um beijo, bater um coraçãozinho...Um coraçãozinho que é o mais bonito que a terra tem nos séculos dos séculos, o único coração imaculado de um homem.
 
E as costas ? Eis que a viram, e se vê a forma dos rins e depois os ombros gorduchos e a nuca rosada tão forte que, eis que, a cabecinha se ergue sobre o
arco das pequenas vértebras, e parece a cabecinha de um pássaro que perscrute em redor o mundo novo que vê, e tem um gritinho de protesto por ser assim mostrada, Ela, a Pura e Casta, aos olhos de tantos, Ela que homem nenhum a verá nua, a Toda Virgem, a Santa e Imaculada. Cobri, cobri este botão de flor-de-lis que nunca se abrirá sobre a terra e que dará, ainda mais bonita que Ela, a sua Flor, sempre permanecendo botão. Só nos Céus o Lírio do Trino Senhor abrirá todas as suas pétalas. Porque no céu não há poeira de culpa que possa involuntariamente profanar aquele candor. Porque lá em cima deve ser acolhido, à vista de todo o Empíreo, o trinitário Deus que agora, entre poucos anos, ocultado em um coração sem mácula, estará Nela : Pai, Filho, Esposo.
 
Eis ali de novo entre os linhos e entre os braços do pai terreno, com quem Ela assemelha. Não agora. Agora é um esboço de homem. Eu digo que lhe assemelha já mulher. Da mãe não tem nada. Do pai a cor da pela e dos olhos, e certamente dos cabelos que, se agora são brancos, na juventude eram certamente loiros como o dizem as sobrancelhas; do pai as feições, tornadas mais perfeitas e gentis por Ela ser mulher, e "aquela" Mulher; do pai o sorriso e o olhar e o modo de mexer-se e a estatura. Pensando em Jesus, como o vejo, acho que Ana deu a sua estatura ao Neto (isto é, Jesus) e a cor marfim mais carregada da pele.Enquanto que Maria não tem aquela imponência de Ana, um palmo mais alta e flexível, mas a gentileza do pai.
 
As mulheres também falam do temporal e do prodígio da lua, da estrela, do imenso arco-íris, enquanto junto ao Joaquim entram onde está a mãe feliz e lhe entregam a criançinha.
 
Ana sorri a um pensamento seu: "É a Estrela"diz. "O seu sinal está no céu. Maria, arco de paz! Maria, minha estrela! Maria, lua pura!Maria, nossa pérola!".
 
"Chama-se Maria ?".
 
"Sim. Maria,estrela e pérola e luz e paz..."
 
"Mas também quer dizer amargura...Não temes trazer-lhe desventura ? ".
 
"Deus é com Ela. Já o era sua antes de ser. Ele a conduzirá pelos seus caminhos e toda amargura se transformará em um paradisíaco mel. Agora sejas da tua mãe... ainda por um pouco, antes de seres toda de Deus...".
 
E a visão termina sobre o primeiro sono de Ana mãe e de Maria criança.
 
 
 
 
 
27 de agosto de 1944.
 
 
Jesus diz:
 
"Surge e apressa-te pequena amiga. Tenho um desejo ardente de te levar Comigo para o azul paradisíaco da contemplação da Virgindade de Maria. Saírás com a alma jovem como se tu também fosses criada há pouco pelo Pai, uma pequena Eva que ainda não conhece a carne. Sairás com o espírito repleto de luz, porque tu mergulharás, na contemplação da obra-prima de Deus. Sairás com todo o teu ser saturado de amor, porque compreenderás como Deus sabe amar. Falar da concepção de Maria, a Sem Mácula, quer dizer mergulhar-se no azul, na luz, no amor.
 
Vem e lê as suas glórias no Livro do Avô: "Deus me possuiu no início de suas obras, desde o princípio, antes que fosse feita a terra, ainda não existiam os abismos e eu já era concebida. Nem ainda as nascentes das águas se transbordavam e os montes tinham-se erguido em suas grandes dimensões, nem as colinas eram cadeias montanhosas ao sol, que eu era gerada. Deus ainda não tinha feito a terra, os rios, e as bases do mundo, e eu era. Quando preparava os céus eu estava presente, quando com lei imutável fechou sob a orla celeste o abismo, quando tornou estável no alto a abóbada celeste  suspendeu as fontes das águas, quando fixava ao mar os seus confins e dava leis às águas de não passar os seus limites, quando assentava os fundamentos da terra, eu estava com Ele a dispor todas as coisas. Sempre na alegria brincava diante Dele continuamente, brincava no universo...". Aplicaram a Sabedoria, mas falam Dela: a bonita Mãe, a santa Mãe, a virgem Mãe da Sabed
oria que sou Eu que te falo.
 
Quis que tu escrevesses o primeiro verso deste hino no início do livro que fala Dela, para que fosse confessada e percebida a consolação e a alegria de Deus; a razão de seu constante, perfeito, íntimo regozijo deste Deus uno e trino, que vos guia e ama e que do homem teve tantas razões de tristeza; a razão pela qual perpetuou a raça, mesmo quando, à primeira prova, merecia ser destruída; a razão do perdão que tivera.
 
Ter Maria que o amasse. Oh! bem merecia criar o homem, e deixá-lo viver, e decretar perdoá-lo, para ter a Virgem bonita, a Virgem Santa, a Virgem imaculada, a Virgem enamorada, a Filha dileta, a Mãe puríssima, a Esposa amorosa! tanto e mais vos deu e vos daria Deus para poder possuir a Criatura das suas delícias, o Sol do seu sol, a Flor do seu jardim. E tanto continua a dar-vos por Ela, a pedido Dela, pela alegria Dela, porque a sua alegria se derrama na alegria de Deus e a aumenta de esplendor que enchem de faíscas a luz, a grande luz do Paraíso, e cada cintila é uma graça ao universo, à raça do homem, aos bem-aventurados, que respondem-lhes com um grito radiante de aleluia a cada  geração de milagre divino, criado pelo desejo de Deus trino de ver o cintilante riso de alegria da Virgem.
 
Deus quis colocar um rei no universo que Ele criou do nada. Um rei que, pela natureza da matéria, fosse o primeiro entre todas as criaturas criadas com matéria e dotadas de matéria. Um rei que, pela natureza do espírito, fosse pouco menos que divino, fundido na Graça como era na sua inocente primeira jornada. Mas a Mente suprema, da qual são notórios todos os acontecimentos mais distantes nos séculos, cuja vista vê incessantemente tudo quanto era, é, e será; e que, enquanto contempla o passado e observa o presente, eis que aprofunda o olhar no último futuro e não ignora como será a morte do último homem, sem confusão nem descontinuidade, não ignorou nunca que o rei criado por Ele, para ser semidivino ao seu lado no Céu, herdeiro do Pai, chegado adulto no seu Reino, depois de ter vivido na casa da mãe - a terra com que foi feito - durante a sua infância de menino do Eterno pela sua jornada sobre a terra, teria cometido contra si mesmo o delito de matar-se na Graça e o latrocínio de furtar-se ao Céu.
 
Por que então o criara ? Certamente muitos se perguntam isto. Teríeis preferido não existir ? Não merecia, também por si mesma, tão pobre e nua, e que se fez amarga pela vossa maldade, por ter vivido esta jornada, para conhecer e admirar o Bonito infinito que a mão de Deus semeou no universo ?
 
Para quem teria feito estes astros e planetas que deslizam como setas e flechas, riscando o arco do firmamento, ou que se vão, e aparentemente lentos, majestosos na sua corrida como bólidos, presenteando-vos com luzes e estações como se fossem eternos, imutáveis e ainda que sejam em contínua mudança, oferecendo-vos uma página nova para ser lida sobre o azul, toda noite, todo mês, todo ano, quase como se quisessem dizer-vos : "Esquecei-vos do cárcere, dei as vossas gravuras repletas de coisas obscuras, podres, sujas, venenosas, enganosas, blasfemadoras, corruptoras e elevai, ao menos com o olhar na ilimitada liberdade dos firmamentos, fazei uma alma azul olhando tão grande serenidade, fazei-vos uma reserva de luz para levar à vossa prisão escura, lede a palavra que nós escrevemos cantando o nosso coro sideral, mais harmonioso do que aquele acompanhado por um órgão de catedral, a palavra que nós escrevemos brilhando, a palavra que nós escrevemos amando, visito que sempre temos presente Aquele que nos quis dar a alegria de existir, e o amamos por ter nos dado este ser, este esplendor, este deslizar, isto de sermos livres e belos em meio a este azul suave, além do qual vemos um azul ainda mais sublime, o Paraíso, e do qual cumprimos a segunda parte do preceito de amor amando a vós, o nosso próximo universal, amando-vos  ao vos prestarmos guia e luz, calor e beleza.Lede a palavra que nós  dizemos, e é aquela sobre o qual re
gulamos o nosso canto, o nosso resplandecer, o nosso riso: Deus ? "
 
Para quem teria feito aquele líquido azul, que é um espelho para o céu, um caminho para a terra, sorriso de águas, voz de ondas, palavra também essa que como os sussurros de seda farfalhando, com risadinhas de crianças serenas, com suspiros de velhos que lembram e choram, com bofetões violentos e com chifradas, mugidos e estrondos, sempre fala e diz: "Deus ? ". O mar é para vós, como o são o céu e os astros. E com o mar os lagos e os rios, os pântanos e os riachos e as nascentes puras, que servem a todos para transportar-vos, nutrir-vos, dessedentar-vos e vos purificar, e que vos servem, servindo o Criador, sem saírem para fora de seus limites.
 
Para quem teria feito todas as inumeráveis famílias dos animais, que são flores que voam cantando, que são servos que correm, que trabalham, nutrem e recreiam a vós : os reis ?
 
Para quem teria feito todas as inumeráveis famílias das plantas, e das flores que parecem borboletas, que parecem jóias e imóveis passarinhos, dos frutos que parecem os cofres de pedras preciosas, que são tapetes aos vossos pés, proteção às vossas cabeças, recreação útil, alegria para a mente, membros, vista e olfato ?
 
Para quem teria feito os minerais nas entranhas da terra, os sais dissolvidos nas fontes de águas geladas ou ferventes, as fontes sulfurosas, as iodadas, as alcalinas ? Não teria sido para que de tudo gozasse alguém, que não era Deus, mas filho de Deus ? Alguém : o homem.
 
Para a alegria de Deus, para as necessidades de Deus, nada era preciso. Deus se basta a Si mesmo. Não tem que se contemplar, abençoar-se, para nutrir-se, para viver e repousar-se. Tudo o que foi criado não aumentou de um átomo a sua infinita alegria, sua beleza, seu poder. Mas tudo Ele fez pela sua criatura, que Ele quis colocar como rei na obra feita por Ele : o homem.
 
Para ver tão grandes obras de Deus e por reconhecimento para com seu poder, que vo-las dá, vale a pena viver. E por serem viventes deveis ser gratos. Deveríeis ter sido assim gratos, mesmo se não tivésseis sido redimidos, não antes do fim dos séculos, porque não obstante tenhais sido nos Primeiros e os sejais, singularmente, até hoje prevaricadores, luxuriosos, homicidas,Deus ainda vos concede sabor de gozar das belezas do universo e da bondade do universo, e vos trata como se fosseis bons, filhos bons aos quais tudo é ensinado e concedido, a fim de tornar-lhes mais doce e sadia a vida. Quanto sabeis, vós o sabeis pela luz que Deus vos deu. Tudo quanto descobris, vós o descobris porque Deus vô-lo indica. No Bem. Porque os outros conhecimentos e descobertas, que Têm o sinal do mal, vêm do Mal supremo : Satanás.
 
A Mente suprema, que nada ignora, antes ainda que o homem existisse, sabia que o homem, por si mesmo, teria sido um ladrão e um homicida. E, já que a Bondade eterna não tem limites no ser boa, antes que acontecesse a Culpa, pensou no meio para anular a Culpa. E o meio seria : EU. E o instrumento para fazer do meio um instrumento operante seria : Maria. Assim é que a Virgem foi criada no Pensamento sublime de Deus.
 
Todas as coisas foram criadas para Mim, Filho dileto do Pai. Eu, como Rei, deveria ter tido sob os meus pés de Rei divino tapetes e jóias como nenhum palácio real jamais teve, e cantos e vozes, servos e ministros ao redor de minha pessoa, e tão numerosos, como nenhum soberano jamais teve, e flores e pedras preciosas, e todo o sublime, o grandioso, o gentil, o minucioso, tudo o que é possível ir buscar no Pensamento de um  Deus .
 
Mas Eu devia ser Carne, além de ser Espírito. Carne, para salvar a carne. Carne para sublimar a carne, levando-a para o Céu, muitos séculos antes da hora. Porque a carne, habitada pelo espírito, é a obra-prima de Deus, e por ela é que o Céu fora feito. Para ser Carne, eu tinha necessidade de uma Mãe. Para ser de Deus, eu tinha necessidade de que meu Pai fosse Deus.
 
Eis que, então, Deus c
riou para Si uma Esposa, e lhe disse: "Vem comigo. A meu lado, vê tudo quanto Eu faço pelo nosso Filho. Olha e jubila-te, Virgem eterna, Menina Eterna, que o teu riso encha todo este empíreo, e dê aos anjos a nota inicial, e ensina ao Paraíso uma harmonia celeste. Eu olho para ti. E te vejo tal qual serás, ó Mulher imaculada que, por enquanto, es apenas espírito, o espírito em que me deleito. E olho para ti, e dou o azul do teu olhar ao mar e ao firmamento, a cor dos teus cabelos ao trigo, a tua candura ao lírio, o tom róseo à rosa, semelhante à tua pele de seda. Imito nas pérolas os teus dentes graciosos; olhando tua boca, faço os doces morangos, ponho na voz dos rouxinóis as tuas notas, e na das rolinhas o teu pranto. E é ainda lendo os teus futuros pensamentos, ouvindo as palpitações do teu coração, que eu encontrei os modelos de arte para criar. Vem, minha Alegria! Habita os mundos para divertimento teu, enquanto fores a luz que se move em meu Pensamento, teus hão de ser os mundos pelo teu sorriso, tuas belas formações das estrelas e o colar dos astros todos. Coloca a lua sob os teus pés, cinge-te com o cinto de estrelas da Via Láctea. São para ti as estrelas e os planetas. Vem e diverte-te, vendo as flores que serão o divertimento do teu Menino, e servirão de almofada para o Filho do teu ventre.Vem , e vê como se criam as ovelhas e os cordeiros, as águias e as pombas. Fica perto de mim, enquanto eu, faço como uns vasos, os mares e os rios, enquanto ergo as montanhas e as enfeito com a neve e as florestas, enquanto semeio as searas, as árvores, as videiras, enquanto faço para ti a oliveira, minha Rainha de Paz, para ti a videira, meu Sarmento que levará o Cacho eucarístico. Corre, voa, jubila-te, ó minha Beleza, e que o mundo todo, que vai sendo criado de hora em hora, aprenda contigo a me amar, ó Amorosa, e se torne mais bonito com o teu sorriso, ó Mãe do meu Filho, Rainha do meu Paraíso, Amor do teu Deus". E ainda, vendo o Erro, e olhando para a Sem Erro: "Vem a Mim, tu que anulas a amargura da desobediência humana, da fornicação humana com Satanás e da humana ingratidão. Eu terei contigo a desforra sobre Satanás".
 
Deus, Pai Criador, criara o homem e a mulher com uma lei do amor tão perfeita, que dela não podeis, nem ao menos compreender as perfeições. E vós vos enganais ao pensar como teria aparecido a raça humana se o homem não o tivesse alcançado pelo ensinamento de Satanás.
 
Olhai as plantas que produzem fruto e semente. Por acaso elas conseguem ter semente e fruto por meio de uma fornicação ou de uma fecundação em cada cem encontros conjugais ? Não. Da flor masculina sai o pólen e, guiado por um complexo de leis meteóricas e magnéticas, vai ao ovário da flor feminina. Esta se abre, e o recebe, e produz. Não se suja e o rejeita depois, como vós fazeis, para poderdes gozar, no dia seguinte, da mesma sensação. Produz; e, até a próxima estação, não floresce e, quando floresce, é para reproduzir.
 
Olhai os animais. Todos. Já vistes algum animal, macho ou fêmea, ir um ao outro para algum abraço estéril, ou só para algum encontro lascivo ? Não. De perto ou de longe, voando, rastejando, pulando ou correndo, eles vão, quando chega a hora, ao rito fecundativo, e não se subtraem a isso para ficarem só no prazer, mas vão além, vão até às conseqüências sérias e santas, que conduzem à geração da prole, o único escopo que, no homem, semideus pela origem de Graça que restituí inteira, deveria fazê-lo aceitar a animalidade do ato necessário, uma vez que descestes um grau para o lado animal.
 
 
Vós não fazeis como as plantas e os animais. Vós tivestes por mestre Satanás, e quisestes por mestre, e ainda o quereis. As obras praticais são dignas do mestre que quisestes ter. Mas, se tivésseis sido fiéis a Deus, teríeis tido a alegria de filhos, santamente, sem dor, sem vos esgotardes em cópulas obscenas, indignas, que os próprios animais
não conhecem, os animais que não teêm uma alma racional e espiritual.

 
Ao homem e à mulher, depravados por Satanás, Deus quis opor o Homem nascido de Mulher tão purificada por Deus, a ponto de poder gerar sem ter conhecido homem. Flor que gera flor, sem necessidade de semente, mas apenas com o beijo do Sol sobre o cálice inviolado do Lírio que é Maria.
 
A desforra de Deus!
 
Solta os teus silvos de inveja, ó Satanás, enquanto ela está nascendo. Esta Menina te venceu! Antes que tu fosses o Rebelde, o Tortuoso, o Corruptor, já estavas vencido, e Ela é a tua Vencedora. Mil exércitos alinhados nada podem contra o teu poder, e contra as tuas couraças caem as armas das mãos dos homens, ó Perene, e não há vento que possa dispersar o mau cheiro do teu hálito. No entanto, este calcanharzinho de criança, tão rosado, que parece o interior de uma camélia também rosada, que é tão liso e tão macio, que em comparação com ele a seda é uma coisa áspera, que é tão pequenino, que poderia caber no cálice de uma tulipa e usá-lo como um sapatinho, eis como ele te pisa sem medo, e te confina em teu antro. Eis que só o seu vagido já te põe em fuga, a ti que não tens medo dos exércitos, e o hálito dela purifica o mundo do teu fedor. Estás derrotado. Só o nome dela, só o seu olhar, só a sua pureza já são uma lança, um fulgor de raio, uma enorme pedra que te transpassam, que te abatem, que te aprisionam no teu covil do Inferno, ó Maldito, que tiraste a Deus a alegria de ser Pai de todos os homens criados.
 
Foi inútil, pois, tê-los corrompidos, a estes que haviam sido criados inocentes, levando-os a conhecer e a conceber, através das sinuosidades da luxúria privando a Deus, em suas diletas criaturas, de ser o doador dos filhos, segundo regras que, se tivessem sido respeitadas, teriam mantido sobre a terra um equilíbrio entre os sexos e as raças, capaz de evitar guerras entre os povos e desventuras entre famílias.
 
Obedecendo, teriam conhecido o amor. E, ainda mais, só obedecendo é que teriam conhecido e conservado o amor. Uma posse plena e tranqüila desta emanação de Deus, que do sobrenatural desce ao inferior, para que também a carne se alegre santamente, esta que está ligada ao espírito, criada pelo Mesmo que criou o espírito.
 
Agora o vosso amor, ó homens, os vossos amores o que são? Ou libidinagem vestida de amor, ou medo insanável de perder o amor do cônjuge, ou pela libidinagem própria, ou de outros. Já não estais mais seguros quanto à posse do coração  do esposo ou da esposa, desde quando a libidinagem entrou neste mundo. Tremeis, chorais e tornais-vos loucos de ciúmes, e até assassinos 'às vezes para vingar alguma traição, desesperados outras vezes, ou abúlicos e até dementes.
 
Eis o que fizestes, Satanás, aos filhos de Deus. Estes, que corrompestes, teriam conhecido a alegria de ter filhos sem sentirem dor, a alegria de nascer sem o medo de morrer. Mas agora estás vencido em uma Mulher e por uma Mulher. De agora em diante, quem a amar, tornará a ser de Deus, superando as tuas tentações, para poder imitar a sua pureza imaculada. De agora em diante, não mais podendo conceber sem dor, as mães a terão por guia e os moribundos por mãe, sendo doce para eles morrer sobre aquele seio, que é um escudo contra ti, Maldito, e proteção, diante do julgamento de Deus.
 
Maria, minha pequena voz, vistes o nascimento do Filho da Virgem e o nascimento da Virgem para o Céu. Viste, pois, que os sem culpa é desconhecido o castigo de dar a vida e também o sofrimento de dar-se ‘a morte. Mas, se à inocentíssima Mãe de Deus foi reservada a perfeição dos dons celestes, a todos, que nos Primeiros tivessem permanecido inocentes e filhos de Deus, ter-lhes-ia sido possível o gerar sem dor, como era justo, por terem sabido unir-se e conceber sem luxúria, e morrer sem afã.
 
A sublime desforra de Deus sobre a vingança de Satanás foi a de elevar a perfeição da criatur
a dileta a uma super-perfeição, que fosse capaz de anular, pelo menos Nela, toda lembrança de humanidade, que fosse suscetível ao veneno de Satanás, e para qual, não de um casto abraço de homem, mas de um divino amplexo, que faz empalidecer o espírito em um êxtase de Fogo, é que lhe teria vindo o Filho.
 
A Virgindade de Maria!
 
Vem. Medita neste virgindade profunda, que produz em quem a contempla vertigens de abismo. Que é  a pobre virgindade forçada da mulher que por nenhum homem foi desposada ? É menos do que nada. Que é a virgindade daquela que quer ser virgem, para ser de Deus, mas sabe sê-lo só no corpo e não no espírito, no qual deixa entrar muitos pensamentos estranhos, acaricia  e aceita as carícias de pensamentos humanos ? Isto já começa a ser uma máscara de virgindade, mas muito pouco ainda. Que é a virgindade de uma enclausurada, que vive só para Deus ? É muito. Mas, mesmo assim, ainda não é uma virgindade perfeita, se comparada com a da minha Mãe.
 
Sempre existiu um enlace, até mesmo no mais santo. É o que vem  da origem, entre o espírito e a culpa. É o que só o  Batismo desfaz. Desfaz, mas, assim como  em uma mulher separada do marido pela morte, não restitui mais a virgindade total, como era dos nossos Primeiros ( Adão e Eva), antes do pecado. Uma cicatriz permanece, e dói para se fazer lembrada, e está sempre pronta para reabrir-se em ferida, como certas doenças que periodicamente voltam com seu vírus, ainda mais ativos.Na Virgem não fica esse sinal de um enlace dissolvido com a culpa.  Sua alma apresenta-se bonita e intacta, como quando estava na mente do Pai, e reúne em Si todas as Graças.
 
É a Virgem. É a Única. É a Perfeita. É a Completa. É como foi Pensada. Como foi Gerada. Como Permaneceu. Como foi Coroada. É Eternamente assim.É a Virgem. É o abismo da intocabilidade, da pureza, da graça que se perde no Abismo do qual brotou : em Deus, intangibilidade, Pureza e Graça Perfetíssimas.
 
Aí está a desforra do Deus Trino e Uno. Defronte de suas criaturas profanadas, Ele ergue esta Estrela de perfeição. Contra a curiosidade doentia, esta esquiva, que se dá por bem recompensada com poder amar Deus. Contra a ciência da mal, está sublime Ignorante. Nela não existe somente a ignorância do que é um amor aviltado; não há também somente a ignorância do amor que Deus havia dado aos esposos. E mais ainda. Nela há a ignorância das concupiscências, herança do Pecado. Nela há somente a sabedoria gélida, mas incandescente, do Amor divino. Fogo que protege de gelo a carne, para que ela seja como espelho transparente no altar onde um Deus se desposa com uma Virgem, e não se avilta, porque sua Perfeição se abraça com Aquela que, como convém a uma esposa, só em um ponto é inferior ao esposo, pois lhe está sujeita por ser Mulher, mas Ela é sem mancha, como Ele é”. (Gentileza Carlos Cristian)


Artigo Visto: 3298

ATENÇÃO! Todos os artigos deste site são de livre cópia e divulgação desde que sempre sejam citados a fonte www.recadosdoaarao.com.br


Total Visitas Únicas: 4.203.976
Visitas Únicas Hoje: 65
Usuários Online: 34