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Montanha
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24/06/2005
Aceitar-se


Montanha - 09 Aceitar-se
Montanha - 09 Aceitar-se

8ª ACEITAR-SE (11/06/04)
 
     Deus fez todas as coisas absolutamente perfeitas. E se fez tudo perfeito, certamente que também nós mesmos formamos um conjunto perfeito, aos olhos Dele, o melhor possível, dadas as circunstancias particulares de cada um e, acima de tudo, dado o projeto superior e especial que Deus tem para cada um de nós. Tudo Ele dispôs para sermos felizes como Ele nos fez e como somos. Isso quer dizer que o nosso corpo, inteiro – corpo, mente, espírito, alma – foi arquitetado pelo Criador de acordo com as características especiais da nossa pessoa, de nosso ser, de nossa personalidade, de nossa alma, e se Deus o achou bom, quem somos nós para dizer o contrário ou exigir diferente?
 
     Entretanto, vejam o mundo em que caos está metido. A maioria das pessoas não se aceita como é, nunca está satisfeita com o seu próprio corpo, quem é gordo quer ser magro, quem é magro quer ser mais gordo, quem é bonito não fica satisfeito, quem é feio quer ser belo, quem é inteligente gostaria de ser mais, quem é tolo quer ser ladino, quem é velho quer ser menino, quem é novo quer ser velho. Enfim, são extremamente poucos os que jamais se preocuparam com sua aparência física – seios, narizes, cor dos cabelos e cor da pele, mãos e pés grandes ou pequenos – que estão completamente felizes como Deus os fez e que jamais desejaram ser mais bonitos ou melhores do que são de fato. E assim, por detalhes ínfimos, bestas, milhares de pessoas vivem completamente infelizes.
 
     Existe um grande ardil do demônio para tornar infelizes os filhos de Deus. Por ele as pessoas adquirem um complexo de inferioridade – ou de orgulho – tão nefasto, que as torna em pessoas muito fechadas, angustiadas, nervosas que não se aceitam como o são, de tal forma que isso somente agrava mais e mais o seu problema. Muitas até vivem a blasfemar contra Deus pelo seu estado. Assim, o pobre tem vergonha de seus pertences, o aluno menos capacitado tem vergonha de seus poucos dons, a menina mais feia diminui-se diante dos outros, o rapaz menos belo tem dificuldade de se achegar às meninas, porque se acha um horror, e vice e versa e assim vai. Além disso, é comum agora as pessoas se mutilarem com ferros espetados no corpo, também se encherem de tatuagens e pinturas na pele, ambas coisas abomináveis a Deus. Nada parece frear os modismos diabólicos que a cada dia surgem, por pessoas querendo mudar o visual e a imagem. E impressão é que querem mudar, porque não querem mais ser filhos e filhas de Deus. 
 
     Na verdade, estudar todos estes complexos – diria, melhor: tipos de insensatez ou provas de loucura – com certeza daria para encher livros e enciclopédias, tantos os exemplos que se poderia citar. Uma simples manchinha na pele de uma moça, pode a colocar no fundo do abismo se não conseguir extirpa-la com cirurgia. Um nariz menor ou maior, mais redondo ou mais bicudo, podem fazer a infelicidade plena de um garoto ou de uma garota. Quanto a estas, mais vaidosas, um seio menor ou maior, uma celulite a mais que o normal, seja lá o que for em termos destas besteiras, pode deixar certas pessoas num estado de profunda tristeza, melancolia e auto rejeição. Enfim, muito poucos são os que se sentem felizes consigo mesmo. Na verdade, tudo isso é completa e absurda tolice.
 
     Verdade, todas estas coisas imobilizam as pessoas. Dão a elas uma insegurança muito grande, e as enchem de complexos absurdos. No fundo, qualquer pessoa que queria ser diferente, é porque se mirou em outras e desejou ter aparência igual. Isso em síntese é inveja, um pecado gravíssimo. Satanás também teve inveja de Deus e veja no que deu.  Pessoalmente, em minha juventude e já na adolescência, eu era um poço de insegurança, devido ao fato de não me aceitar como era, pois queria ser mais bonito. Inveja e orgulho! Na verdade, quando criança – antes de ir ao seminário – eu era muito seguro e bem “despach
ado”. Devo lembrar que lá no seminário éramos mantidos em clausura e falar com uma mulher dava até castigo. Fiquei lá três anos, imaginem no que deu!
 
      Mas à medida que fui crescendo, devido a minha condição de filho de agricultor – também lá no seminário o fato de ser filho de agricultor era fator diminutivo – fui sentindo um certo desprezo das pessoas por esta profissão e, realmente, naquela época uma moça de cidade não se casava jamais com um “colono”. Acreditem, estas coisas me deixavam profundamente infeliz, e tolamente, também minha beleza exterior eu questionava. Eu muitas vezes imaginava e desejava ser mais bonito, para poder conquistar muitas mulheres. Estes arroubos e sonhos da juventude, quem não os tem? Que tolice! No tempo certo Deus proveu tudo e hoje sou completamente feliz como sou!
 
     Na verdade, mesmo no mundo de hoje com todos os seus modernismos e muito mais facilidade de comunicação, está cada vez mais difícil ficar fora disto, porque o fator insegurança é uma das armas mais terríveis de satanás para imobilizar os homens. Vou abrir um parêntesis, para mais uma historinha de minha vida que serve de exemplo. Penso que todos deveriam passar pela mesma experiência, porque o que dela resultou foi fantástico para mim. Ela explica que o não estar de bem consigo mesmo, não se aceitar como Deus nos fez e querer vestir-se bem, é prova antes de insegurança, nem sempre de vaidade.
 
     Como disse antes, quando ainda jovem – e inseguro ao extremo – eu tinha uma vergonha assombrosa de minhas roupas e jamais me apresentava no meio dos outros com algo que me diminuísse. Então fui estudar na cidade, entretanto tinha apenas uma calça da moda. As outras eram de “colono”. Resultado: eu ia para o colégio, todos os dias, com a mesma calça, durante a semana inteira, e no sábado pedia a minha tia que a lavasse, para que já no domingo a tivesse em forma para a Missa. Preferia aparecer todos os dias com a mesma calça, que me apresentar com uma fora da moda. Lembram daquela calça “boca de sino”, com sapato de tacão altíssimo? Era esta a “moda”! E calça de listra, imaginem o quadro! De tanto a usar, creio que não durou mais que três meses e tive que malhar carpindo chácaras para os vizinhos, a fim de poder comprar outra. Sim, ela furou nos joelhos quando um dia caí de bicicleta!
 
     Isso durou uns três anos, esta insegurança absurda. Até que um dia, estudando na Universidade – que nunca terminei – fui confrontado a um desafio assombroso para mim: ter que dar uma aula, diante daqueles meus colegas – bem vestidos e na moda – entre eles empresários, contadores formados, diretores grandes de empresas, todos parecendo sumidades em suas áreas, pomposos, cheios de si, além é claro, do professor tido como sumidade no assunto. Era assim: ou eu dava a tal aula e bem, ou adeus passar naquela matéria. Nunca me senti mais miserável na vida, mais diminuído, mais arrasado.
 
     Eu fazia parte de uma equipe de sete pessoas que recebeu o encargo de falar sobre o Imposto de Renda da Pessoa Física. Quando nos reunimos para tratar do assunto, eles de saída me jogaram a pior parte, e ufanamente se estufaram, cada um mostrando suas próprias capacidades verbais, sua desenvoltura, enfim, foi seis a zero: Seis “eles” e zero “eu”. Resultado: mais arrasado fiquei, mais diminuído ainda, até porque apenas naquele tempo eu começava a conseguir, com meus salários minguados, andar meio “na moda”. Já tinha duas calças agora e minhas compras eram sempre na loja da elite! Que tolo!
 
     Cada um de nós deveria falar pelo menos meia hora sobre seu assunto, senão toda a equipe perderia pontos. Chegou o dia! E foi chamado o primeiro deles, fogoso, pomposo... Agarrou-se com as duas mãos na escrivaninha, deu uma olhada para a turma e disse apenas três palavras: Eu... não... consigo! E foi aquele gelo, aquele pasmo na turma! Já me considerei reprovado de antemão. Se o mais verboso deles pifava, que seria de mim?
 
     Então, o professor interveio, amenizou as coisas um pouco e chamou o segundo de meus pomp
osos colegas. Ele respirou fundo... e falou exatos... um minuto e meio. E encalhou! E assim foram sendo um fiasco completo, o terceiro, o quarto e o quinto. Todos empacaram! Nenhum deles passou dos cinco minutos. E o primeiro dia de aula acabou. Felizmente... para eles! Mas eu era por ordem o sexto! Ai que desespero!
 
     Quando eu ia para casa, de ônibus, vocês não imaginam o turbilhão de pensamentos que me acometeu. Tremia inteiro, só de pensar em ter que enfrentar aquela turma e aquele professor e suava frio. Mal dormi naquela noite, pensando no que fazer. Entretanto, eu teria uma semana para reagir. E consegui – pela graça de Deus, embora naquele tempo eu rezasse pouco – colocar em tempo a cabeça no lugar. Eu havia percebido um defeito em todos os meus colegas anteriores: o início! Eles pecavam no início da apresentação! E como não conseguiam arrancar, acabavam empacando como um burro negado e não conseguiam explicar nada.
 
     Então, fui para frente da minha máquina, respirei fundo e comecei a escrever tudo aquilo que eu precisava dizer, palavra por palavra, ponto a ponto, tudo muito pausado e consciente. Escrevi um pouco mais de meia página de “abertura”, e pensei, o resto será como Deus quiser. Na verdade, se apenas eu ficasse naquilo que havia escrito, se conseguisse ler aquilo, já teria dado a melhor de todas as aulas. Eu só precisava me controlar naqueles cinco ou dez minutos iniciais, só isto.
 
     Quando a aula começou, a nossa turma, para ganhar tempo, começou a encher o professor de perguntas idiotas, e com isso ganhou quinze minutos. Eles pensavam – os meus colegas de equipe – que se eles, que eram “bons” e bem falantes, tinham se saído mal, eu no mínimo iria fazer xixi nas calças diante deles, e de fato, temiam por mim. Eram todos bons colegas! E foi tal que, passados estes 15 minutos mais angustiosos de minha vida – eu tremia até bater o queixo – finalmente o professor me convocou: É a sua vez! Ai, ai, ai!
 
    Fui para frente da turma, como se estivesse indo para o cadafalso. Devia estar mesmo feito um cadáver! As pernas tremiam, as carnes tremiam, os dedos de minhas mãos tremiam, e um suor frio me escorria pela testa, pela espinha, pelos braços, pelo corpo inteiro. Coloquei a folha escrita à minha frente, também a minha pastinha com os outros materiais que eu tinha preparado para audiovisuais e retro-projetor, em seguida respirei fundo, e me agarrei firmemente na escrivaninha.
 
     Por incrível que pareça, a voz saiu da garganta. Bom começo, eu pensei! E pude respirar! Então, pausadamente, como se eu fosse o professor mais seguro do mundo, passei a dizer as coisas que eu havia escrito naquele papel – pois eu havia decorado tudo – apenas acompanhando com o “rabo” do olho para não errar. E assim, por mais de cinco minutos ou mais, fui seguindo sem titubear. Na verdade, o que aconteceu a seguir, foi uma das maiores experiências de minha vida, e talvez a maior transformação que pode acontecer com um ser humano, assim, como num relance, num passe de mágica. Penso que, naquele diz, recebi o dom de entender a verdade por trás das aparências!
 
     De fato, a primeira coisa que percebi, foi o gelo de toda a turma de 48 alunos. E afinal eu conseguia encara-los de frente, sem tremer! Um silêncio mortal se abateu na sala, parecia que ninguém respirava, nem piscava, pois todos sabiam que eu era um poço de insegurança e a expectativa era enorme. Eles, de fato, estavam surpresos e boquiabertos. Até o professor nem piscava!
 
     Quando percebi este silêncio, me deu o primeiro estalo na cabeça: Estes caras, estão é mais nervosos do que eu! Como é que não percebi isto antes? E se eles estão tão nervosos é porque não são nada mais do que eu! E se eles são ricos, se estão vestidos na última moda, se são estudados, se têm carros próprios, se têm outras faculdades e são sumidades em suas áreas, verdade é que, quem quase desmaiou aqui na frente foram eles. São, então – no fundo – mais frouxos do que eu. Claro, não sou nada mais também!
 
     E então, pela primeir
a vez entendi: meu Deus, isso quer dizer que não sou menos que ninguém; era eu quem me rebaixava, me esmagava e inconscientemente me diminuía sem necessidade! Não era os outros que me diminuíam, mas eu mesmo! Então, isso quer dizer que não importa como me apresento, nem o que tenho, mas sim aquilo que sou em mim mesmo! Importa ser feliz, sendo assim como sou. Importa a verdade que eu tenha a falar! Quer dizer: se eu estou bem comigo mesmo e com Deus, que importa minha aparência exterior? De fato, se para Deus – que é sábio – conta apenas a nossa alma, somente nós – estultos – para nos preocuparmos com exterioridades.
 
     Resultado: a aula deslanchou e foi até o fim. Dei ainda toda a aula seguinte, e tomei mais 40 minutos da terceira aula na outra semana. Ou seja, fiquei 100 minutos na frente daquela minha turma boquiaberta, muito desenvolto e confiante. Mas tinha ainda o professor! Ele era muito soberbo e muito cioso de sua sumidade em tributos, e realmente massacrava as turmas, reprovando sempre mais de a metade deles. Na turma do ano anterior ele havia reprovado 90% dos alunos, e também ele precisava de uma lição.
 
     Então deixei isso bem para o final da última aula. Escolhi uma pergunta bem difícil, algo que acontecia muito pouco na área de Imposto de Renda, e preparei também a resposta. E antes de terminar a aula perguntei assim: Professor, eu tenho ainda uma dúvida e a pergunto para o senhor, pois acredito que ela não poderá ser esclarecida por nenhum de meus colegas: Que quer dizer isto!...
 
     Ele pigarreou, tossiu uma, duas vezes, engoliu em seco, rateou um pouco e depois de se refazer do choque disse: Bem, eu de fato não sei responder.... mas prometo que na próxima aula trago a resposta. Ao que aproveitei para dizer: Perdão professor, eu queria apenas lhe testar, mas a resposta eu já tenho! Significa tal e tal! Então agradeci a todos e encerrei a minha aula naquele momento.
 
     Sabem, o que aconteceu a seguir foi uma explosão. Os meus colegas – os grandes, a turma toda – se levantaram todos da cadeira e me aplaudiram de pé. Também o professor aplaudiu, e como prova de que não me levou a mal, tirei nota 9,5 naquela matéria, tendo ainda a graça de ver aprovados todos os meus colegas de equipe. Isso porque, naquele tempo que tive, pude também explicar as matérias relativas a cada um deles, onde tinham falhado, tal que o último nem precisou mais se apresentar. Há, devo dizer que as outras turmas, das outras matérias, todas foram um desastre, sem exceção!
 
     De fato, nunca mais fui o mesmo. Graças ao bom Deus, perdi toda aquela insegurança antiga, em todos os sentidos, tal que nunca mais tremi para enfrentar uma turma de aula. E depois fui professor por muitos anos, e mais tarde, quando comecei a caminhada, cada vez que tive uma oportunidade de falar sobre Nossa Senhora, sempre tive coragem e jamais importou que tipo de platéia estava na minha frente, se havia teólogos e doutores ou não, nem se havia padres ou freiras, ou grandes pregadores da RCC, nunca mais tremi como antes acontecia. Falava na minha simplicidade e pronto. Dizia o que meu coração pedia, sem me importar com os outros. E sem nunca mais me importar com o que estava vestido!
 
     E hoje ainda continuo assim! Pouco me importa o ter e o ser. Se eu ando bem ou mal vestido, na “moda” ou não, se o calçado está velho, se ando despenteado ou não, não me faz mais sentido esta preocupação. Ó quanto estas pequenas coisas deixaram de contar. Não fosse minha esposa, sempre atenta, eu penso que viraria um molambo – o que também não é bom. Também não tenho medo de falar com pessoa alguma, tratar com autoridades, com pessoas de grande cultura, nem com mulheres bonitas ou pessoas de classe alta, tudo isso desapareceu diante daquela turma na Universidade. Também o dinheiro, muito ou pouco não me importa mais, porque sei hoje que Deus está à frente de tudo.
 
     Toda esta experiência eu conto, para que o leitor saiba que é possível a um homem ou uma mulher considerados feios, ou pobres, ou negros, ou gord
os, serem entretanto pessoas agradáveis e até mais atraentes do que alguns tão bonitos, mas tão pouco sábios ou inteligentes. O que importa não é o traje nem mesmo a aparência física, e sim os dons interiores. Importa apenas a riqueza da alma, a pureza de sentimentos, o coração em paz, o amor que você sente, o amor com que você faz as coisas. É disto que as pessoas devem estar repletas, de amor, porque assim agradarão tanto aos gordos como aos magros, tanto aos belos quanto aos feitos, tanto aos velhos quanto aos jovens, tanto a homens como mulheres. E somente isto pode fazer uma pessoa feliz! O resto é tudo besteira!
 
     Na verdade, as pessoas assim, não somente são felizes consigo mesmas, como ainda conseguem facilmente aceitar os outros como eles são. Conseguem se doar sem reservas. Conseguem amar sem limites. Quem tem uma alma bonita, tanto consegue se comunicar com uma criança, quanto com um velhinho e quantas lições de vida se pode tirar destes dois extremos! Também o homem, embora sendo fisicamente feio, sendo cheio de grandes dons espirituais, consegue falar com uma mulher lindíssima sem se encabular, também uma mulher nas mesmas condições, com um homem. Ele nunca mais irá olhar para as roupas que os outros estão vestidos, ou o calçado que calçam.
 
     Tudo é, então, uma questão de alma, de espírito. Tudo é uma questão de coração e de entender-se e de aceitar-se nas limitações. Na verdade toda pessoa que não possui um espírito de mansidão, que não tem valores da alma, que não tem respeito profundo pela condição inferior dos outros, mesmo sendo linda fisicamente, acaba sendo deplorável em qualquer sentido. Acaba sendo feia! Digo que as coisas da aparência são enganosas, são passageiras! O tempo as corrói e mata. Só o amor, a mansidão e a caridade duram para sempre. E estas coisas todas só têm, aqueles que estão muito próximos de Deus.
 
     Vejam estes atores e atrizes de cinema, TV e teatro, também cantores, quantos deles tão belos com suas pinturas e diante das câmeras e luzes, mas ó, tristeza cruel, que estado deplorável de alma na maioria deles. O número de perdas eternas entre eles atesta isso. E com certeza, também as pessoas que os paparicam, que os idolatram, que são atraídas por eles, também, sem exceção, se encontram com a alma no mesmo estado de morte iminente.
 
     Olhem o rastro das nossas grandes miss, aquelas mulheres que venceram concursos até internacionais de beleza! Qual delas deixou algum legado que perdurasse, algo que o tempo e a traça não tivessem carcomido? Olhem agora uma Madre Tereza de Calcutá, uma Irmã Dulce da Bahia, que nada tinham de beleza exterior – até pela sua idade – mas tinham alma, eis que deixaram legados tão portentosos que nunca o tempo apagará, a memória delas não terá fim. Também o Cura de Ars, ele próprio se julgava muito feio, mas é com todo mérito uma das estrelas de primeira grandeza no Céu. Ele, de fato, ria da própria feitura. E vejam, a santinha de sua devoção era Filomena, uma das santas mais lindas do Céu. Dois extremos e tão próximos no amor!
 
      Na verdade, então, vencer a timidez deveria ser matéria básica das escolas. Aceitar-se assim como Deus nos fez fisicamente, mas procurando evoluir nos dons deveria ser até matéria obrigatória da Catequese. De fato, quanto aos atributos físicos e inatos, pouco se poderá mudar, mas certamente que uma pessoa poderá crescer muito nas questões da alma, porque nem todos os dons e carismas são inatos: muitos são adquiridos em vida, pelo espírito de Oração e prece, pelo amor e reverência para com as coisas de Deus. Mil vezes prefiro tratar com uma pessoa de bom coração – embora feia fisicamente – que com uma pessoa lindíssima, porém vazia de alma, embora me seja fácil tratar com ambas.
 
     E por não se aceitarem, assim, milhares de mulheres, principalmente, enchem clínicas e enriquecem cirurgiões plásticos, repuxando peles enrugadas, “corrigindo” aspectos de seu rosto, de seu corpo, seu busto, mal sabendo que os remendos sempre acabam provocando no futuro desastres maiores, qu
e acentuam ainda mais os efeitos daquilo que o tempo, muito devagar vai transformando. Perdão se vou ser tão direto: Toda mulher ou homem, que vive afundado em clínicas em busca destas cirurgias, é em síntese, vazio de alma. Ele tanto vive mergulhado no seu mísero problema, quanto mais se afasta de Deus.
 
     Conforme notícia do programa “Fantástico” ocorrem no Brasil em torno de 120 mil cirurgias apenas de lipoaspiração. Muitas pessoas pensam que esta é uma cirurgia fácil, comum e sem riscos, quando na verdade é algo de muito sério. Para que tanta preocupação com a estética, a aparência exterior? Simples: para esconder o aspecto interior, que jamais anda bem nestes casos, como se aquela pudesse complementar esta. De fato, uma pessoa que realmente está bem com as coisas de Deus, jamais se preocupa com suas gordurinhas ou celulites e outros detalhes, até porque sabe que estas coisas só dão em quem come demais ou mal, salvo raríssimas exceções. Ou seja: pecado da gula!
 
     Eis duas categorias de pessoas que me encantam e me atraem: as crianças inocentes, que ainda não foram contaminadas pelo vírus da beleza e do orgulho e os velhinhos que já mataram em si este vírus perigoso, e descobriram a completa inutilidade do aspecto físico, quando a alma é vazia e morta. Na verdade, nada mais horrível que tratar com um velho que não se aceita e que, mesmo às portas da morte, ainda vive atrás de cirurgias corretivas, ou que ainda lamenta por seu aspecto exterior. Isso é fazer papel de verdadeiro idiota!
 
     Maravilhoso, assim, é aprender a aceitar as próprias limitações, os próprios defeitos físicos, tudo aquilo que ao nosso ver achamos que poderia ser melhor. Este é um grande passo, rumo à felicidade e a alegria de viver. Felizmente nós temos exemplos e muitos de pessoas com seriíssimas limitações físicas, que são exemplos de vida. Gente que vive em cadeiras de rodas, ou que fica pregado à cama, cujo sorriso cativante é como uma porta aberta de suas almas. Eles são radiantes como o céu. Estes são os que verdadeiramente carregam sua Cruz, e com seu comportamento são muitas vezes um tapa na cara de todos os que reclamam de qualquer coisinha.
 
     Pergunte a você mesmo: Haverá alguém mais fútil na terra, que qualquer pessoa que se envolva com desfiles de moda? Haverá coisa mais fútil que a moda? Poderá alguém ser tão imbecil e usar algumas daquelas hediondas combinações de roupa? Poderá alguém ser feliz realmente, servindo de modelo para aquelas execráveis futilidades? Na verdade isso jamais será uma alegria em Deus. Mas quantas infelizes correm atrás disso como se fosse a meta suprema de suas vidas? De fato, a felicidade do dinheiro é a alegria do diabo. A futilidade que envolve a moda, a estética, a aparência física, e o exterior das pessoas, são armas que ele usa para desviar as pessoas de Deus.
 
     Seja, então, verdadeiramente feliz em Deus, aceitando-se como Ele o fez. Magro ou gordo, feio ou lindo, alto ou baixo, velho ou novo, homem ou mulher, branco ou negro, pobre ou rico, forte ou fraco, bem ou mal trajado, saiba: se você é infeliz com a sua condição, é simplesmente porque você não tem Deus no coração! Aceite-se assim como Deus o fez, com todos os detalhes de seu corpo e procure tirar vantagem deles. Para isso, jamais aceite do diabo o convite de xingar de Deus por o haver criado diferente daquilo que você mesmo julga ser um padrão ideal. A beleza pode ser um laço de perda eterna. A riqueza também. Deus é sábio e se o fez assim como você é, pode crer que diante Dele – e estando com Ele – você forma um belo conjunto.
 
     Enfim, use sua eventual limitação para aumentar seu cabedal de graças e crescer em santidade. Se todos nós somos absolutamente IGUAIS diante de Deus: não nos façamos diferentes diante dos homens!
 
Sejamos então, lindos interiormente e o resto não mais terá sentido.
 
Arnaldo(Aarão)
 



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