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03/01/2007
Os magos


Maria - 24 Os magos
Maria - 24 Os magos

OS MAGOS > Revelações à Mística Maria Valtorta! (Com a colaboração de Antonio, de Portugal)

Vejo Belém pequena e branca, toda recolhida como uma ninhada sob a luz das estrelas. Duas ruas principais a cortam em cruz, uma que vem de fora da cidade, e é a rua mestra que depois prossegue além da cidade, e a outra, que vai de uma até à outra extremidade da cidade, mas sem ultrapassá-la. Outras vielas repartem esta mesma cidade, sem a menor norma de um plano de ruas como nós o conhecemos, pelo contrário, adaptam-se a um solo cheio de desníveis e às casas que surgem aqui e ali, segundo os caprichos do solo e dos seus construtores.
 
De tal modo que possam servir de esquinas para a rua que passa ao lado, obrigando esta a ficar como uma fita que se vai desenrolando sinuosamente, em vez de seguir em linha reta, que vai daqui até lá, sem se desviar do rumo. De vez em quando, aparece uma pracinha: ou é a pracinha de uma feira, ou por ali há alguma fonte, ou, então, por causa do costume de construir aqui e ali sem nenhuma regra, sobrou um resto enviesado de terreno, sobre o qual já não é possível construir mais nada. No ponto em que tive a idéia de parar um pouco, está um exemplo dessas pracinhas irregulares.
 
Ela devia ser quadrada ou, pelo menos, retangular. Mas ao contrário, saiu um trapézio tão estranho, que ficou parecendo um triângulo agudo, cortado pelo vértice. No lado mais longo, o da base do triângulo, há uma construção ampla e baixa. É a maior construção da cidade. Por fora passa um paredão liso e nu, no qual se abrem apenas dois portões que, a esta hora, estão bem fechados. Por dentro, ao invés, no seu largo quadrado, abrem-se muitas janelas no primeiro plano, enquanto em baixo ficam os pórticos, que cercam os pátios cheios de palha e de detritos espalhados pelo chão, com tanques, onde os cavalos e outros animais são levados para beber.
 
Nas rústicas colunas dos pórticos existem argolas às quais ficam amarrados os animais, e, a um deles, há um grande telheiro para abrigar os rebanhos e cavalgaduras. Compreendo que aqui é o albergue de Belém. Vejo que se vai tornando mais clara a noite, pela luz das estrelas que descem do céu, que são tão belas no céu do Oriente, tão vivas e grandes, que até parecem estar perto de nós, e que nos será fácil alcançá-las, e tocar com a mão nessas flores que brilham no veludo do firmamento.
 
Elevando o olhar, tento compreender qual será a fonte de onde vem este aumento de luz. É uma estrela, de grandeza extraordinária, que faz até parecer uma pequena lua, e que vem avançando pelo céu de Belém. As outras estrelas parecem eclipsar-se, e abrir caminho para ela, como servas diante de sua rainha que vai passando, pois a tal ponto ela as supera em brilho, que as faz desaparecer! Do corpo da estrela, que parece uma grande safira clara e acesa por um sol que está em seu interior, sai uma esteira de luz, na qual, com a cor predominante da safira, fundem-se o loiro dos topázios, o verde das esmeraldas, o leitoso das opalas, o sanguíneo fulgor dos rubis e o cintilar das ametistas.
 
Todas as pedras preciosas da Terra estão naquela esteira de luz, que vem varrendo o céu, em um movimento veloz e ondulante, como se fosse viva. Mas a cor que predomina é a que desce do corpo da estrela: uma cor celeste de safira clara, que tinge de prata azulada as casas, as ruas e o chão de Belém, o berço do Salvador. Já não é mais a pobre cidade, que para nós era menos importante que um povoado rural. Agora, é uma fantástica cidade de contos de fada, na qual tudo é de prata. Até a água das fontes e dos tanques parece de diamante líquido. Emitindo um fluxo de luz mais vivo, a estrela paira sobre a pequena casa, que está do lado mais curto da pracinha.
 
Nem os moradores da casa, nem os habitantes de Belém a estão vendo, porque estão dormindo, e suas casas estão fechadas; mas a estrela aceler
a as suas palpitações de luz, faz vibrar sua cauda, e solta ondulações luminosas mais fortes, traçando pequenos semicírculos no céu, que se ilumina todo com esta rede de astros que ela arrasta consigo, uma rede de pedras preciosa, que resplendem, tingindo com as mais indistintas cores as outras estrelas, como querendo comunicar-lhes uma palavra de alegria.
 
A casinha está toda iluminada por este fogo líquido de gemas. O teto do pequeno terraço, a escadinha de pedra escura, a pequena porta, tudo virou um pequeno bloco de prata, polvilhado com pó de diamantes e pérolas. Nenhum palácio real da terra jamais teve, ou terá, uma escada como esta, feita para receber a passagem dos anjos, feita para ser usada pela Mãe, que é a Mãe de Deus. Seus pequenos pés de Virgem Imaculada podem pousar sobre aquele cândido esplendor, os seus pequenos pés destinados a pousar sobre os degraus do trono de Deus.
 
Mas a Virgem ainda não está sabendo de nada. Ela está velando sobre o berço de seu Filho e rezando. Na alma, Ela tem esplendores que superam os esplendores com que a estrela está embelezando as coisas. Da rua mestra, vem chegando uma cavalgada. Cavalos arreados e outros conduzidos pela mão, dromedários e camelos, montados ou carregados com suas cargas. O barulho dos cascos faz um rumor como o da água, quando cai sobre as pedras de um riacho. Tendo-se reunidos na praça, todos param. A cavalgada, vista sob a luz da estrela, é fantástica em seu esplendor.
 
Os ornamentos de primeira classe sobre as cavalgaduras, as vestes dos cavaleiros, o aspecto deles, as bagagens, tudo está brilhando, unindo e reavivando o esplendor do metal, do couro, da seda, das pedras preciosas, dos pelos, ao brilho da estrela. E os olhos também cintilam, e as bocas se enchem de riso, porque um outro esplendor brilhou nos corações: o esplendor de uma alegria sobrenatural. Enquanto os servos se põem a caminho com os animais, três da caravana desmontam de suas cavalgaduras, que um servo logo leva para outro lugar, e a pé se dirigem para a casa. Prostram-se com a fronte até ao chão e beijam o pó.
 
São três poderosos. Isto é o que nos estão dizendo as suas vestes, riquíssimas. Um de pele muito escura, tendo apeado de um camelo, envolve-se todo em um manto de seda brilhante, ajustado à cinta por um aro precioso do qual pende um punhal ou espada, tendo esta o punho cravejado de pedras preciosas. Os outros que apearam de dois esplêndidos cavalos estão vestidos, um de um tecido listrado muito bonito, no qual predomina a cor amarela, veste esta feita com um longo dominó, ornado com capuz e cordão, que parecem um só trabalho de filigrana de ouro, de pontos de bordados em ouro.
 
O terceiro traz uma espécie de camisa de seda e umas calças largas e longas, que se estreitam perto dos pés e ele se envolve com um xale muito fino, que mais parece um jardim florido, de tão vivas que são as flores com que está todo decorado. Na cabeça traz um turbante seguro por uma correntinha toda feita de engastes com diamantes. Depois de terem venerado a casa onde está o Salvador, eles se levantam, e vão até ao albergue, onde os servos já bateram à porta e a fizeram abrir. Aqui cessa a visão que recomeça, três horas depois, com a cena da adoração de Jesus pelos Magos. Agora já é dia. Um belo sol resplende no céu. Um dos três servos atravessa a praça e sobe a escadinha da pequena casa. Depois, entra. Torna a sair.

Volta ao albergue. Saem os três Sábios, acompanhados cada um pelo seu próprio servo.
Atravessam a praça. Os raros transeuntes viram-se para olhar os pomposos personagens que passam pela praça lentamente e com solenidade. Entre a entrada do servo e aquela dos três, passou-se um bom quarto de hora, e esse tempo serviu aos moradores da casinha para se prepararem a fim de receber os hóspedes. Eles se mostram agora mais ricamente vestidos do que anteriormente. As sedas resplendem, as gemas brilham e um grande penacho de penas preciosas entremeadas com fragmentos ainda mais preciosos, tremula e cintila sobre a cabeça daquele que está com o turb
ante.
 
Os servos vão levando, um deles um cofre todo marchetado e cujas partes mais reforçadas são de ouro burilado; o segundo leva um cálice muito bem trabalhado, coberto com uma tampa ainda mais artística e toda de ouro, tampada com uma peça em forma de pirâmide e com um brilhante no vértice. Devem ser coisas pesadas, porque os servos que a transportam estão fazendo muita força, especialmente o que transporta o cofre. Os três sobem a escada e entram. Entram em um quarto, que se estende da rua até aos fundos da casa. Vê-se a horta na parte posterior da casa, por uma pequena janela aberta ao sol.
 
Outras portas se abrem nas duas outras paredes, e delas, olhando de soslaio, estão os proprietários: um homem e uma mulher, três ou quatro jovenzinhos e as crianças. Maria está sentada com o Menino no colo e perto dela, em pé, está José. Mas Ela também se levanta e se inclina, quando vê entrar os três Magos. Maria está toda vestida de branco. Tão bonita na sua simples veste cândida, que a cobre da base do pescoço até aos pés, dos ombros aos delicados pulsos, tão bonita em sua cabeça pequena e coroada de suas tranças loiras, no rosto que a emoção faz ficar vivamente rosado, nos olhos que sorriem com doçura, na boca que se abre para a saudação, dizendo: "Deus esteja convosco", que, por um instante, os três se detêm impressionados.
 
Depois, eles dão mais uns passos para frente, e vão prostrar-se aos pés dela. E pedem a Ela que se assente. Eles, por sua vez, não se assentam, por mais que Ela lhes peça. Ficam de joelhos, apoiados sobre os calcanhares. Atrás deles, também de joelhos, estão os três servos. Estes estão logo depois de passada a soleira. Eles puseram diante de si os três objetos que levaram, e estão esperando. Os três Sábios contemplam o Menino. Ele está sentado no colo da Mamãe, sorri e balbucia com uma voz de passarinho. Ele também está todo vestido de branco, como a Mamãe, com sandalhinhas nos pés minúsculos.
 
Sua veste é muito simples: uma pequena túnica, da qual saem os pezinhos irrequietos, as mãozinhas gorduchas que gostariam de apanhar tudo o que os olhos vêem, e, sobretudo seu rostinho muito bonito, no qual brilham uns olhos de um azul escuro, enquanto a boca faz umas covinhas aos lados, quando Ele ri, descobrindo os primeiros dentinhos pequenos. Os caraçõezinhos de seus loiros cabelos parecem ouro puro em pó, de tão leves e brilhantes que são. O mais velho dos Sábios fala por todos. Explica a Maria que eles viram, numa noite do dezembro passado, acender-se uma nova estrela no céu com esplendor fora do comum.
 
Nunca os mapas do céu tinham trazido aquele astro, nem falado nele. O seu nome não era conhecido, porque não tinha nome. Tendo, então, nascido do seio de Deus, aquela estrela teria aparecido para vir dizer aos homens alguma verdade bendita, algum segredo de Deus. Mas os homens não lhe haviam dado importância, estando eles com a alma presa na lama. Não eram capazes de levantar o olhar para Deus, e não sabiam ler as palavras que Ele escreve, - seja em eterno bendito! - com seus astros na abóbada dos céus. Eles a tinham visto e se esforçaram para escutar sua voz.
 
Deixando, pois, de lado, mas com alegria, o pouco descanso do sono que concediam aos seus membros, esquecendo-se até de comer, eles se haviam aprofundado no estudo do Zodíaco. E as conjugações dos astros, o tempo, a estação, o cálculo das horas passadas e das combinações astronômicas lhes haviam dito o nome e o segredo da estrela. O seu nome: "Messias". E o seu segredo: "Que o Messias já veio ao mundo". E, então, partiram para adorá-lo. Cada um deles, sem os outros dois saberem.
 
Por montes e desertos, vales e rios, viajando de noite, foram tomando o rumo da Palestina, porque nesse rumo é que a estrela ia indo. Para cada um deles, que vinham de três pontos diferentes da Terra, ela ia naquele rumo. Eles se tinham encontrado além do Mar Morto. A vontade de Deus os tinha reunido lá, e, juntos continuaram a viagem, e se entendiam, ainda que cada um falasse a sua própria língua, entendendo e podend
o falar a língua de cada região em que se achassem, por um milagre do Eterno. Juntos tinham ido a Jerusalém, porque o Messias devia ser o Rei de Jerusalém, o Rei dos Judeus.
 
Mas lá a estrela se tinha escondido, sob o céu daquela cidade, e eles sentiram seus corações se partirem de dor, e começaram a examinar suas consciências, para descobrirem se não teriam deixado de merecer a proteção de Deus. Mas, tendo eles tranqüilizado suas consciências, se haviam dirigido ao rei Herodes, para perguntar-lhe em que palácio havia nascido o Rei dos Judeus, pois eles o tinham vindo adorar. E o rei, tendo reunido os príncipes dos sacerdotes e os escribas, lhes perguntou onde se esperava que nasceria o Messias. E eles responderam: "Em Belém de Judá".

Tomaram, pois, o rumo de Belém, e a estrela tornou a aparecer aos seus olhos. Quando deixaram a Cidade Santa, na tarde anterior, a estrela tinha aumentado seus esplendores, e o céu parecia um incêndio. Depois, a estrela parou, reunindo toda a luz das outras estrelas com a sua luz, sobre esta casa. Então, eles compreenderam que ali estava o Filho de Deus. E agora o estavam adorando, oferecendo os seus pobres presentes e, mais do que tudo, oferecendo-lhe os seus corações, que nunca mais cessariam de bendizer a Deus pela graça concedida, nem de amar o seu Filho, cuja Humanidade eles estavam vendo.
 
Depois, iriam, na volta, informar o rei Herodes, porque ele também queria adorar o Menino. "Aqui tens o ouro, como convém a um rei; aqui tens o incenso, como convém a Deus; aqui tens, ó Mãe, a mirra, pois o teu Filho é Homem, além de Deus e da carne e da vida humana conhecerá a amargura e a lei inevitável da morte. Nosso amor não queria dizer-lhe estas palavras, mas ficar sempre pensando que Ele é eterno, até em sua carne, como eterno é o seu Espírito. Mas, ó Mulher, se os nossos mapas, e também as nossas almas, não erram, Ele, o teu Filho, é o Salvador, o Cristo de Deus, e por isso deverá, para salvar a Terra, tomar para Si o seu mal, um dos quais é o castigo da morte.
 
Esta resina é para aquela hora. Para que os corpos que são Santos não conheçam a putrefação da corrupção, e conservem sua integridade até ao dia da ressurreição. Que por estes nossos presentes Ele se lembre de nós e salve a estes seus servos, dando-lhes o seu Reino. E, por enquanto, para que sejamos por isso santificados, que Tu, ó Mãe, concedas o teu Pequenino ao nosso amor, para que, beijando os seus pés, desça sobre nós a bênção celestial". Maria, passada a angústia em que as palavras do Sábio a haviam mergulhado, escondeu, um sorriso, a tristeza daquelas fúnebres evocações, e lhes apresenta o Menino.
 
Coloca-o nos braços do mais velho, que o beija e é por ele acariciado, e depois o passa para os outros dois. Jesus sorri, e brinca com as correntinhas e as franjas dos três e olha com curiosidade o cofre aberto, cheio de uma coisa amarela que brilha, e ri, ao ver que o sol faz uma espécie de arco-íris, ao bater sobre a brilhante tampa da mirra. Depois os três entregam a Maria o Menino, e se levantam. Maria também se levanta. Inclinam-se reciprocamente, depois que o mais novo deu ordens ao seu servo, e este sai. Os três falam ainda um pouco. Não sabem decidir-se a se afastarem daquela casa. Em seus olhos há lágrimas de emoção. Por fim, eles se dirigem à saída, acompanhados por Maria e José.
 
O Menino quis descer e dar a mãozinha ao mais velho dos três, e caminha assim, ajudado pela mão de Maria e pela do Sábio, que se inclinaram para pegá-lo pela mão. Jesus dá um passinho ainda incerto como o dos pequeninos e se ri, batendo os pezinhos sobre os riscos que a luz do sol forma sobre o pavimento. Chegando à soleira - não se deve esquecer que o salão tinha o mesmo comprimento que a casa - os três se despedem, ajoelhando-se mais uma vez e beijando os pezinhos de Jesus.
 
Maria, inclinada sobre o Pequenino, toma-lhe a mãozinha, e vai guiando, fazendo-o traçar um gesto de bênção sobre a cabeça de cada um dos Magos. É já um sinal de cruz, traçado pelos dedinhos de Jesus, guiados por Mari
a. Depois, os três descem a escada. A caravana já pronta os está esperando. Os cavalos já estão arreados e seus arreios ornados brilham aos últimos raios do sol, que está para se pôr. O povo se aglomerou na pracinha para presenciar aquele espetáculo único. Jesus ri e bate as mãozinhas.
 
A Mamãe o ergueu e colocou sobre o parapeito, que limita o patamar, e o segura com um dos braços para que não caia. José desceu com os três e segura para cada um deles o estribo, enquanto eles sobem em seus cavalos e no camelo. Agora os servos e os patrões estão todos a cavalo. É dada a ordem de partir. Os três se inclinam até ao pescoço da cavalgadura, em uma última saudação. José também se inclina. Maria também o faz, e torna a guiar a mãozinha de Jesus, em um gesto de adeus e de bênção.

Jesus diz à confidente: E agora? Que vos direi ó almas, que percebeis que a fé está morrendo? Aqueles Sábios do oriente nada tinham que lhes desse a certeza da verdade. Nada tinham de sobrenatural. Tinham apenas os cálculos astronômicos e as suas reflexões, que a vida íntegra, que eles levavam, tornava perfeitas. Contudo, tiveram fé. Fé em tudo: fé na ciência, fé na consciência, fé na bondade divina.
 
Pela ciência, acreditaram no sinal da nova estrela, que não podia deixar de ser "aquela", que era esperada, havia séculos, pela humanidade: o Messias. Pela consciência, tiveram fé na voz da mesma que, recebendo "vozes" celestes, lhes dizia: "É aquela estrela que assinala a chegada do Messias". Pela bondade, tiveram fé em que Deus não os teria enganado e, visto que a intenção era reta, Ele os teria ajudado de todos os modos a chegar até à meta desejada.
 
E eles tiveram êxito. Só eles, entre tantos estudiosos dos sinais, compreenderam aquele sinal, porque só eles tinham na alma a ânsia de conhecer as palavras de Deus com um fim reto, que consistia em ter como seu principal pensamento dar imediata honra e louvor a Deus. Não procuravam sua própria utilidade. Ao contrário, eles vão de encontro a fadigas e despesas, e não pedem nenhuma compensação humana. Pedem somente que o seu Deus se lembre deles e os salve pela eternidade.
 
Como não têm nenhum pensamento de futura compensação humana, assim não têm, quando decidem a viagem, nenhuma humana preocupação. Se fosseis vós, teríeis pensado em mil dificuldades: "Como poderei fazer uma viagem tão grande, através de países e povos de línguas tão diferentes? Será que eles vão acreditar em mim, ou não irão me prender como espião? Que ajuda me darão ao ter eu que atravessar desertos, rios e montanhas? E o calor? E os ventos dos planaltos? E as febres dos pantanais? E as cheias das águas fluviais? E as comidas diferentes? E a linguagem diferente? E... E... .". Assim é que raciocinais.
 
Eles não raciocinam assim. Mas dizem com uma sincera e santa ousadia: "Tu, ó Deus, lês os nossos corações, e vês qual o fim que perseguimos. Em tuas mãos nos entregamos. Concede-nos a alegria sobre humana de adorar a tua Segunda Pessoa, que se fez Carne para a salvação do mundo". E basta. E eles se põem a caminho, partindo das longínquas Índias (Jesus me diz depois que por Índias quer dizer a Ásia meridional, onde agora está a Turquia, o Afeganistão e a Pérsia). Das cadeias de montanhas da Mongólia, sobre as quais voam as águias e os abutres, onde Deus fala pelo zumbido dos ventos e pelo estrondo das torrentes, e escreve palavras de mistério sobre as páginas imensas das geleiras.
 
Das terras onde nasce o Nilo, que vai deslizando como uma veia verde - azul, ao encontro do coração azul do Mediterrâneo, nem os picos, nem as selvas, nem os desertos, oceanos secos e mais perigosos do que os marinhos, nada disso detêm a marcha deles. E a estrela brilha sobre a noite deles, não lhes permitindo dormir. Quando se procura a Deus, os hábitos animais devem ceder às impaciências e às necessidades sobre humanas. A estrela os chama, ora do Norte, ora do O
riente, ora do Sul, e, por um milagre de Deus, vai guiando os três para certo ponto. Como por um outro milagre, os reúne, depois de tantos milhares de quilômetros, naquele ponto, e, por um outro milagre ainda, lhes dá, antecipando a sabedoria pentecostal, o dom de se entenderem e de se fazerem entender, assim como é no Paraíso, onde se fala uma única língua: a de Deus.
 
Um único momento de aflição os assalta, e é quando a estrela desaparece, e eles, humildes, porque são realmente grandes, não pensam que isso tenha acontecido por causa da maldade de outrem, já que os corruptos de Jerusalém não mereceram ver a estrela de Deus. Mas, o que eles pensam é que eles próprios é que não mereceram a ajuda de Deus, e puseram-se a examinar suas consciências com tremor e com uma contrição já pronta para pedir perdão.
 
Mas a consciência deles os tranqüiliza. Almas acostumadas à meditação, têm uma consciência muito sensível, aperfeiçoada por uma atenção constante, por uma introspecção aguda, que faz do interior deles um verdadeiro espelho sobre o qual se refletem até as menores sombras dos acontecimentos diários. Eles fizeram dela a sua mestra, a voz que os adverte e que grita, já não digo ao menor erro, mas até a uma simples possibilidade de erro, ao que é humano como complacência com o seu próprio eu.
 
Por isso, quando eles se põem diante desta mestra, diante deste espelho tão severo e tão nítido, sabem que ele não lhes mente, mas os encoraja, e eles tomam um novo alento. Oh! Que doce coisa é sentir que nada há em nós de contrário a Deus! Sentir que Ele olha com complacência o ânimo do filho fiel e o abençoa. Deste sentimento provém o aumento de fé, de confiança, de esperança, fortaleza e paciência. Agora é hora de tempestade. Mas ela passará, porque Deus me ama e eu o amo, e não deixará de ajudar-me ainda.
 
Assim é que falam os que têm aquela paz, que provém de uma consciência reta, que é a rainha de todas as ações. Eu disse que eles eram "humildes, porque verdadeiramente grandes". Em vossa vida, ao invés, que é que acontece? Acontece que um, não porque seja grande, mas porque é mais prepotente, e se faz poderoso por sua prepotência e, pela vossa insensata idolatria, nunca é humilde. Há pobres coitados que, só por serem mordomos de alguém arrogante, ou porteiros de algum gabinete, funcionários de alguma repartição, servos afinal, de quem assim os fez, costumam tomar a pose de uns semi-deuses. E, só vê-los já dá dó! Eles, os três Sábios, eram realmente grandes.
 
Em primeiro lugar, por virtude sobrenatural; em segundo lugar, pela ciência; e, por último, pela riqueza. Mas eles se julgam um nada: pó sobre o pó da terra, se comparados com Deus altíssimo, que cria os mundos com um sorriso, e os espalha pelo espaço, como grãos de trigo, para alegrar os olhos dos anjos com os colares das estrelas. Eles se consideram um nada, diante de Deus Altíssimo, que criou o planeta, sobre o qual eles vivem, e o fez bem diversificado, colocando, como escultor infinito em sua ilimitada obra. Aqui, com a força do seu polegar, uma série de colinas de suave declive, acolá uma ossatura de picos e escarpas, iguais às vértebras da terra, neste corpo desmesurado, do qual os rios são veias, os lagos são pelves, os oceanos são corações; tendo por vestes as florestas, como véus as nuvens e as esmeraldas, as opalas e os berilos de todas as águas que descem cantando, com as selvas e os ventos, formando o grande coro de louvor ao seu Senhor.
 
Eles se consideram um nada em sua sabedoria, diante do Deus Altíssimo, do qual vem a sabedoria deles, pois foi Ele quem lhes deu olhos, ainda mais poderosos que suas duas pupilas, pelas quais eles vêem as coisas: os olhos da alma, que sabem lerem nas coisas a palavra não escrita por mão humana, mas que nelas foi gravada pelo pensamento de Deus. Eles se consideram um nada em sua riqueza: um átomo, diante da riqueza do Dono do Universo, que espalha metais e pedras preciosas pelos astros e planetas e suas abundâncias sobrenaturais, riquezas inesgotáveis, no coração de quem o ama.


E, tendo eles chegado diante de uma pobre casa, na mais insignificante das cidades de Judá, não sacodem a cabeça dizendo: "Impossível", mas dobram as costas, os joelhos, e especialmente o coração, e adoram. Lá, atrás daquela pobre parede, está Deus. Aquele Deus que eles sempre invocaram, não ousando nunca, nem de longe, esperar que os haviam de ver. Mas que por eles foi invocado pelo bem de toda a humanidade e pelo bem eterno "deles" mesmos. Oh! Só isto é que eles desejavam para si. Poderem vê-lo, conhecê-lo, possuí-lo naquela vida que não tem auroras, nem crepúsculos!
 
Ele está lá, atrás daquela pobre parede. Quem sabe se o seu coração de Menino, que é também sempre o coração de um Deus, não ouça estes três corações que, inclinados no pó da estrada, bradam: "Santo, Santo, Santo. Bendito o Senhor nosso Deus. Glória a Ele nos Céus altíssimos, e paz aos seus servos. Glória, glória, glória e bênção"? Isto eles perguntam, tremendo de amor. E, por toda a noite, e na manhã seguinte preparam com a mais viva oração, o seu espírito, para entrarem em comunhão com o Deus Menino. Eles não vão a este altar, que é um seio virginal, levando em si a Hóstia Divina, como vós ides a eles com a alma cheia de solicitudes humanas.
 
Eles se esquecem do sono e do alimento e pegam nas suas vestes mais belas, não para ostentação humana, mas para prestar honra ao Rei dos reis. Nos palácios dos soberanos, os dignitários se apresentam com suas mais belas vestes. E, então, não deveriam eles ir apresentar-se a este Rei com suas vestes de gala? E que festa maior podia haver para eles do que esta?  Oh! Lá em suas terras longínquas, muitas e muitas vezes precisaram-se adornar para prestar honras e oferecer seus préstimos a homens como eles. Era, pois, justo que se humilhassem aos pés do Rei supremo e lá depositassem as suas púrpuras e jóias, sedas e plumas preciosas.
 
Pôr-lhe aos pés, diante daqueles benditos pezinhos, as fibras da terra, as gemas da terra, as plumas da terra, os metais da terra - que são ainda obras dele - para que também elas, essas coisas da terra, adorem o seu Criador. E seriam felizes se a Criancinha lhes ordenasse que se estendessem no chão, como se fossem um tapete vivo, aos passinhos de Menino, e os pisasse, Ele que deixou as estrelas por amor deles, que nada mais são do que pó. Humildes generosos e obedientes às "vozes" do Alto. Essas vozes mandam que eles levem presentes ao Rei recém nascido. E eles levavam presentes.
 
Não dizem: "Ele é rico, e não precisa disso. Ele é Deus, e não conhecerá a morte". Eles obedecem. E são os primeiros que acodem à pobreza do Salvador. E, como chegou na hora aquele ouro, para quem amanhã vai ter que sair de sua terra como fugitivo! Como foi significativa aquela mirra, para quem, dentro em breve, será morto! Como foi piedoso aquele incenso, para quem terá que sentir o mau cheiro da luxúria humana fervendo ao redor de sua infinita pureza!

Humildes, generosos, obedientes e respeitosos um para com o outro. As virtudes geram outras virtudes. Das virtudes voltadas para Deus vêm virtudes voltadas para o próximo. Respeito que, afinal, é caridade. Com o mais velho combinaram que lhe tocaria falar por todos, receber o primeiro beijo do Salvador, e segurá-lo pela mãozinha. Os outros ainda poderão vê-lo outras vezes. Mas ele, não. Ele está velho, e perto está o dia de sua volta para Deus.
 
Ele verá o Cristo, depois de sua terrível morte, e o acompanhará junto com os outros que serão salvos no dia da volta do Cristo para o Céu. Mas não o verá mais nesta terra. E, então, para seu viático, que lhe fique o calor daquela mãozinha, que se confiou à sua enrugada mão. Não há nenhuma inveja dos outros. Pelo contrário, há até um aumento de veneração para com o mais velho dos Sábios. Mais do que eles mereceu na certa, e por mais tempo. O Deus Menino sabe disso. Ainda não fala, Ele que é a Palavra do Pai, mas os atos Dele são palavras. E seja bendita a sua inocente Palavra, que mostra ser este velho o seu predileto. Mas, ó filhos, há outros dois ensinamentos nesta visão
.

A postura de José, que sabe ficar em seu "lugar". Ele está presente como guarda e tutor da Pureza e da Santidade. Mas não é um usurpador dos direitos delas. É Maria, com o seu Jesus, que está recebendo homenagens e palavras. José se alegra por Ela, e não fica amargurado por estar sendo uma figura secundária. José é um justo: é o justo. E é justo sempre. E nesta hora também. As fumaças da festa não lhe sobem à cabeça. Ele continua humilde e justo. Ele se sente feliz pelos presentes. Não por si mesmo.
 
Mas porque pensa que com eles poderá fazer mais cômoda a vida de sua Esposa e do doce Menino. Não existe avidez em José. Ele é um trabalhador, e continuará a trabalhar. Mas que "Eles", os seus dois amores, tenham o necessário, e algum conforto. Nem ele nem os Magos sabem que aqueles presentes vão servir durante uma fuga e uma vida no exílio, nas quais as substâncias desaparecem como uma nuvem impelida pelo vento. Mas eles vão servir também para quando voltarem à pátria, depois de terem perdido tudo o que nela tinham deixado os clientes e os móveis, salvando-se somente as paredes da casa, protegida por Deus, porque nela é que Ele se uniu à Virgem e se fez Carne.
 
José é humilde, ele, que é guarda de Deus e da Mãe de Deus e Esposa do Altíssimo, chega até a segurar o estribo para estes vassalos de Deus. José é um pobre carpinteiro, porque a prepotência humana desposou os herdeiros de David de suas propriedades reais. Mas ele é sempre da estirpe de David e tem traços de rei. Também em relação a ele vale este dito: "Era humilde, porque era realmente grande".
 
Ainda um último, suave e significativo ensinamento. É Maria, que segura a mão de Jesus, que ainda não sabe abençoar, e a guia no gesto Santo. É sempre Maria que segura a mão de Jesus e a guia. Ainda hoje é assim. Agora, Jesus sabe abençoar. Mas, às vezes, sua mão trespassada cai cansada e sem poder mais abençoar, pois Ele sabe que é inútil abençoar. Na verdade vós destruís a minha bênção. Ela cai também indignada porque vós me maldizeis. E, então, é Maria que tira o desprezo feito a esta mão, ao beijá-la.
 
Oh! O beijo de Minha Mãe! Quem pode resistir a este beijo? E, depois, Ela segura, com seus dedos delicados, mas que são amorosamente tão imperiosos, o meu pulso e me força a abençoar. Eu não posso repelir a minha Mãe. Mas é preciso que vós vades à procura Dela, para fazê-la vossa advogada. Ela é a minha Rainha, antes de ser vossa, e o seu amor por vós tem indulgências inimagináveis.
 
E Ela, mesmo sem palavras, mas só com as pérolas do seu pranto e com a lembrança da minha Cruz, cujo sinal Ela me faz traçar no ar, defende a vossa causa, e ainda me admoesta: "Tu és o Salvador. Salva! "Eis, meus filhos, o "Evangelho da Fé", na aparição da cena dos Magos. Meditai e imitai, para o vosso bem".
 
Com: Fantástica esta explicação de Jesus! Deus sabe das coisas! Alerto apenas para uma coisa que vem a calhar: também hoje vemos que milhões de pessoas não conseguem mais perceber os sinais de Deus, e a brilhante estrela Maria, que anuncia a chegada do Reino. Há se todos os homens compreendessem e seguissem as mensagens proféticas dela?  
 



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