recadosdoaarao



Cartas
Voltar




06/10/2008
Legado de família


Cartas - Legado de família
06/10/2008 21:01:59

Cartas - Legado de família


Legado de família
 
No dia 26 de setembro último, Nossa Senhora e Jesus vieram buscar minha mãe para as moradas eternas. Passados os primeiros momentos de dor e tristeza, e a correria com a papelada de óbito, eu sabia que ela não tinha deixado heranças terrenas. Mas em compensação, eu não sabia que ela deixou um outro tipo de herança, muito mais valiosa do que a primeira: deixou a lembrança dos bons atos.
 
Foi um velório muito concorrido, o que nos surpreendeu muito, dado que minha mãe era uma senhora simples, pacata, caseira. E todos que estavam lá tinham uma história pra contar a respeito de minha mãe, um testemunho de sua bondade para com o próximo. Eu fiquei muito envergonhada e surpresa, pois conheci esta mulher por 29 anos, e nem imaginava que ela tinha sido capaz de fazer tantas coisas... Debaixo dos meus olhos... E eu nunca soube de nada!
 
Já em casa, estou empreendendo a dura tarefa de organizar, despachar e eliminar os guardados da minha mãe. Ela era muito metódica, gostava muito de guardar coisas. Coisas que para nós parecem não ter muito sentido, papéis, cartas, cartões. Mas relendo-os... estou vendo vidas passarem diante de meus olhos.
 
Encontrei lembranças de Primeira Comunhão, Batismo, Ordenação, Matrimônio, funerais. Uma lembrança da festa do meu primeiro aniversário, em 1979. Recibos de pagamento. Coisas que atestam construções de vidas. Vidas laboriosas. Vidas orantes. Vidas felizes. Algumas vidas que também já se foram. E todas essas histórias eu tenho relido por esses dias. Um antigo missal de 1947, muito usado. Cheio de santinhos muito manuseados dentro dele. Sinal de que o proprietário era uma pessoa extremamente piedosa.
 
Mexendo com todas essas lembranças, fiquei pensando: o que meus filhos vão encontrar nos meus pertences, quando eu me for?
 
Dinheiro não é a melhor coisa a se deixar para os nossos filhos quando eles partirem. Embora o mundo diga o contrário, garanto-lhes que não há maior riqueza do que ter a certeza de que nossos pais foram bons cristãos. Passa-nos uma sensação de segurança, mesmo depois de sua partida. Dinheiro se gasta tão depressa e às vezes, com coisas tão fúteis!
 
Mas os exemplos deixados nos animam a continuar a viver com dignidade, tenhamos ou não dinheiro - para nos tornarmos dignos de sua memória. Talvez, num futuro não muito distante, sejamos chamados a ler outro tipo de lembrança, mais completa do que cartas arquivadas ao acaso: os Livros da Vida.
 
Que estamos escrevendo em nossos Livros da Vida? Que mostraremos aos nossos filhos, aos nossos pais e aos demais? Todos lerão nosso Livro. Principalmente Deus.
 
Sempre tive a ilusão meio infantil de que minha mãe era firme como uma rocha. Que era eterna. Que nada jamais poderia abalá-la. Eu poderia enxergá-la eternamente preocupada com as lides domésticas, com as preocupações familiares, com o almoço do dia seguinte, com as contas do mês... Minha mãe era como uma instituição. Para mim seria mais fácil cair um avião sobre minha cabeça do que acontecer algo com ela.
 
Mas não. Ela era frágil, delicada e sensível, embora não demonstrasse isso. E Deus a levou.
 
Nós também temos a ilusão de que nossas vidas são eternas. Que ficaremos eternamente aqui, nos preocupando com as mesmas coisas, com os nossos problemas, que tudo o que vivemos é extremamente importante, que só o que acontece conosco faz alguma diferença.
 
Que ilusão! Nós não somos nada, absolutamente nada nesta terra. Nossos problemas não significam nada. Todos eles somem num passe de mágica quando se fecha a tampa do caixão!
 
Quando presenciamos a perda de alguém tão querido e tão próximo a nós é que realmente percebemos que só há uma coisa que realmente pode dar sentido à nossa vida: É vi
ver em Deus.
 
Minha mãe não levou riquezas terrenas, mesmo porque não as tinha. Nem levou seus móveis, seus guardados, suas coisinhas de que gostava tanto. Só tinha um terço nas mãos! Mas ela foi se encontrar com Deus com as mãos repletas.
 
Repletas da gratidão e do amor de seus filhos, seu marido e seus inúmeros amigos.
 
Ela tinha tanto, que além de levar, ainda deixou muito aqui embaixo. Deixou um legado bonito, que jamais será apagado.
 
Mais do que nunca, nesses nossos tempos atuais, tão difíceis para todos, devemos nos perguntar muito seriamente: que legado estamos deixando para nossos filhos? Estamos escrevendo nosso Livro da Vida de forma que futuramente, possamos nos orgulhar? Ou nos envergonhar?
 
Abraços. Maria!
 
----
Quero agradecer as orações de todos por nossa família esta semana. Nunca poderei agradecê-los o suficiente. Deus lhes pague.
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Artigo Visto: 2166

ATENÇÃO! Todos os artigos deste site são de livre cópia e divulgação desde que sempre sejam citados a fonte www.recadosdoaarao.com.br


Total Visitas Únicas: 4.204.267
Visitas Únicas Hoje: 356
Usuários Online: 41