recadosdoaarao



Histórias
Voltar




24/06/2005
Sanguinários


Histórias - 09 Sanguinários
Histórias - 09 Sanguinários

SANGINÁRIOS
 
Em nossa cidade de Vidal Ramos, quando da primeira visita que lá fizemos junto com o Cláudio, percebemos que de um total de 1.119 túmulos, havia 38 perdidos. Isso me apavorou, em especial porque nos municípios ao redor,  os números de perdas são bem menores, e eu não conseguia me conformar.
Chamava-me atenção este índice, porque aqui se tratou sempre de povo bom, de muita fé e oração, e pelas médias de outras localidades onde nem se rezava, ou se reza bem menos, aquela era muitas vezes maior. E durante muito tempo este ficou sendo o cemitério mais pesado que já havíamos visitado. Qual o motivo de tantas perdas? Não sabíamos e nem soubemos, por mais de um ano, embora houvéssemos colocado em oração para entender o porquê.
Apenas São Miguel disse: Um dia saberão o motivo!
Um ano depois, numa pequena mensagem, Nossa Senhora falou que antigamente havia alguns bandidos, que cometiam crimes em outras localidades, Blumenau e Brusque, e que vinham se esconder aqui. Alguns deles estavam enterrados na região pertencente a aquele cemitério, embora nem estejam enterrados diretamente nele. Entretanto, pesquisando entre as pessoas, não encontrei ninguém que soubesse desta gente antiga. Ficava ainda a dúvida!
Tempos depois, em outra parte de mensagem, Nossa Senhora revelou que alguns dos antigos colonos de nossa localidade, haviam matado os índios e se aproveitado sexualmente das índias, tendo sido algumas delas dilaceradas por eles. Entretanto, também pesquisando, não encontramos mais do que dois ou três colonos que efetivamente tiveram contato com os índios, e somente um que era tido por assassino de índios de profissão, mas este nem estava ali enterrado. Continuava assim a dúvida.
Certo dia, passados quase dois anos, recebemos a incumbência de rezar uma novena de Rosários naquele cemitério. E Nossa Senhora relatou que naquele local, haviam sido enterrados “22 bandidos sanguinários”, de um total de 46, que se achavam ali desde antes de aquela localidade haver sido fundada, já nos séculos passados.
Mais uma vez a perplexidade, porque pessoalmente conheci a maioria dos que estão ali enterrados e os que não conheci pessoalmente, meus pois conheceram e não havia entre eles nem um só bando, quanto mais 46.
Ficava a duvida ainda no ar, entretanto fomos lá rezar como a Mãe pediu. E no segundo dia, assim que começamos a rezar, fechei os olhos e ali, na frente da minha retina, tive a visão exata de como aconteceu tudo aquilo.
Na verdade, tratava-se de prisioneiros que eram trazidos das prisões do interior do estado para a capital, e Nossa Mãe citou os municípios de Bom Retiro e Lages, e vinham por uma trilha aberta na floresta. Entretanto, ao chegarem naquele justo local do cemitério, eles eram assassinados pelos guardas, que colocavam depois a culpa nos índios.
Vi uma fila enorme homens mortos, amarrados com correntes, deitados lado a lado, todos magros, sofridos, rasgados, lavados em sangue, por facões, quem sabe nem tiros gastaram com eles pois iam indefesos e acorrentados.
Havia por perto diversos homens, todos armados com espingardas e facões, que usavam as mesmas roupas das épocas antigas, assim como se vê nas fotos.
Vi o rosto do comandante daquela atrocidade, bem gordo e forte, vestindo paletó branco e bem largo, chapéu também branco como do “Al Capone”, e que ria diabolicamente daquilo tudo. A cada piscar e fechar de olhos uma nova visão se formava, clara e nítida.
Vi também o buraco ou toca onde jogaram depois os corpos daquelas pobres criaturas, onde os porcos do mato e outros animais comeram os cadáveres durante longo tempo, vi como estes animais entravam e saiam de dentro daquele buraco imundo, todos sujos, e como arrastavam os ossos em todas as direções. De fato, o chão da floresta ficou totalmente pisoteado, pela presença de inúmeros destes animais. Vi tudo isto claramente. E levou muito tempo até que consu
missem todos aqueles corpos.
Como se tratava de um fato histórico, um dos membros da equipe, de Florianópolis, foi pesquisar nos registros antigos e verificou que realmente isso acontecia. E os guardas, matavam estes prisioneiros para ganhar a diária, pois recebiam pelo transporte deles. E agindo assim, não precisavam se incomodar com os bandidos, recebendo o soldo sem trabalho maior. As autoridades, temerosas destes índios, jamais vieram aqui verificar.
E assim, os corpos dos bandidos, 46 assassinados ao todo, foram jogados naquela vala, que corre próxima ao atual cemitério, sendo que o crime maior foi cometido exatamente dentro do local onde mais tarde a cidade escolheu para cemitério.
De qualquer forma, restam ainda 18 perdidos – se perderam mais dois depois daquela visita – o que continua me provocando tristeza.
O fato de um destes dois últimos haver se perdido por sacrilégio – comunhão contumaz e consciente em estado de pecado mortal – me vem dar a certeza de que, quanto mais bem servidos de sacerdotes, aumenta a responsabilidade e a culpa dos moradores de uma localidade.
Quem tem bons padres e não aproveita isto, blasfema de certa forma contra Deus. E isso é duramente cobrado na eternidade. Não existe outra explicação.
Isso é desprezar a graça e cuspir nos olhos de Deus.
Mas a história não terminou...
Seguidamente este homem, o comandante responsável pela chacina me está diante dos olhos e por isso decidi perguntar através do Cláudio que era este homem, se tinha um nome para a gente averiguar.
Para minha surpresa dias depois Nossa Senhora deu o nome da pessoa e disse que se chamava Capitão AC...
Então pude constatar que se tratava de um sobrenome de família comum nos municípios vizinhos de colonização italiana, e tratei de ver se alguém conhecia esta pessoa.
Um mês após meu sogro me trouxe a notícia. Ele falara com um neto daquele senhor, que na verdade era filho de um enteado do tal Capitão. Inclusive ele conhecera este homem, o enteado, quando ainda vivo. O capitão deve ter morrido no início do século passado e está enterrado em um cemitério do interior do município vizinho ao nosso.
Tudo se comprova então, com dados históricos, com fatos e com nomes.
Como ele poderia saber disso?
 
 



Artigo Visto: 2184

ATENÇÃO! Todos os artigos deste site são de livre cópia e divulgação desde que sempre sejam citados a fonte www.recadosdoaarao.com.br


Total Visitas Únicas: 4.200.542
Visitas Únicas Hoje: 213
Usuários Online: 52