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29/03/2007
Santa Clara


Histórias - Santa Clara
29/03/2007 13:43:05
Histórias - Santa Clara

Testamento de Santa Clara de Assis

Em nome do Senhor. Assim seja.

Dentre outros benefícios que em dom do nosso Pai de misericórdia recebemos e temos recebido a cada dia, pelos quais devemos dar graças ainda mais à sua glória, encontra-se a nossa grande vocação, pela qual lhe devemos tanto mais gratidão quanto maior e mais perfeita ela seja. Por isso o Apostólo disse: Reconhece a tua vocação. O Filho de Deus por nós se fez caminho, aquele que nos ensinou e mostrou o beato nosso pai Francisco, Seu verdadeiro amante e imitador.

Por isso temos que considerar, amadas irmãs, os benefícios imensos que Deus nos concedeu: mas dentre os outros especialmente aqueles que lhe aprouve operar por meio do seu amado servo, o nosso beato pai Francisco, não apenas depois da minha conversão, mas também enquanto eu ainda vivia nas vaidades do mundo. Quando, de facto, esse santo, que não tinha ainda nem irmãos nem amigos, pouco depois da sua conversão, estava ocupado restaurando a igreja de São Damião, onde, tendo sido visitado intimamente pela consolação de Deus, foi inspirado a abandonar completamente o mundo, pela sua grande alegria e iluminação infundidas pelo Espírito Santo profetizou a nosso respeito aquilo que Deus depois veio a realizar. Tendo subido, de facto, no muro da igreja, a alguns pobres que estavam ali perto disse em alta voz em língua francesa: "Vinde e ajudai-me na obra do monastério de São Damião, porque logo ali viverão senhoras, cuja santa vida dará glória ao nosso Pai do Céu na sua santa Igreja universal".

Nesses fatos, portanto, podemos perceber o abundante amor de Deus por nós, porque através do seu santo dignou-se a dizer essas coisas a respeito da nossa vocação e eleição, pela sua abundante misericórdia e caridade. E não apenas em relação a nós o beatíssimo nosso pai profetizou essas coisas, mas também em relação a outras, que responderiam à santa vocação para a qual Deus nos chamou.

Portanto, com quanta solícita disponibilidade e com quanto ardor da mente e do corpo devemos pôr em prática os mandamentos de Deus e do nosso pai, para que a Deus, com a sua própria ajuda, possamos devolver multiplicado o talento que nos foi confiado! O próprio Deus quis que fôssemos modelo, em exemplo e em imagem especular, para as outras, mas também para as nossas irmãs que o Senhor chamou para a nossa vocação, para que também elas sejam, para aqueles que vivem no mundo, espelho exemplo.

Deus nos chamou a tão grandes coisas, para que possam espelhar-se em nós aquelas que são para outras espelho e exemplo, devemos bendizer muito o Senhor e louvá-lo e estimular-nos a fazer o melhor no Senhor. Portanto, se tivermos vivido segundo a já mencionada regra, deixaremos às outras um nobre exemplo e adquireremos o prémio da beatitude eterna com uma fadiga brevíssima.

Depois que ao altíssimo Pai do Céu, pela sua misericórdia e graça, aprouve iluminar o meu coração para que fizesse penitência segundo o exemplo e instrução do beatíssimo nosso pai Francisco, pouco depois da sua conversão, junto a poucas irmãs que Deus tinha-me dado logo após a minha conversão, lhe prometi voluntariamente obediência segundo o lume da graça que nos foi dada por Deus, pela sua vida e pela sua doutrina digna de louvor.

Considerando, mais tarde, o beato Francisco, que éramos fracas e frágeis no corpo e todavia não recusávamos nenhuma privação, fadiga, tribulação ou desprezo e ofensa da parte do mundo, mas, pelo contrário, considerávamos essas coisas grandes alegrias, seguindo o exemplo dos santos e de seus frades, como ele mesmo e os seus frades puderam frequentemente constatar, alegrou-se muito no Senhor. E movido por piedade por nós, assumiu o compromisso de ter sempre, ele e a sua Religião, um cuidado amoroso e uma especial solicitude para conosco, como tem pelos seus frades.

E assim, pela vontade de Deus e do beatíssimo nosso pai Francisco, fomos à igreja de São Damião para ali viver, e ali o Senhor pela su
a misericórdia e graça em pouco tempo nos multiplicou, para que se realizasse aquilo que dissera por meio de seu santo; anteriormente havíamos, de facto, morado em um outro lugar, ainda que por pouco tempo.

Em seguida escreveu para nós a regra de vida, e em primeiro lugar isto, que permanecessemos sempre na santa pobreza. Não apenas exortou-nos durante a sua vida com muitos discursos e exemplos de amor e de observância à santíssima pobreza, mas entregou-nos também muitos escritos, para que depois da sua morte jamais nos afastássemos dela; como também o Filho de Deus enquanto viveu no mundo jamais quis afastar-se da santa pobreza. E o beatíssimo nosso pai Francisco, seguindo as suas pegadas, nunca se afastou, com o exemplo e com a doutrina, enquanto viveu, da sua santa pobreza, que escolheu para si e para os seus frades.

Por isso eu, Clara, serva indigna de Cristo e das pobres irmãs do monastério de São Damião, considerei com as minhas outras irmãs a nossa altíssima profissão e o mandamento de um tão grande pai; considerei também a fragilidade das outras, que temiam por nós depois da morte do santo nosso pai Francisco, nossa coluna, única consolação e sustento abaixo de Deus. Assim, muitas vezes, voluntariamente ligamo-nos em obediência à santíssima pobreza, nossa senhora, para que depois da minha morte as irmãs, aquelas de agora e aquelas que virão, não possam jamais destacar-se dela.

E como eu fui sempre ardente e disposta a praticar, e a fazer com que as outras praticassem a santa pobreza, que prometemos a Deus e ao nosso santo pai Francisco, assim estejam obrigadas aquelas que irão me suceder no meu ofício a praticá-la e a fazer com que seja praticada pelas outras. Aliás, fui também solícita, por maior cautela, a fazer corroborar pelo Papa Inocêncio, sob o qual iniciamos, e pelos seus outros sucessores, com as suas disposições, a nossa profissão da santíssima pobreza, que prometemos também ao nosso pai, para que em tempo algum nos afastemos dela.

Por isso, ajoelhada e prostrada de corpo e alma, confio à santa mãe Igreja romana, ao Sumo Pontífice, e especiamente ao senhor Cardeal, todas as minhas irmãs que existem agora e que virão, para que por amor àquele Senhor, que pobre foi colocado no presépio, pobre viveu no mundo, e nú permaneceu no patíbulo, faça sempre que o seu pequeno rebanho, que Deus Pai criou na sua santa Igreja, pratique com palavras e com o exemplo do beato pai Francisco, o seguir da pobreza e da humildade do seu amado Filho e da gloriosa Virgem sua mãe, a santa pobreza que prometemos a Deus e ao beatíssimo nosso pai Francisco, e se compraza de inflamá-las e de nela conservá-las sempre.

E assim como o Senhor nos deu o beatíssimo nosso pai Francisco como fundador, semeador e sustento do nosso serviço de Cristo, o qual, além disso, enquanto viveu, foi solícito no cultivar e nutrir sempre com as palavras e com as obras a mim, sua plantinha, assim eu confio as minhas outras irmãs, aquelas de agora e aquelas que virão, ao sucessor do beato nosso pai Francisco e a toda a Religião, para que nos ajudem a progredir sempre no servir a Deus e na prática sempre fiel da santíssima pobreza.

Se, porém, acontecer um dia que as irmãs deixem este lugar e se transfiram para um outro, sejam não menos obrigadas a manter depois da minha morte, onde quer que se encontrem, a prática da mencionada regra da pobreza, que prometemos a Deus e ao beato nosso pai Francisco. Esteja, porém, sempre atenta e solícita aquela que terá o meu ofício, assim como as outras irmãs, para que em torno ao novo lugar não adquiram ou aceitem mais terra do que aquela que requer a pobreza mais rigorosa para cultivar um horto. E, se for necessário, para a conveniência e isolamento do monastério, possuir mais terra além do recinto do horto, não permitam que seja adquirida mais do que requer a pobreza mais rigorosa; e não seja aquela terra absolutamente cultivada, nem semeada, mas permaneça sempre intacta e inculta.

Admoesto e exorto no Senhor Jesus Cristo todas as minhas irmãs, aquelas de agora e aque
las que virão, a esforçar-se para imitar o caminho da santa simplicidade, humildade e pobreza, e também a rectidão de uma vida santa, como desde o início da nossa conversão a Cristo nos foi ensinado pelo beato nosso pai Francisco; e que assim, não por nosso mérito mas unicamente pela misericórdia e graça d'Aquele que dá, o próprio Pai de misericóridia, exalem sempre o perfume da boa fama tanto para as distantes quanto para as próximas.

E, amando-vos do amor de Cristo, reciprocamente, mostrai por fora com as obras o amor que tendes dentro para que, provocadas por esse exemplo, as irmãs cresçam sempre no amor de Deus e na caridade recíproca.

Rogo, além disso, àquela que estará no governo das irmãs, que se empenhe para superar as outras pelas suas virtudes e pela santidade da sua vida, mais que pelo ofício, de maneira que, provocadas pelo seu exemplo, as irmãs lhe obedeçam não tanto pelo ofício, mas principalmente por amor. Seja, além disso, discreta e providente no que diz respeito as suas Irmãs, como uma boa mãe para as suas filhas; e se esforce para atender particularmente aquelas que Deus lhe dará, de acordo com a necessidade de cada uma. Seja também tão benigna e acessível que elas possam manifestar livremente as suas necessidades, e a ela recorrer em qualquer momento em confidência, da forma que lhes parecer conveniente, tanto para si como para as suas irmãs.

As irmãs que são submetidas, recordem-se que renegaram a sua vontade por Deus. Por isso quero que obedeçam à sua Mãe como prometeram ao Senhor espontaneamente; para que a Mãe, vendo a caridade, a humildade, a unidade recíproca, carregue com mais facilidade todo o peso que o ofício comporta, e aquilo que é pesado e amargo, em razão das suas vidas santas para ela transforme-se em doçura.

E como é estreito o caminho e a vereda, e estreita a porta através da qual se caminha e se entra na vida, poucos são aqueles que caminham e que entram por ela; e se existem alguns que a percorrem por algum tempo, pouquíssimos são aqueles que perseveram. Mas benditos aqueles a quem foi concedido percorrê-la e nela perseverar até o fim.

Vigiemos, então, agora que entramos no caminho do Senhor, para dele não nos desviarmos jamais por nossa culpa, negligência e ignorância, para não ofender um tão grande Senhor, e a sua Mãe Virgem, e a Igreja triunfante, e também aquela militante. Está escrito: Malditos aqueles que desviam-se dos teus mandamentos.

Por isso me ajoelho diante do Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, para que com o sufrágio dos méritos da gloriosa Virgem Maria Sua mãe, e do beatíssimo nosso pai Francisco, e de todos os santos, o próprio senhor, que nos deu o bom princípio, nos conceda o progresso, e também nos dê sempre a perseverança final. Amém.

Deixo escritas essas coisas a vós, caríssimas e amantíssimas irmãs, actuais e futuras, para que sejam postas em prática, em sinal da bênçao do Senhor, e do beatíssimo nosso pai Francisco, e da bênção da vossa mãe e serva.



Clara de Assis



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