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24/06/2005
Desapegar-se


Montanha - 07 Desapegar-se
Montanha - 07 Desapegar-se

6ª MONTANHA
O DESAPEGO (25/06/04)
 
     Continuando em nossa caminhada pelas cordilheiras de nossa existência, vamos hoje meditar num ponto crucial, assombrosamente difícil e quase nunca entendido por homem algum. De fato, são tão poucas as pessoas que já conseguiram atingir um tal grau de desapego das coisas, dos bens, das pessoas e de tudo aquilo que vem do mundo – até como prova de verdadeiro amor a Deus – que se a terra necessitasse disso para existir, ela já teria desaparecido para sempre.
 
     Tal como os outros pontos sobre os quais já temos meditado, também este é uma antítese do amor a Deus: quanto mais apegados ao mundo finito e a tudo que vem dele, menos estamos ligados em Deus, ao Eterno e a aquilo que jamais termina. E menos O amamos, é óbvio! Aliás, penso que, pelo desapego de tudo aquilo quem vem do mundo, é que se mede a verdadeira sabedoria de um homem, ou uma mulher. Quem se liga no mundo que passa, passa junto com o mundo e morre com ele. Quem se liga em Deus Eterno, com Ele ficará para sempre.
 
     Isto se dá pela dependência exagerada dos nossos cinco sentidos que nos enfeitiçam e nos enganam, embora tenhamos, todos, recebido de Deus o Dom e a Graça de nos desprendermos deles. Ou seja: os sentidos nos prendem ao mundo miserável e nos enganam com suas fantasias e ilusões. Em verdade nós sempre preferimos o caminho que o olhar observa, que o ouvido escuta, que a mão toca, que o olfato percebe, que o paladar aprecia – embora levem tantas vezes à morte da alma – que a via do espírito que conduz ao Eterno e à salvação. Esta a grande sabedoria: desprender-se do mundo, ligar-se em Deus.
 
     Na realidade o apego exagerado às coisas do mundo, tem como mestres e guias dois dos mais nefastos vícios capitais: orgulho e inveja! O “ser” e o “ter”, são nosso “calcanhar de Aquiles”. O mundo nos apresenta seus atrativos, cada vez mais vistosos, mais convidativos, mais apetitosos, mais aparentemente perfeitos, de sorte que nos enfeitiçam e nos fazem desejar ardentemente. Então a pessoa tem um aparelho de televisão preto e branco, e vendo o vizinho com um colorido, ou assistindo a propaganda na TV, logo alimenta dois desejos intrinsecamente maus em seu coração: ter um igual e ter um melhor e de preferência maior! E a partir desta fisgada do maldito, faz até o impossível para possuir o objeto de seus desejos, nem que seja se encher de dívidas até o pescoço.
 
     E assim acontece com bens maiores, como uma casa, um automóvel, uma camionete, um iate, um avião e sei mais o quê. O que alimenta o desejo de posse, não é um simples sentido de necessidade, mas primeiro a inveja de possuir um igual, depois o orgulho de ter um melhor, um maior, um mais caro, um mais bonito, nunca se está satisfeito. É deste vil artifício que a propaganda se utiliza, para enfeitiçar corações, prender vidas e matar as almas dos tolos. Sim e escravizar a milhões de consumidores incautos e os distanciar de Deus, o Sumo Bem!
 
     De fato, hoje podemos afirmar com certeza, que mais de metade da humanidade que participa do mercado de consumo, é escrava da moda, é escrava da mídia, é escrava do mundo e de suas insinuações malignas. Quando uma mulher não mais consegue vestir uma calça que não seja apertada e insinuante, ou de corte baixo e provocativo, ou uma blusa que deixe à mostra metade dos seios, algo que “valorize” o seu corpo mortal, finito, que a terra haverá de comer – ela de fato já perdeu a luta para a inveja e o orgulho. Ela já cuspiu na própria alma e à busca renegar!
 
     Sim, ela se tornou escrava de satanás, porque já não consegue mais ter consciência do fato de que está conduzindo os homens ao pecado, e sendo causa de condenação para si própria. Porque ela, invariavelmente, e todas elas que assim se vestem, estão pecando contra o sexo mandamento, nada a justifica. E, pior, sabem disto, mas justificam com a tola e
enganosa frase que o “velho” – Lúcifer é assim chamado pelos demônios no inferno – maldito lhes ensinou: Todas usam! Sim, todas vão para a perdição, e eu também vou!
 
     E assim vai com toda a moda e todo o modismo, mesmo que passageiro. As pessoas preferem decididamente afogar a consciência que as acusa, do que se exporem ao ridículo de merecer um olhar de desprezo, um comentário desairoso sobre sua vestimenta. Todas as mulheres que se vestem com estas modas escandalosas, sabem que estas roupas todas atraem os olhares dos homens, muitas vezes olhares de cobiça que as degradam. Mas com certeza aceitam e preferem correr este risco, acumulando com isso pecados sobre pecados e culpas sobre culpas. Elas se apegam em si, no seu corpo, na sua estética, no seu visual e esquecem que tudo isso nada tem a ver com as coisas de Deus.
 
     Na verdade as pessoas não mais se guiam pelos parâmetros da moral, da decência e do decoro, conforme a lei natural e a Lei de Deus, porque chegamos a um tal ponto em que uma mulher que se veste normal, castamente, passa a se sentir como se estivesse nua se aparecer diante das outras com roupa decente. Ela se sente mal, porque como atrai olhares de escárnio e sorrisinhos de mofa. É tida por “cafona” e coisas assim. E acontece até que seus namorados e maridos, se sentem mal quando suas companheiras não estão “na moda”. Preferem entrega-las aos olhares do mundo, que lhes resguardar a castidade e a santidade tão queridas e apreciadas por Deus.
 
    E assim, embora estes homens não queiram que suas mulheres sejam objeto de cobiça dos outros, exigem que elas se vistam pecaminosamente, para não parecerem caretas.  Ou seja, inverteu-se a ordem e o sentido das coisas e de tal forma distorceram-se as mentes, que finalmente o demônio conseguiu fazer sumir a noção de pecado. Com isso chegamos às portas do abismo eterno.
 
     E não adianta dizer para o mundo – muito menos para Deus – que elas já não mais conseguem encontrar nas prateleiras das lojas uma calça ou uma roupa decente; esta desculpa serve apenas para elas próprias e é satanás quem ensina a dar. Da mesma forma o homem, com os tênis e sapatos, e até modismos hediondos e abomináveis a Deus como tatuagens de qualquer tipo e tamanho, pois cada vez menos pessoas podem se dizer livres dos apelos da moda e da escravização dos modismos passageiros.
 
     Ou seja, as pessoas se apegam a coisas mundanas e passageiras como a moda, e são capazes dos maiores absurdos para isto. Noutro dia, soube que um par de tênis custa na loja mais de R$ 700,00. Vejam o absurdo da cobiça: muitos destes tênis são fabricados aqui em Santa Catarina, em fábricas moderníssimas, que os fabricam para as grandes “marcas”. Ora, aqui, sem o selo, sem a marca de satanás – já digo assim – eles não custam mais de R$ 35,00, ou seja, vinte vezes a menos. Mas veja se as pessoas usam um tênis que não tem o carimbo da marca famosa! Entretanto é exatamente o mesmo calçado. Mundo de escravos, todos apegados a aquilo que morre e apodrece!
    
     Ontem mesmo meu filho veio dizer que deveríamos trocar nosso aparelho de TV, porque “já tem alguns mais modernos”. Então passou a desfilar as qualidades e os preços de cada um. Este de tantas polegadas, com tais e quais controles, custa só R$ 3.900,00, mas tem aquele de tela plana, de plasma, que custa R$ 24.000,00... Sabe, quase desmaiei com este preço. E saber que tantas pessoas compram estas coisas caríssimas, até para se esnobar diante dos amigos. Quanta futilidade, quanto desperdício, quanta loucura!
 
     Numa das montanhas a seguir, vou contar um exemplo de minha vida, que me foi das coisas mais incríveis que me aconteceu e me fez mudar radicalmente de vida e aconteceu quando cursava a Universidade. E isso não levou mais que dez minutos, mas a história fica para depois. Sabem, quando a gente passa por um choque destes, se percebe o quanto é idiota prender-se à coisas miseráveis, mesquinhas e sem sentido!
 
     Com aquele choque, eu de imediato me desprendi dos apelos da moda,
tomei nojo dos estudos, me enchi dos professores, e passei a ser livre, solto, leve, desligado de qualquer modismo e de coisas sem sentido. Só a partir dali comecei a ser feliz. Eis porque digo: desapeguem-se das coisas do mundo e de seus modismos tolos e passageiros! Vivamos para o Alto! Só assim se consegue ser feliz!
 
    Enfim, todos nós deveríamos ter um tal desprendimento do mundo, do dinheiro, do ser e do ter, que mesmo que fôssemos a pessoa mais importante da terra, e tivéssemos uma conta bancária de um bilhão de dólares “cash”, isso não nos deveria fazer tremer nem um dedo da mão, quanto mais o corpo inteiro. Isso não nos deveria tornar diferentes em nada de pessoa alguma, sendo simples e humildes e meio aos mais humildes. Isso nos deveria mais do que nunca fazer lavar os pés uns dos outros, como prova de desapego, eis que a caridade com esta dinheirama toda, nos deveria fazer buscar imensos tesouros no Céu.
 
     Um padre amigo, nos contava sempre uma atitude que o impressionava demais. Numa das cidades onde ele fora o pároco, havia o homem mais rico, industrial e mesmo assim era bom católico e ativo participante nas promoções da Igreja. Pois em todas as festas da paróquia, ao invés de ele assumir o papel de caixa geral e estar próximo do dinheiro, a função que ele escolhia era a de limpar os banheiros e catar o lixo. E ele era visto a festa inteira, de avental, munido de um espeto e um saco, a catar plásticos e latinhas, também a limpar os bacios. Ora, quantos homens ricos existem assim no mundo?
 
     Bem-aventurados os que têm um coração pobre, porque deles é o Reino dos Céus. De fato, os que têm um coração pobre, mesmo sendo ricos financeiramente – ou não sendo, não importa – fatalmente se ligam em Deus, até porque compreendem o quanto é fugaz a riqueza, o quanto a vida é passageira. Uma enorme fortuna pode dissipar-se num minuto! Uma grande inteligência e grande sabedoria podem sucumbir, podem desaparecer num estalar de dedos. Uma doença grave, um simples acidente, uma batidinha na cabeça... e lá se fomos nós...
 
     Ontem me telefonou um senhor, que hoje trabalha pelo Salvai Almas divulgando os livros e rezando nos cemitérios, e falou-me que já foi riquíssimo, embora seja ainda um homem de grandes posses. Disse que já possuiu milhares de hectares de terra, fazendas, gado, balsas, aviões e madeireiras, mas que não lamenta haver largado tudo isto – aliás não dá mais nenhum valor para estas coisas, a simples subsistência digna lhe basta – tanto que agora é que se sente feliz. Isso nos prova que ainda existem Arimatéias e Lázaros neste mundo, que compreendem a futilidade do ter, quando não se tem em Deus.
 
     Na verdade, para os ricos em maior conta e também para os pobres em menor, grande prova de sabedoria é usar dos bens que Deus nos colocou à disposição, não somente para crescer mais, mas sim para juntar tesouros no Céu, onde o ladrão não rouba nem a traça corrói. Na verdade, os bens deste mundo visível – embora pertencendo todos a Deus – são administrados por satanás, que deles faz uso para seduzir aos incautos. E assim, no fato de vencer o mundo e suas seduções é que está a grande prova de fortaleza que conduz à sabedoria, que leva cada vez mais para Deus.
 
     Enfim, se tudo pertence a Deus e tudo vem Dele, o Criador Único de todas as coisas. Se Deus é Tudo e nós não somos nada, por que motivo o orgulho? Que adianta a inveja? Que adiantam orgulho do ser e do ter? Grande sabedoria então, é ser em Deus! Grande riqueza então, é pertencer a Ele que em troca nos dará TUDO! Quem é, em Deus, jamais será confundido! Quem pertence a Deus, jamais terá falta de algo! Quem é para o mundo, morre! Quem se liga no mundo, liga-se em satanás, o eterno perdedor e pode perder facilmente a alma. Basta se apegar avaramente aos míseros bocados que o mundo oferece.
 
     Que fazer então? Deixar tudo nas mãos de Deus, sendo apenas administradores Dele. Usar estes bens para preparar a nossa feliz eternidade. Mandar com eles, bom material de construção para
o Céu, porque isso nos garantirá uma bela morada eterna. E isso se faz partilhando tudo! “Quem tem duas camisas, dê uma ao seu irmão que precisa”! Quem tem bastante comida, que reparta com largueza com aqueles que nada têm. Reparta não somente a sobra, mas aquilo de bom uso. Reparta também bons livros, ajude as obras de caridade que realmente vêm de Deus, também a Igreja e suas obras. Doe, além do que é normal, e doe até daquilo que lhe pode fazer falta. Em Deus, nada lhe faltará!
 
     Por último: Faça esta experiência: ao encontrar, num dia de inverno, a alguém tremendo de frio, você, que está usando duas blusas, experimente tirar uma, ali, no meio da rua e dar a ele. Faça isso e verá o incrível resultado. Ou esta: Você está num restaurante fartando-se e vê uma família pobre, ou apenas um só indivíduo rondando a casa; experimente pagar para ele um almoço, uma janta, um café. Se você fizer isso de coração, jamais terá falta de algo. Se lhe faltar algo: debite na conta de Deus!
 
     Sim, no mundo existe miséria, porque é grande a mesquinharia. No mundo existe fome, porque existe o apego exagerado de quem não partilha. No mundo existem pobres, porque se apegaram ao mundo e não a Deus. Se todos se ligassem de fato em Deus, nada faltaria para ninguém: casa, comida, roupa, trabalhos!
 
     Mas, atenção! Jesus falou claramente:  Assim, pois, qualquer um de vós, que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo (Lc 14,33). É preciso até renunciar-se a si mesmo por Ele!
 
E você? Se pode dizer um verdadeiro discípulo de Jesus?
 
Arnaldo (Aarão)
 
 
 
 
         



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