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O Papa
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22/08/2005
Vigilia com jovens


O Papa - 002 Vigilia com jovens
O Papa - 002 Vigilia com jovens

Discurso do Papa na vigília com jovens


COLÔNIA, sábado, 19 de agosto de 2005 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que Bento XVI pronunciou na Vigília das Jornadas Mundiais da Juventude, na noite deste sábado.
* * *


[Em alemão]

Queridos jovens:
Em nossa peregrinação com os misteriosos Magos do Oriente chegamos ao momento que S. Mateus descreve assim no seu Evangelho: «Entraram na casa (sobre a qual parou a estrela), viram o menino com Maria, e caindo de joelhos, o adoraram» (Mt 2, 11). O caminho exterior daqueles homens terminou. Chegaram à meta. Mas neste ponto começa um novo caminho para eles, uma peregrinação interior que muda toda sua vida. Porque seguramente imaginaram a este Rei recém-nascido de modo diferente. Haviam parado precisamente em Jerusalém para obter do Rei local informação sobre o Rei prometido que havia nascido. Sabiam que o mundo estava desordenado e, por isso, estavam inquietos. Estavam convencidos de que Deus existia, e que era um Deus justo e bondoso. Talvez tivessem ouvido falar também das grandes profecias nas quais os profetas de Israel haviam anunciado um Rei que estaria em íntima harmonia com Deus e que, em seu nome e de sua parte, restabeleceria a ordem no mundo. Haviam saído a caminho para encontrar este Rei; no mais profundo de seu ser buscavam o direito, a justiça que devia vir de Deus, e que queriam servir a esse Rei, prostrarem-se a seus pés, e assim servir também eles à renovação do mundo. Eram dessas pessoas que «tem fome e sede de justiça» (Mt 5, 6). Uma fome e sede que lhes levou a empreender o caminho; fizeram-se peregrinos para alcançar a justiça que esperavam de Deus e para colocarem-se a seu serviço.

Ainda que outros tenha ficado em casa e lhes consideravam utópicos e sonhadores, na realidade, eram seres com os pés na terra, e sabiam que para mudar o mundo falta dispor de poder. Por isso, não podiam buscar ao menino da promessa senão no palácio do Rei. Contudo, agora se prostram diante de uma criatura de gente pobre, e logo se interaram de que Herodes --o Rei ao qual tinham ido-- lhe observava com seu poder, de modo que à família não restava outra opção do que a fuga e o exílio. O novo Rei era muito diferente do que esperavam. Deviam, pois, aprender que Deus é diferente de como costumamos imaginá-lo. Aqui começou seu caminho interior. Começou no mesmo momento no qual se prostraram diante deste Menino e o reconheceram como o Rei prometido. Mas deviam ainda interiorizar estes gozosos gestos.

[Em Inglês]
Deviam mudar sua idéia sobre o poder, sobre Deus e sobre o homem e, com isso mudar também eles mesmos. Agora tinham visto: o poder de Deus é diferente do poder dos grandes do mundo. Seu modo de atuar é diferente de como imaginamos, e de como quiséramos impor também a Ele. Neste mundo, Deus não faz competição às formas terrenas do poder. Não contrapõe seus exércitos a outros exércitos. Quando Jesus estava no Horto das Oliveiras, Deus não lhe envia doze legiões de anjos para ajudá-lo (cf. Mt 26, 53). Ao poder estridente e pomposo deste mundo, Ele contrapõe o poder inerme do amor, que na Crus --e depois sempre na história-- sucumbe e, contudo, constitui a nova realidade divina, que se opõe à injustiça e instaura o Reino de Deus. Deus é diferente; agora se dão conta disso. E isso significa que agora eles mesmos tem que ser diferentes, têm que aprender o estilo de Deus.

Tinham vindo para colocarem-se ao serviço deste Rei, para modelar sua majestade sobre a sua. Este era o sentido de seu gesto de acatamento, de sua adoração. Uma adoração que compreendia também seus presentes --ouro, incenso e mirra--, dons que se faziam a um Rei considerado divino. A adoração tem um conteúdo e comporta também uma doação. Os personagens que vinham do Oriente, com o gesto de adoração, queriam reconhecer a este m
enino como seu Rei e por a seu serviço o próprio poder e as próprias possibilidades, seguindo um caminho justo. Servindo-lhe e seguindo-lhe queriam servir junto a Ele a causa da justiça e do bem no mundo. Nisto tinham razão. Mas agora aprendem que isto não se pode fazer simplesmente através de ordens lançadas do alto de um trono. Aprendem que devem se entregar a si mesmos: um dom menor que este é pouco para este Rei. Aprendem que sua vida deve acomodar-se a este modo divino de exercer o poder, a este modo de ser de Deus próprio. Hão de converter-se em homens da verdade, do direito, da bondade, do perdão, da misericórdia. Já não se perguntarão: Para que me serve isto? Mas se perguntarão melhor: Como posso servir para que Deus esteja presente no mundo? Têm que aprender a perderem-se a si mesmos e, precisamente assim, a encontrarem-se a si mesmos. Saindo de Jerusalém, permanecerão seguindo as pegadas do verdadeiro Rei, no seguimento de Jesus.

[Em francês]
Queridos amigos, podemos nos perguntar o que tudo isto significa para nós. Pois o que acabamos de dizer sobre a natureza diversa de Deus, que há de orientar nossas vidas, soa bem, mas fica algo vago e confuso. Por isso Deus nos deu exemplos. Os Magos que vêm do oriente são só os primeiros de uma larga lista de homens e mulheres que em sua vida buscaram constantemente com os olhos a estrela de Deus, que buscaram ao Deus que está próximo de nós, seres humanos, e que nos indica o caminho. É a multidão dos santos --conhecidos ou desconhecidos-- mediante os quais o Senhor nos abriu ao largo da história o Evangelho, folheando suas páginas; e o está fazendo ainda. Em suas vidas se revela a riqueza do Evangelho como em um grande livro ilustrado. São a estrela luminosa que Deus tem deixado no transcurso da história, e continua deixando ainda. Meu venerado predecessor, o Papa João Paulo II, beatificou e canonizou um grande número de pessoas, tanto de tempos recentes como distantes. Nestas figuras quis demonstrar-nos como se consegue ser cristãos; como se consegue levar uma vida do modo justo; a viver à maneira de Deus. Os beatos e os santos foram pessoas que não quiseram simplesmente entregar-se, porque foram alcançados pela luz de Cristo. Deste modo, eles nos indicam a via para ser felizes e nos mostram como se consegue ser pessoas verdadeiramente humanas. Nas vicissitudes da história, foram os verdadeiros reformadores que tantas vezes remontaram à humanidade dos vales obscuros nos quais está sempre o perigo de precipitar; iluminaram-na sempre de novo, o suficiente para dar a possibilidade de aceitar --talvez na dor-- a palavra de Deus ao terminar da obra da criação; «E era muito bom». Basta pensar em figuras como S. Bento, S. Francisco de Assis, S. Teresa D’Ávila, S. Inácio de Loyola, S. Carlos Borromeu, aos fundadores das ordens religiosas do século XVIII, que animaram e orientaram o movimento social, ou aos santos de nosso tempo; Maximiliano Kolbe, Edith Stein, Madre Teresa, Padre Pio. Contemplando estas figuras compreendemos o que significa «adorar» e o que quer dizer viver na medida do Menino de Belém, na medida de Jesus Cristo e de Deus mesmo.

[Em espanhol]
Os santos, dicemos, são os verdadeiros reformadores. Agora quisera expressar de maneira mais radical ainda; só dos santos, só de Deus, provem a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo. No século passado vivemos revoluções cujo programa comum foi não esperar nada de Deus, mas tomar totalmente nas próprias mãos a causa do mundo para transformar suas condições. E vimos que, deste modo, um ponto de vista humano e parcial se tomou como critério absoluto de orientação. A absolutização do que não é absoluto, mas relativo, se chama totalitarismo. Não liberta ao homem, mas o priva de sua dignidade e o escraviza. Não são as ideologias que salvam o mundo, mas somente dirigir o olhar ao Deus vivente, que é nosso criador, o garantidor de nossa liberdade, o garantidor do que é realmente bom e autêntico. A revolução verdadeira consiste unicamente em olhar a Deus, que á a medida do que é ju
sto e, ao mesmo tempo, é o amor eterno. E, o que pode nos salvar senão o amor?

Queridos amigos, permiti-me que acrescente só umas breves idéias. Muitos falam de Deus; no nome de Deus se prega também o ódio e se pratica a violência. Portanto, é importante descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Os Magos do Oriente o encontraram quando se prostraram diante do menino de Belém. «Quem viu a mim, viu ao Pai», disse Jesus a Felipe (Jo 14,9). Em Jesus Cristo, que por nós permitiu que seu coração fosse transpassado, nEle se manifestou o verdadeiro rosto de Deus. Segui-lo-emos junto com a multidão dos que nos precederam. Então iremos pelo caminho justo.

[Em italiano]
Isto significa que não nos construímos um Deus particular, um Jesus particular, mas que cremos e nos prostramos diante do Jesus que nos mostram as Sagradas Escrituras, e que na grande comunidade de fieis chamada Igreja se manifesta vivente, sempre conosco e ao mesmo tempo sempre diante de nós. Pode-se criticar muito à Igreja. Sabemos, e o Senhor mesmo nos disse: é uma rede com peixes bons e maus, um campo com trigo e joio. O Papa João Paulo II, que nos mostrou o verdadeiro rosto da Igreja nos numerosos santos que proclamou, também pediu perdão pelo mal causado no transcurso da história pelas palavras ou os atos de homens da Igreja. Deste modo, também a nós nos fez ver nossa verdadeira imagem, e nos exortou a entrar, com todos nossos defeitos e debilidades, na multidão dos santos que começou a se formar com os Magos do Oriente. No fundo, consola que exista o joio na Igreja. Assim, não obstante todos nossos defeitos, podemos esperar estar ainda entre os que seguem a Jesus, que chamou precisamente aos pecadores. A Igreja é como uma família humana, mas é também, ao mesmo tempo, a grande família de Deus, mediante a qual Ele estabeleceu um espaço de comunhão e unidade em todos os continentes, culturas e nações. Por isso nos alegramos de pertencer a esta grande família; de ter irmãos e amigos em todo o mundo. Justo aqui, em Colônia, experimentamos o lindo que é pertencer a uma família tão grande como o mundo, que compreende o céu e a terra, o passado, o presente e o futuro de todas as partes da terra. Nesta grande comitiva de peregrinos, caminhamos juntos com Cristo, caminhamos com a estrela que ilumina a história.

[Em alemão]
«Entraram na casa, viram ao menino com Maria, sua mãe, e caindo de joelhos o adoraram» (Mt 2, 11). Queridos amigos, esta não é uma história distante, de tempos passados. É uma presença. Aqui, na Hóstia consagrada. Ele está diante de nós e entre nós. Como então, se oculta misteriosamente em um santo silêncio e, como então, desvela precisamente assim o verdadeiro rosto de Deus. Por nós se fez grão de trigo que cai na terra e morre, e dá fruto até o final do mundo (cf. Jo 12, 24). Ele está presente, como então em Belém. E nos convida a essa peregrinação interior que se chama adoração. Ponhamo-nos agora no caminho para esta peregrinação do espírito, e peçamos a Ele que nos guie. Amem.

[Tradução realizada por Zenit]



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