recadosdoaarao



O Papa
Voltar




27/11/2007
Fala monsenhor


O Papa - Fala monsenhor
27/11/2007 13:53:39
O Papa - Fala monsenhor

Entrevista com MONSENHOR RANJITH


Entrevista de Sua Excia. Mons. Albert Malcolm Ranjith, Arcebispo Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
 
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – No dia 14 de Setembro entrou em vigor o Motu Proprio Summorum Pontificum promulgado pelo Papa Bento XVI, em 7 de Julho de 2007 e dedicado ao rito de São Pio V revisto, em 1962, pelo Papa João XXIII. Com o Motu Proprio (iniciativa promovida por quem tem poder para isso) volta a possibilidade de celebrar com o Missal Tridentino sem necessariamente ter que pedir permissão ao Bispo. Com o Concílio Vaticano II e em particular com a reforma litúrgica de 1970, promovida pelo Papa Paulo VI, o antigo Missal fora substituído pelo novo e, ainda que não tivesse sido jamais abolido, os fiéis para utilizá-lo tinham que pedir a expressa permissão do Bispo. Uma permissão exigida por um outro Motu Proprio: o Ecclesia Dei afflicta firmado pelo Papa João Paulo II, em 2 de Julho de 1988. Hoje, com o novo Motu Proprio, essa permissão não é mais necessária e qualquer "grupo estável" de fiéis pode livremente pedir ao próprio pároco a possibilidade de celebrar seguindo o antigo Missal. A Agência Fides, nesse sentido, dirigiu algumas perguntas a Sua Excia. Monsenhor Albert Malcolm Ranjith, Arcebispo Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
 
Excelência Reverendíssima, qual é, a seu ver o significado profundo do Motu Proprio Summorum Pontificum?
 
“Vejo nessa decisão não só a solicitude do Santo Padre em abrir caminho para a reentrada à plena comunhão da Igreja para os seguidores de Monsenhor Lefebvre, mas também um sinal para toda a Igreja sobre alguns princípios teológico-disciplinares a salvaguardar tendo em vista uma sua profunda renovação, tão desejada pelo Concílio.
 
Parece-me que há nisso um forte desejo do Papa para corrigir aquelas tentações, patentes em alguns ambientes, que vêem o Concílio como um momento de ruptura com o passado, e como um novo início. Basta recordar seu discurso à Cúria Romana, em 22 de Dezembro de 2005. De outro lado, nem o Concílio pensou, nesses termos. Seja em suas escolhas doutrinárias, seja nas litúrgicas, como também nas jurídicas-pastorais, o Concílio foi outro momento de aprofundamento e de atualização da rica herança teológica-espiritual da Igreja na sua história bimilenar. Com o Motu Proprio, o Papa quis afirmar claramente que toda tentação de desprezo dessas veneráveis tradições está fora de lugar. A Mensagem é clara: progresso, sim, mas não às custas, ou sem a história. Também a reforma litúrgica deve ser fiel a tudo aquilo que aconteceu desde o início até hoje, sem exclusões (1).
(1) Com isso ele condena o grave erro de alguns padres e teólogos em achar que este Concíio veio para apagar tudo que a Igreja havia defendido antes, eis chegam ao absurdo de negar até mesmo os dogmas da fé, que são eternos.
 
Por outro lado, não devemos jamais esquecer que, para a Igreja Católica, a Revelação Divina não é algo proveniente apenas da Sagrada Escritura, mas também da Tradição viva da Igreja. Tal fé nos distingue nitidamente das outras manifestações da fé cristã (2). A verdade para nós é aquilo que emerge, por assim dizer, destes dois pólos, isto é, a Sagrada Escritura e a Tradição. Esta posição, para mim, é muito mais rica do que outras visões, porque respeita a liberdade do Senhor a guiar-nos em direção a uma compreensão mais adequada da verdade revelada também através daquilo que acontecerá no futuro. Naturalmente, o processo de discernimento daquilo que emerge será atualizado através do Magistério da Igreja. Ma
s aquilo que devemos recolher é a importância atribuída à Tradição. A Constituição Dogmática Dei Verbum afirmou essa verdade claramente (DV 10).
(2) Aqui ele condena o falso ecumenismo, que tende a equiparar todos os credos e seitas, como se todos tivessem parte da verdade. Isso quando toda a verdade revelada e necessária para a salvação está, sempre esteve, e sempre estará somente com a Igreja Católica. Eles nada têm a nos ensinar em termos de doutrina!
 
Ademais, a Igreja é uma realidade que supera os níveis de uma pura invenção humana. Ela é o Corpo místico de Cristo, a Jerusalém celeste e a estirpe eleita de Deus. Ela, por isso, supera as fronteiras terrestres assim como toda limitação de tempo e é uma realidade que transcende de muito a sua manifestação terrestre e hierárquica. Por isso, nela, aquilo que é recebido, deverá ser transmitido fielmente. Nós não somos nem inventores da verdade, nem os seus donos, mas apenas aqueles que a recebem, e que têm o dever de protegê-la e transmiti-la aos outros. Como dizia São Paulo falando da Eucaristia: “Eu de fato recebi do Senhor aquilo que, por minha vez, vos transmiti” (1Cor 11, 23). O respeito da Tradição não é, portanto, uma livre escolha nossa na busca da verdade, mas a sua base que deve ser aceita. Na Igreja, a fidelidade à Tradição, por isso, é uma atitude essencial da própria Igreja.(3) O Motu Proprio, a meu ver, deve ser entendido também nesse sentido. Ele é um possível estímulo para uma necessária correção de rumo. De fato, em algumas escolhas da reforma litúrgica feita depois do Concílio, foram adotadas orientações que ofuscaram alguns aspetos da Liturgia, melhor refletida da prática precedente, porque, a renovação litúrgica foi entendida por alguns como algo a ser feito totalmente “ex novo” (do novo). Sabemos bem, porém, que tal não foi a intenção da Sacrosanctum Concilium, que destaca que “as novas formas, de qualquer modo, desabrocharão organicamente daquelas já existentes” (SC 23).
(3) Aqui ele reafirma que sem a Tradição não se pode entender toda a verdade que nos foi revelada, porque a Igreja é dinâmica e caminha com o Espírito Santo. Afinal, somente com Pedro está a chave que liga e desliga! E isso elimina o “sola scriptura” protestante, também o “sola fide”. 
 
Uma característica do Pontificado de Bento XVI parece ser a insistência em torno de uma correta hermenêutica do Concílio Vaticano II. Segundo o Senhor, o Motu Proprio "Summorum Pontificum" vai nessa direção? Se sim, em que sentido?
 
"Já quando era Cardeal, em seus escritos, o Papa havia rejeitado certo espírito de exuberância visível em alguns círculos teológicos motivados por um assim chamado "espírito do Concílio" que para ele foi, na realidade, um verdadeiro "anti espírito" ou um "Konzils-Ungeist" (Relação sobre a Fé, São Paulo, 2005, capítulo 2). Cito textualmente tal obra na qual o Papa sublinha: "É preciso opor-se decisivamente a esse esquematismo de um antes e um depois na história da Igreja, totalmente injustificado pelos próprios documentos do Vaticano II, que não fazem senão reafirmar a continuidade do catolicismo" (ibid p. 33).
 
Ora, tal erro de interpretação do Concílio e do caminho histórico-teológico da Igreja influiu sobre todos os setores eclesiásticos, inclusive na Liturgia. Uma certa atitude, de fácil rejeição dos desenvolvimentos eclesiológicos e teológicos, como também dos comportamentos litúrgicos do último milênio, de um lado, e uma ingênua idolização do que teria sido a “mens” da Igreja assim chamada dos primeiros cristãos, de outro lado, teve um influxo de não pouca importância sobre a reforma litúrgico-teológica da era pós conciliar.
 
A rejeição categórica da Missa pré-conciliar, como o resto de uma época já “superada”, foi o resultado dessa mentalidade (4). Tantos viram as coisas desse modo, mas, por graça de Deus, não por todos. A própria Sacrosanctum Concilium, a Constituição Conciliar sobre a Liturgia,
não oferece nenhuma justificação para tal atitude. Seja em seus princípios gerais, seja em suas normas propostas, o Documento é sóbrio e fiel àquilo que significa a vida litúrgica da Igreja. Basta ler o número 23 do dito documento para sermos convencidos de tal espírito de sobriedade.
 
Algumas dessas reformas abandonaram importantes elementos da Liturgia com as relativas considerações teológicas: agora é necessário e importante recuperar esses elementos. O Papa, considera que o rito de São Pio V, revisto pelo Beato João XXIII, é um caminho para a recuperação daqueles elementos ofuscados pela reforma, o Papa deve certamente ter refletido muito sobre sua escolha; sabemos que ele consultou diversos setores da Igreja sobre tal questão e, não obstante algumas posições contrárias, o Papa decidiu permitir a livre celebração daquele Rito. Tal decisão não é tanto, como dizem alguns, um retorno ao passado, quanto a necessidade de tornar a equilibrar de modo íntegro os aspetos eternos, transcendentes e celestiais com os terrestres e comunitários da Liturgia. Essa decisão ajudará a estabelecer eventualmente um equilíbrio também entre o sentido do sagrado e do mistério, de um lado, e o dos gestos externos e dos comportamentos e empenhos sócio-culturais derivantes da Liturgia.
(4) Este espírito do Concilio e a tendência errada de achar que ele tinha passado uma borracha sobre tudo que a Igreja vivera e pregara antes, levou muitos acharem que a Missa em Latim estava abolida. Com isso muitos padres chegaram ao absurdo de queimarem os antigos Missais, que hoje voltam a ser necessários.
 
Quando ainda era Cardeal, Joseph Ratzinger insistia muito sobre a necessidade de ler o Concílio Vaticano II a partir de seu primeiro documento, isto é, da Sacrosanctum Concilium. Por que, conforme o Senhor, os Padres Conciliares quiseram dedicar-se antes de tudo à Liturgia?
 
“Antes de tudo, por trás dessa escolha, estava seguramente a consciência da importância vital da Liturgia para a Igreja. A Liturgia, por assim dizer, é o olho do furacão, porque aquilo que se celebra, é aquilo que se crê e aquilo que se vive: o famoso axioma Lex orandi, lex credendi. Por isso, toda verdadeira reforma da Igreja passa através da Liturgia. Os Padres estavam cônscios de tal importância. Ademais, a reforma litúrgica era um processo já em ação antes mesmo do Concílio a partir sobretudo do Motu Proprio Tra le Sollecitudini de São Pio X e da Mediator Dei de Pio XII.
 
Foi São Pio X que atribuiu à Liturgia a expressão “primeira fonte” do autêntico espírito cristão. Talvez já, também, a existência das estruturas e da experiência de quem se empenhava para o estudo e a introdução de algumas reformas litúrgicas, estimulava os Padres Conciliares a escolher a Liturgia como matéria a considerar como a primeira nas sessões do Concílio. O Papa Paulo VI refletia a mente dos Padres Conciliares sobre a questão, quando disse: “nós aí vemos o obséquio da escala dos valores e deveres: Deus em primeiro lugar; a oração primeira obrigação nossa; a Liturgia primeira fonte da vida divina comunicada a nós, primeira escola da nossa vida espiritual, primeiro dom que podemos dar ao povo cristão…” (Paulo VI, Discurso de encerramento do 2° período do Concílio, 4 de Dezembro de 1963).
 
Muitos leram a publicação do Motu Proprio “Summorum Pontificum” como uma vontade do Pontífice para aproximar a Igreja dos cismáticos lefebvrianos. Segundo o senhor, foi isso mesmo? Vai também nesse sentido o Motu Proprio?
 
“Sim, mas não só assim. O Santo Padre explicando as motivações de sua decisão, seja no texto do Motu Proprio como na carta de apresentação escrita para os Bispos, elenca também outras razões importantes. Naturalmente, ele terá levado em conta o pedido sempre mais crescente, feito por diversos grupos e, sobretudo, pela Sociedade de São Pio X e a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro, assim como também por Associações de Leigos, para a liberalização da Missa de São Pio
V. Assegurar a integração total dos Lefebvrianos era importante também pelo fato de que muitas vezes, no passado, se cometeram erros de julgamento causando inúteis divisões na Igreja, divisões que agora se tornaram quase insuperáveis. O Papa fala desse possível perigo na carta de apresentação do Documento escrita aos Bispos.(5)
(5) Na verdade Dom Lefebvre estava certo em determinado aspecto, e as confusões que levaram a sua excomunhão, fazem parte de um tempo horrível, onde a Igreja começava a ser demolida a partir de seu interior. Uma das vitórias de satanás contra ela foi com certeza a eliminação da Missa de sempre. Que volta agora e para sempre! Sim, embora a nova também seja válida e frutuosa para quem realmente a vive. Afinal, Jesus é a Missa, e se com isso tentaram mudar seu corpo, em síntese e de fato Ele continua o mesmo.
 
Quais são, a seu ver as problemáticas mais urgentes para a justa celebração da Sagrada Liturgia? Quais as instâncias sobre as quais se deveria insistir mais?
 
"Creio que nos crescentes pedidos para a liberalização da Missa de São Pio V, o Papa tenha visto sinais de certo esvaziamento espiritual causado pelo modo com o qual os momentos litúrgicos, são até hoje celebrados na Igreja. Tal dificuldade nasce tanto de certas orientações da reforma litúrgica pós conciliar, que tendiam a reduzir, ou melhor ainda, a confundir aspetos essenciais da fé, quanto de comportamentos aventureiros e pouco fiéis à disciplina litúrgica da própria reforma; o que se constata por toda a parte.
 
Creio que uma das causas para o abandono de alguns elementos importantes, do rito tridentino na realização da reforma pós conciliar por parte de certos setores litúrgicos seja o resultado de um abandono ou de uma sub avaliação daquilo que teria acontecido no segundo milênio da história da Liturgia. Alguns liturgistas viam os desenvolvimentos desse período de um modo antes negativo. Tal juízo é errôneo porque quando se fala da tradição viva da Igreja não se pode escolher aqui e acolá aquilo que concorda com nossas idéias pré-concebidas. A Tradição, considerada em um sentido geral também nos ambientes da ciência, filosofia, ou teologia, é sempre algo vivo que continua a se desenvolver e a progredir também nos momentos altos e baixos da história. Para a Igreja, a Tradição viva é uma das fontes da revelação divina e é fruto de um processo de evolução continua. Isso é verdade também na tradição litúrgica, com o “t” minúsculo. Os desenvolvimentos da Liturgia no segundo milênio têm o seu valor. A Sacrosanctum Concilium não fala de um novo Rito, ou de um momento de ruptura, mas de uma reforma que surja organicamente daquilo que já existe. É por isso que o Papa diz: “na história da Liturgia há crescimento e progresso, mas não há nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, também para nós permanece sagrado e grande, e não pode ser improvisamente totalmente proibido ou, sem mais, considerado nocivo” (Carta aos Bispos, 7 de Julho de 2007). Idolatrar aquilo que aconteceu no primeiro Milênio, com prejuízo do que ocorreu em sucessivo, é, pois, uma atitude pouco científica. Os Padres Conciliares não mostraram tal comportamento.
 
Uma segunda problemática seria aquela de uma crise de obediência para com o Santo Padre (6) que se nota em alguns ambientes. Se tal atitude de autonomia é visível entre alguns eclesiásticos, como também nos níveis mais altos da Igreja, não favorece certamente à nobre missão que Cristo confiou a seu Vigário.
(6) Aqui está certamente a raiz maldita, o câncer purulento que contamina hoje o interior da Igreja Católica. Trata-se da desobediência, ou da não obediência, total, geral, irrestrita, humilde, submissa, consciente, desejada, defendida e amorosa aos documentos da Igreja e do Santo Padre. Depois do Concílio, devido a erra interpretação de certos textos, muitos padres se sentiram na liberdade de inovar na liturgia, e isso aos poucos lhes deu a f
alsa idéia de que tinham total autonomia. Disso derivaram enormes focos de desobediência, que atingiram as Conferências Episcopais, e mesmo partiram delas. Em vista disso, por exemplo, dos últimos sete anos praticamente NENHUM documento do Santo Padre tem sido aplicado em total fidelidade, em todas as dioceses do mundo. Com isso a unidade está sendo dilacerada e a presença de um CISMA é evidente.

 
Ouve-se que, em algumas nações ou dioceses, foram promulgadas pelos Bispos regras que praticamente anulam ou deformam a intenção do Papa. Tal comportamento não é consoante com a dignidade e a nobreza da vocação de um pastor da Igreja. Não digo que todos sejam assim. A maioria dos Bispos e eclesiásticos aceitaram, com o devido sentido de reverência e de obediência, a vontade do Papa. Isso é verdadeiramente louvável. Entretanto, houve vozes de protesto por parte de alguns Bispos.
 
Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que tal decisão foi necessária porque, como diz o Papa, a Santa Missa: “em muitos lugares se celebrava de modo fiel às prescrições do novo Missal, mas isso era, sem mais, entendido como uma autorização e até como uma obrigação para a criatividade, a qual leva freqüentemente a deformações da liturgia até o limite do suportável”. “Falo por experiência”, continua o Papa “porque vivi também eu aquele período com todas as suas expectativas e confusões e vi como pessoas que eram totalmente radicadas na Fé da Igreja, quão profundamente elas foram feridas pelas deformações arbitrárias da Liturgia,” (Carta aos Bispos). O resultado de tais abusos foi um crescente espírito de nostalgia para com a Missa de São Pio V. Além disso, um sentido de desinteresse geral para ler e respeitar seja os documentos normativos da Santa Sede, como também as próprias Instruções e Premissas dos livros litúrgicos piorou ainda mais a situação. A Liturgia não parece ainda figurar suficientemente na lista das prioridades para os Cursos de Formação continua dos eclesiásticos.
 
Distingamos bem. A reforma pós-conciliar não é de todo negativa; antes, há nela muitos aspectos positivos naquilo que foi realizado. Mas há também mudanças introduzidas abusivamente que continuam a ser levadas avante não obstante seus efeitos nocivos à fé (7) e sobre a vida litúrgica da Igreja.
(7) Esta denuncia é gravíssima. Ela indica que embora os padres estejam percebendo que a rebeldia, e as suas iniciativas são prejudiciais à liturgia e à fé, continuam mesmo assim, obstinados em sua cegueira. O simples fato do esvaziamento dos seminários após o vendaval do Concílio e a largada da batina de mais de 100 mil sacerdotes, já deveria ter mandado nossa Igreja a colocar o pé no freio deste Concilio há muitos anos. De fato, se o Santo Padre não conseguiu fazer isso, é uma prova de que não tinha autonomia, e isso desde Paulo VI. Foi somente a partir de Bento XVI, que do alto de sua autoridade conseguiu substituir determinados cardeais de seus cargos, eles que impediam que se divulgasse ou se dessem entrevistas como estas, é que foi possível mostrar ao mundo católico a existência deste pernicioso germe de rebelião interior.
 
Falo aqui, por exemplo, de uma mudança efetuada na reforma, a qual não foi proposta nem pelos Padres Conciliares, nem pela Sacrosanctum Concilium, isto é, a comunhão recebida na mão (8). Isso contribuiu, de algum modo, para uma certa decadência da fé na Presença real de Cristo na Eucaristia. Essa prática, e a abolição das balaustradas do presbitério, dos genuflexórios das igrejas e a introdução de práticas que obrigam os fiéis a ficar sentados ou de pé durante a elevação do Santíssimo Sacramento reduze, o genuíno significado da Eucaristia assim como o sentido da profunda adoração que a Igreja deve dirigir para o Senhor, o Unigênito Filho de Deus. Além disso, a Igreja, casa de Deus, em alguns lugares é usada como sala para encontros fraternos, concertos ou celebrações inter-religiosas. " />Em algumas Igrejas, o Santíssimo Sacramento é quase escondido e abandonado em uma capelinha invisível e pouco decorada. Tudo isso obscurece a fé tão central da Igreja, na presença real de Cristo. Para nós católicos, a Igreja é essencialmente a casa do eterno.
(8) Ninguém em sã consciência, poderá negar que o fato da distribuição da comunhão na mão, e de pé, trouxe graves prejuízos para a Eucaristia. Durante séculos todos nós fomos ensinados que somente as mãos consagradas dos sacerdotes poderiam tocar nas Sagradas espécies. Mas eis que de repente, todo mundo toca, e assim se dilui o mistério. Mais que isso, os católicos passaram a achar que foram enganados pela Igreja, o que os levou até a duvidarem da presença real de Jesus na Eucaristia. Obviamente que o Jesus do Sacrário é o mesmo que andava pelas estradas da Galiléia e era tocado pelas multidões que se acotovelavam para vê-lo! Não há problemas em se tocar na hóstia! Entretanto, por falta de esclarecimento, e por causa de má doutrina, a Eucaristia perdeu o Mistério e calou a Adoração, como se o Jesus Deus, se tivesse tornado apenas simples homem. Ardil do diabo este, que permite transformar o Sacrifício em mera ceia comemorativa.
 
Outro sério erro é aquele de confundir os papéis específicos do clero e dos leigos com relação ao altar tornando o presbitério um lugar de perturbação, de excessivo movimento, e não certamente “o lugar” onde o cristão consegue colher o sentido de estupor e de esplendor ante a presença e a ação salvífica do Senhor. O uso de danças, de instrumentos musicais e de cantos que têm bem pouco de litúrgico, não são de modo algum consoantes ao ambiente sagrado da Igreja e da Liturgia (9); acrescento também certas homilias de caráter político-social frequentemente pouco preparadas (10). Tudo isso desnatura a celebração da S. Missa e faz dela uma coreografia e uma manifestação de teatralidade, mas não de fé.
(9) Está aí, certamente, um aspecto que sempre temos combatido. Tal como a distribuição da Comunhão na mão de certa forma banalizou ou mesmo destruiu em muitos corações o Mistério da Presença real de Cristo na Eucaristia, tal atitude também demoliu com o sentido da Adoração que Lhe é devida. Na Missa antiga, os instrumentos usados eram apenas o órgão e os velhos harmônios, que evocam a liturgia celeste, são instrumentos próprios de interiorização. Pode-se dizer que, quando descobriram que a Eucaristia não era mistério algum, muitos acharam por bem transformar a Missa num show, numa festa, e colocaram dentro dela instrumentos e cantos profanos. Por isso eu afirmo, sem medo de errar: ninguém, que se sinta bem diante daquela berreira e daquele som altíssimo, entende algo da Santa Missa. Para estes a Eucaristia é pão, a presença real é mito e lenda, e a Missa é mera ceia. Para estes, um show de musica popular tem o mesmo efeito, espiritual. Zero!
(10) Não somente homilias políticas e mal preparadas, como arengas repetitivas de textos mal decorados. Quando um pregador começa a fugir do tema do Evangelho e das leituras do dia, e tende a citar trinta versículos que ele mentalizou, mas fora do contexto, é sinal de que ele sequer se lembrou de, antes, saber qual o Evangelho do dia. Além disso, um grande mal entre os pregadores são certamente as homilias frouxas, medrosas, que têm pavor de falar em pecado, em purgatório e também inferno, porque – erradamente – os padres colocaram na cabeça que isso afasta os fiéis. O que afasta os fiéis é o mau exemplo de ser católico, e a catequese quase nula que recebem nossas crianças. De fato, o povo precisa ser chamado duramente a atenção, pois sem isso se desgarra. Jesus nunca falou com frouxidão, mas sempre duramente. A verdade é que, quando o padre está em pecado, ou não vive aquilo que prega, ele perde a autoridade como Jesus tinha e a sua homilia não atinge as almas, antes torna piores as ovelhas. Ai dos mornos! Ai dos tíbios!
 
Há ainda outros aspec
tos pouco coerentes com a beleza e a maravilha daquilo que se celebra sobre o altar. Nem tudo vai mal com o Novus Ordo, mas muitas coisas ainda devem ser colocadas em ordem evitando ulteriores danos à vida da Igreja. Creio que nossa atitude com relação ao Papa, para com as suas decisões e a expressão de sua solicitude para o bem da Igreja deve ser somente aquela que São Paulo recomendou aos Coríntios - “mas tudo se faça para a edificação” (1Cor 14, 26). (P.L.R.) (Agência Fides 16/11/2007; 199 linhas, 2.742 palavras)
 
OUTRA ENTREVISTA
 
"Missa tridentina -- a advertência da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos: “Sacerdotes, Bispos e Cardeais obedeçam ao Papa”"
 
CIDADE DO VATICANO – O clero, em todos os níveis, deve obedecer ao Papa: é a parte central da mensagem do Mons. Albert Malcolm Ranjith Patabendige, secretário da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, entrevistado exclusivamente pelo site ‘Petrus’.
 
Excelência, que acolhida teve o Motu Proprio de Bento XVI que liberou a Santa Missa conforme o rito tridentino? Alguns, no seio da própria Igreja, viraram o nariz...
 
Mons. Ranjith: "Houve reações positivas e, é inútil negar, críticas e oposições também de parte de teólogos, liturgicistas, sacerdotes, Bispos e até de Cardeais. Francamente, não compreendo estas formas de afastamento e --- por que não? --- de rebelião contra o Papa. Convido a todos, particularmente os Pastores, a obedecer ao Papa, que é o sucessor de Pedro. Os bispos, em especial, juraram fidelidade (11) ao Pontífice: sejam coerentes e fiéis ao seu compromisso".
      (11) Está aqui um agravo que vai além da denúncia. De fato, tanto os padres, quanto os bispos, se sujeitam ao Papa pelo voto da obediência, que juram diante de Deus. Toda esta rebeldia, em aplicar as últimas cartas do Papa, sobre a Eucaristia, sobre o Rosário, e sobre a Confissão, tem causado um imenso estrago na Igreja, verdadeiro cisma. Se eu tivesse que dizer uma palavra de Jesus para este caso diria: “eles não sabem o que fazem!” Porque se tivessem uma idéia, por mínima que fosse do estrago que estão causando na Igreja, se entendessem a forma como estão quebrando a Unidade e criando para si outra Igreja, eles voltariam atrás, em prantos e súplicas. De fato: já temos hoje duas igrejas, é isso que iremos mostrar no próximo livro: As Angustias da Igreja!
      
Segundo o senhor, a que se devem estas manifestações contrárias ao Motu Proprio?
 
Mons. Ranjith: "Como o senhor sabe, em algumas Dioceses foram publicados documentos interpretativos que visam inexplicavelmente limitar o Motu Proprio do Papa. Por trás destas ações se escondem, por um lado, preconceitos do tipo ideológico e, por outro lado, o orgulho, um dos pecados mais graves (12). Repito: convido a todos a obedecer ao Papa. Se o Santo Padre julgou como seu dever promulgar o Motu Proprio, é porque ele teve os seus motivos com os quais eu concordo plenamente".
      (12) Em grande parte, o entrave que dá início a esta rebeldia generalizada, parte das Conferências Episcopais, e não é sem motivo que, recentemente, através de artigo do vaticanista Sandro Magister, este expressava o desejo de Sua Santidade em simplesmente acabar com todas estas entidades. Sim, porque elas se tornaram em pequenos Vaticanos, que, manipulados por certos bispos rebeldes, acabam por impor a todos – ou a quase todos os bispos – uma doutrina adulterada que vai contra os ensinamentos do Papa. Ou seja: não bastasse não cumprirem o que
ele MANDA, ainda fazem o contrário. Aliás, já os nossos santos, há séculos previram que isso aconteceria. Como os desobedientes não acreditam nos profetas, nem nos santos – nem lêem estas “coisas” – acabam caindo como patinhos nas malhas de satanás. Afinal, ele é o mestre da desobediência! E quem não obedece ao Papa, não segue mais a Jesus. Já criou outra igreja! Minúscula!

 
A liberação do rito tridentino determinada por Bento XVI surgiu como um justo remédio a tantos abusos litúrgicos tristemente registrados depois do Concílio Vaticano II com o ‘Novus Ordo’…
 
Mons. Ranjith: "Veja, eu não quero criticar o ‘Novus Ordo’. Mas, me vem de rir quando ouço dizer, até por amigos, que numa paróquia um sacerdote é Santo pela sua homilia, ou como fala. A Santa Missa é sacrifício, dom, mistério, independentemente do sacerdote que a celebra. É importante, melhor, fundamental, que o sacerdote se coloque de lado: o protagonista da Missa é Cristo (13). Não entendo, portanto, celebrações eucarísticas transformadas em espetáculo com danças, músicas ou aplausos, como muito freqüentemente ocorre com o Novus Ordo".
      (13) Cristo não é somente o protagonista, como ele É a própria Missa. Não importa qual o rito – novo ou antigo – que se celebre, o efeito é o mesmo, desde que se cumpra com exatidão a fórmula bíblica da consagração. Eu sempre tenho dito, e não tenho medo de errar, que, quem dança, aplaude e se confraterniza durante a Santa Missa, comete um desatino, porque está a dançar diante de um Cristo pregado na Cruz. Tal pessoa nunca entendeu mesmo na mais ínfima particularidade o sentido sacrifical da Missa. E certamente, no dia em que entnder, se lamentará profundamente!
 
Monsenhor Patabendige, a Sua Congregação muitas vezes já denunciou estes abusos litúrgicos …
 
Mons. Ranjith: "Verdade. Há muitos documentos nessa linha que, infelizmente, ficaram letra morta, terminando em gavetas poeirentas, ou, pior ainda, no cesto de lixo " (14).
      (14) Horror dos horrores é exatamente isso que está acontecendo. Muitos documentos do Papa estão sendo jogados na lata de lixo, pelos bispos e padres. Se não fazem isso diretamente, o simples fato de os deixarem ao descaso, já denota loucura, em se tratando de gente que jurou, diante de Deus, fidelidade ao Santo Padre e à Igreja.
      Já relatei este fato, de uma senhora muito ativa na Igreja e conto novamente para ilustrar: Disse-me ela que, no ano 2000, tendo saído um documento do Papa João Paulo II, que ela achou de muita importância, pensou em incentivar os bispos a aplicarem de forma rápida e eficiente aquelas diretrizes. Tomou então 30 telefones de bispos, e falou com todos eles pessoalmente. Resultado: UM, disse que tinha lido, mas não tinha ainda tido tempo de implementar. UM disse que tinha lido, mas era emérito, e não tinha condições de cumprir. E 28 disseram que não tinham tomado conhecimento dele. Isso quando até os índios do alto Amazonas já sabiam. E certamente nunca tomaram, porque a desobediência foi geral. Tire disse as conclusões o leitor. Isso foi em 2000, agora está muito pior.
 
Um outro ponto: muitas vezes se ouve homilias longuíssimas...
 
Mons. Ranjith: "Também isto é um abuso. Sou contra danças e aplausos no decorrer das missas, que não são um circo nem um estádio. Em relação às homilias, estas devem se referir, como salientou o Papa, exclusivamente ao aspecto catequético (15), evitando sociologismos e falatórios inúteis. Por exemplo, é comum sacerdotes tocarem na política porque não prepararam bem a h
omilia que, pelo contrário, deve ser escrupulosamente estudada. Uma homilia excessivamente longa é sinônimo de pouca preparação: o tempo ideal de uma pregação deve ser de 10 minutos, no máximo 15. Deve-se lembrar que o momento culminante da celebração é o mistério Eucarístico, sem com isto querer diminuir a liturgia da Palavra, mas salientar como deve ser aplicada uma correta liturgia".

      (15) Cito como exemplo de má preparação, as homilias de finais de anos litúrgico, que falam dos: “fim dos tempos”. Eu acredito que nem um em mil sacerdotes tem coragem ou preparo para falar sobre este tema, sem fugir da verdade. Eu fico super triste quando ouço sacerdotes cometendo a criancice de confundir a 2ª Vinda de Jesus com o Natal. Todo este medo em falar a verdade, em alertar o povo sobre a proximidade deste fato, pela eviência assombrosa dos sinais, tem origem na falta de oração e no medo de estar a dizer algo errado. Também medo em pregar diferente dos maus padres, que negam isso com ênfase – para seu futuro desespero – coisas que aprenderam da falsa teologia. Ó, como Deus tem paciência com estes! Mas, até quando?
      Outra coisa que me deixa triste, é ver que a maioria dos sacerdotes não tem coragem de ir até o fim da verdade. Em muitos anos, acredito que não ouvi mais de cinco sacerdotes que tiveram a coragem de dizer que “faltar a Missa aos domingos, sem motivo justo” é um pecado grave, que não permite a comunhão sem antes a confissão. E por aí vai! Por outro lado, ouvir uma homilia longa de um padre santo é muito bom, mas pode ser terrível ter que ouvir cinco minutos de uma arenga política. Sim até se poderia aceitar isso desde que fosse para pedirem perdão por haverem ajudado a eleger este governo abortista e comunista.
 
Voltando ao Motu Proprio, alguns criticam o emprego do latim durante a Missa …
 
Mons. Ranjith: "O rito tridentino faz parte da tradição da Igreja. O Papa oportunamente já explicou as razões deste seu ato, um ato de liberdade e de justiça com os tradicionalistas. Quanto ao latim, gostaria de salientar que nunca foi abolido, e é mais uma garantia da universalidade da Igreja. Mas eu repito: convido aos sacerdotes, Bispos e Cardeais à obediência, deixando de lado todo o tipo de orgulho tipo ou preconceito".
(Matéria desta ultima entrevista foi enviada por Wilmor, retirada do Site Montfort.og, que traduziu)
 
FINAL: Quando vemos uma pessoa como este Monsenhor, ligado ao Papa e falando com tanta clareza e desenvoltura sobre estas coisas, podem ter certeza de que ele fala pela boca do Santo Padre, que aprova integralmente tudo o que ele disse. De qualquer forma, isso nos mostra uma fratura já exposta na Igreja, e certamente uma reportagem assim não lhe traz a cura, até porque são poucos, quem sabe nenhum deles mudará o seu cego e surdo posicionamento, como está dito no texto: por orgulho e preconceito!
 
Aliás é apenas por orgulho teológico que eles estão aceitando despir nossas igrejas das imagens de culto, de tudo aquilo que lembre o sagrado, e colocando o Santíssimo em capelas escondidas. Isso nada tem a ver com a liturgia santa, porque porvém da escola de satanás. Todos os argumento levantados em defesa deste ato dessacralizante, são inventados pelo maligno. Mas alguém pagará esta conta diante de Jesus que vem como Juiz que dirá: quem vos mandou praticar esta abominação da desolação, aquela que foi predita por Daniel? 
 
Somente oração contínua salva a Igreja! Somente Jesus a salva!
 
       arnaldo



Artigo Visto: 3149

ATENÇÃO! Todos os artigos deste site são de livre cópia e divulgação desde que sempre sejam citados a fonte www.recadosdoaarao.com.br


Total Visitas Únicas: 4.199.172
Visitas Únicas Hoje: 402
Usuários Online: 81