recadosdoaarao



Trevas
Voltar




24/10/2005
O inferno existe (5)


Trevas - 301 O inferno existe (5)
Trevas - 301 O inferno existe (5)

2051024 O INFENRO EXISTE (5)
(parte 5 - final)
 
– Para suceder no reino basta um; portanto, um se sacrifique para escarnamento de todos e o outro se conserve para segurança da corôa. Mas qual dos dois merece graça? O mais velho? Não! O menor? Não! Tirem a sorte.
Tirou-se a sorte fatal com um majestoso e tremendo aparato. Na grande sala da côrte, achava-se o rei, sentado no trono, rodeado pelos vizires, agás e pachás; diante do trono duas mesinhas, uma fúnebre com o baraço, a outra coberta com uma rica toalha, onde se viam o turbante, o colar e a espada. Um taboeiro com os dados; aí foram conduzidos os príncipes para tirarem a sorte: quem obtivesse o menor ponto cingiria a espada e colar; quem obtivesse maior, daria o pescoço ao baraço.
Diante daquele aparato os dois jovens desmaiaram; depois, com o fritilo na mão, dirigiam tristes olhares para a corda e para a coroa; o coração de ambos batia tão forte que levantava as vestes sôbre o peito, com afanosos e profundos suspiros, com ânsias de moribundos, por causa da escolha fatídica – a corda ou a coroa – que dependia de um ponto de jôgo e do lançar de um dado.
Quem sente compaixão pela situação crítica em que se acharam êsses pobres príncipes, dirija a compaixão sôbre si mesmo, e diga: – “Na hora da morte, na mesma ou em pior situação me acharei eu. Duas infinitas eternidades terei diante de mim; numa verei cetros, coroas, riquezas, alegrias, prosperidades, tudo para sempre; noutra verei grilhões, infâmias, morte, e não passageiros, mas que duram sempre. E o que caberá em sorte?
De nós depende inteiramente a escolha: se vivermos bem teremos eternidade feliz, se ao contrário, levamos vida má, caber-nos-á o fogo eterno, e desespêro eterno e tôdas as outras penas de que já falamos.
 
 
CAPÍTULO XI > Outras provas da existência do demônio e do inferno
 
O espiritismo, em suas várias manifestações, é também uma prova evidente da existência do cárcere eterno. Se existe o espírito maligno e se êle se manifesta por meio de mesas que falam ou giram e por meio de outros médiuns, deve também existir o lugar de sua morada, isto é, o inferno com suas penas atrozes.
Estranha contradição! Os ímpios não prestam fé a Deus e à sua Igreja e crêem nas imposturas do demônio, pai da mentira, que os engana nas sessões espíritas; zombam do inferno e dos novíssimos e têm medo do número treze, ou do sal derramado na mesa, como de um mau agouro; desprezam a Sagrada Escritura e veneram os livrecos eu tratam de magia ou de sortilégio, não querem saber dos santos ensinamentos da Igreja e dos seus ministros e vão consultar uma cartomante ou um cigano para lhes revelar o futuro ou para curá-los. Assim é: quando o homem fecha voluntariamente os olhos à verdade, abre-os ao êrro e à mentira; enquanto espezinha a religião e ao seu Criador, nega o culto devido, torna-se supersticioso e presta homenagem ao diabo e às coisas insensatas.
 
*
*          *
Outra prova evidente da existência da prisão eterna e dos demônios, são as obsessões.
Satanaz, em nossos dias, se incarna nos livros ímpios que ridicularizam a nossa santa religião e difamam as religiões, os padres e os bispos; nos romances que ensinam descaradamente o vício e espezinham a virtude; nas estátuas, nos monumentos e nos quadros obscenos trabalhados sob o ridículo pretexto da arte, como se arte não devesse respeitar a honestidade dos costumes e não fôsse feita para civilizar e nobilitar o homem.
 
As tipografias e as livrarias que publicam maus livros, a oficina dum artista que reproduz nudez na tela, no mármore, ou no papel, as reuniões tenebrosas da maçonaria, são querenças de Lúcifer.
 
Certos escritores e certos propagadores de doutrinas anárquicas ou socialistas ou ateus, parecem possuídos do espírito da mentira, tanta é a cons
tância, a imprudência, a ousadia com que espalham a baba dos seus erros. A sua pena é molhada em veneno violento e torna-se na sua mão o punhal do assassino que mata a alma e o corpo dos leitores.
 
Mas, além dessas incarnações de Satanaz nos homens ímpios que servem a sua causa e agem sob sua influência, houve, mesmo ùltimamente, verdadeiras obsessões.
 
Cito um fato, do qual foi testemunha uma cidade inteira, fato extraído dum opúsculo do advogado Feliz Sonelli; (1) quem não crê pode ir interrogar as testemunhas oculares.
 
Teresa Strigni nasceu em Briga, vilório de Novara, Itália, aos 20 de maio de 1832, e a certa idade começou apresentar sinais de obsessão diabólica. Fechada em casa, desaparecia e depois de muito tempo voltava e entrava sem abrir a porta. Passava dias sem tomar alimento ou bebia e via o que acontecia em lugares distantes; seu rosto tomava formas horríveis a ponto de amedrontar os mais corajosos. Rumores misteriosos se ouviam em seu quarto; e muita vez tôda a casa era sacudida como por um terremoto, derrubando as mobílias como se fôssem palhas.
 
A coitadinha ora parecia agonizante e prestes a exalar o último respiro; ora, tinha tanta força que ninguém a dominava e até punha em fuga homens robustos que acorriam para refrear-lhe a veneta, ou socorrê-la nas frequentes convulsões de que era toada. Apesar de analfabeta, e sem nenhuma instrução, compreendia línguas desconhecidas e demonstrava saber extraordinário.
 
Os exorcismos produziam nela grande efeito e via-se claramente que o demônio sentia o poder que Deus concedeu à sua Igreja. Quando os parentes e os vizinhos não sabiam o que inventar para acalmá-la, chamavam o pároco para que ordenasse a Satanaz com as fórmulas do Ritual que deixasse em paz a infeliz moça.
 
Sentia também a influência e, às vezes terror das coisas benzidas, terços, imagens, medalhas, água benta, como se fôsse tocada por um ferro em brasa.
 
Um dia o sacerdote a interrogou:
 
– Quem és tu? és um demônio?
 
– Não, respondeu a voz terrível.
 
– Em nome de Deus, quem és?
 
– Um demônio.
 
– És um daqueles soberbos precipitados do céu?
 
– Sim.
 
– Não é verdade, que apesar de tua arrogância sofres também aqui as penas do inferno?
– Sim.
 
Outras vezes respondia que era uma legião. E na verdade, os fenômenos extraordinários que sucediam em sua pessoa, no quarto, na casa, mostravam que devia haver mesmo uma multidão de demônios.
 
Alguns libertinos que zombavam do inferno e dos demônios foram examinar o fato e o sarcasmo morreu-lhes nos lábios. Alguns até foram horrìvelmente maltratados e outros ficaram gelados de medo quando viram pintado naquele rosto o desespêro dos réprobos.
Repito: Quem não quiser acreditar, consulte as testemunhas oculares. Mas, vêde a estultícia: os ímpios não querem averiguar os fatos e continuam a escarnecer dos dogmas da fé, até que, vindo a morte, as chamas devoradoras do inferno os convençam da existência de um Deus que castiga o pecado e a iniquidade.
 
*
*          *
Na vida de S. João Maria Vianney, mais conhecido pela expressiva alcunha de Santo Cura d’Ars, lê-se a luta terrível que deveu sustentar contra satanaz, furioso por causa das inúmeras almas que o santo sacerdote arrancava da eterna perdição. A povoação de Ars foi testemunha do ocorrido e vivem ainda muitas pessoas que poderiam confirmar o que relatamos.
O demônio lhe aparecia sob formas horríveis para perturbar-lhe o breve repouso que tomava num pobre catre. Às vezes a casa parecia invadida por uma turba de leões, tigres e serpentes e pelos quartos e corredores ressoavam rugidos, assobios e urros; outras vezes aparecia no meio das chamas; corriam os paroquianos para salvar do incêndio o seu querido pastor, mas o fogo de súbito se apagava. Os mais robustos e os mais corajosos experimentaram dormir na casa paroquial, mas de noite fugiam de mêdo, enquanto o santo sacerdote, bem sabendo que o demônio não po
de fazer nenhum mal sem a permissão do céu, descansava tranqüilo sob as asas da proteção divina.
Quando operava uma conversão prodigiosa, a raiva da antiga serpente não tinha limites e redobrava os esforços para vingar-se da presa perdida. Uma noite o demônio ateou fogo no seu pobre leito, outra vez o atirou no chão com violência, sem porém o machucar, e muitas vezes o chamava com voz rouca, reprovando a guerra que lhe movia.
*
*          *
Na vida de S. José Cottolengo se encontra também a aparição do nosso eterno inimigo e vivem ainda muitas testemunhas. Geralmente todos os santos tiveram lutas corporais e visíveis contra o príncipe das trevas, pelo zêlo que mostraram na salvação do próximo e pelas vitórias que alcançaram do próximo e pelas vitórias que alcançaram contra o mundo, a carne e o inferno. Portanto, veio alguém do outro mundo a provar-nos a existência das verdades eternas: veio até o chefe dos anjos rebeldes.
*
*          *
Na história de S. João Batista de La Salle, benemérito fundador dêsses anjos da juventude que se chamam Irmãos das Escolas Cristãs, narra-se que um cavalheiro de nobre família levava vida mundana, pouco se lhe dando da salvação da alma.
Alistou-se no exército, onde subiu fàcilmente de pôsto e obteve condecorações pelo seu valor. Duma feita, foi ferido num combate; curaram-no remédios secretos, com auxílio diabólico. Entrando uma vez numa igreja no momento preciso em que se exorcizava um possesso, por curiosidade e para zombar da credulidade das pessoas presentes, inesperadamente o demônio lhe dirigiu a palavra e disse:
– Tu não crês no inferno e no demônio! Infeliz! sentirás um dia o seu poder.
Assustado por essas ameaças e por ver que o espírito infernal tinha penetrado seus íntimos pensamentos, que êle não revelara, caíu em si, voltou crente e decidido a abandonar o mundo para ingressar no Instituto de São João de La Salle e fazer penitência.
Naquele santo retiro o esperava Satã. Abriram-se-lhe denovo as feridas, foi tomado de dores atrozes e misteriosas, de frenesí e convulsões horríveis, de jeito que nenhuma fôrça humana podia contê-lo. A comunidade vivia em sobressaltos. O Santo notou no infeliz os sinais da obsessão; e exorcizando-o, intimou ao espírito das trevas que saisse daquele corpo. O demônio ouviu a voz potente do ministro de Deus e escabujando e urrando, abandonou o infeliz cavalheiro.
 
Na vida do mesmo Santo se encontra o seguinte fato. Vivia em Ruão uma senhora de nome Maillefer, tôda entregue às vaidades e aos prazeres do mundo, sem mesmo pensar nos seus deveres de cristã. Gastava suas grandes riquezas em vestidos, banquetes e teatros, caminhando a passos ligeiros pela estrada da perdição.
 
Aprouve, porém, à bondade divina detê-la à beira do abismo e fazê-la instrumento das suas misericórdias.
 
Um dia, bateu à porte do palácio um pobre, doente e faminto.
 
Os criados, embora conhecessem o coração duro da ama, deixaram-no entrar; julgando que o seu mísero estado movesse à compaixão. Assim não foi, porém! A cruel senhora o expulsou de sua casa, com asco, atirando-lhe em rosto estas palavras: – Poltrão, vai trabalhar.
 
O mendigo abaixou a cabeça e saiu cambaleando de fome e de fraqueza. À porta, deu com o cocheiro, que sentiu doer-lhe o coração à vista de seus padecimentos e levando-o à estrebaria, o socorreu como pôde.
 
Mas o novo Lázaro morreu durante a noite, e na manhã seguinte os criados encontraram o frio cadáver, em cujo semblante se percebiam as angústias e as dores que padecera nos últimos momentos. A ama tendo notícia do acontecido exasperou-se, despediu logo o compreensivo cocheiro e atirou aos criados o primeiro lençol encontrado para que amortalhassem o defunto e sem mais o sepultassem.
 
Passou o resto do dia debaixo duma triste impressão, humilhada pela sua crueldade e pelo que correria a seu respeito na cidade.
 
Qual não foi a sua admiração quando, pondo-se à mesa, encontrou dobrado em sua cadeira o lençol que tinha dado pela manhã. Julgou, de princípio, que não fôra obed
ecida e ameaçou despedir os criados; mas êstes asseguraram que tinham executado a ordem recebida e que êles mesmos depuseram na sepultura o cadáver amortalhado com aquêle lençol.
 
Que mão misteriosa teria colocado aí o véu fúnebre? É claro: o defunto recusou depois da morte uma esmola daquela que lhe negou barbaramente em vida um auxílio, e Deus tal permitiu para comover a infeliz pecadora. Realmente, ela compreendeu a lição, mudou de vida, penitenciou-se e expirou placidamente no ósculo do Senhor, cheia de confiança na misericórdia divina que acolhe um coração contrito e humilhado.
 
*
*          *
 
S. Felipe Néri ressuscitou momentaneamente um menino para dar-lhe azo de se confessar.
 
Ele amava ternamente Paulo Máximo, filho do príncipe romano Fabrício Máximo. O menino tinha 14 anos quando adoeceu gravemente; o santo tendo revelação de sua morte próxima, pediu à família que o chamasse à cabeceira do menino quando estivesse no extremo da vida, porque desejava confortá-lo e prepará-lo para a luta suprema.
 
A doença se agravou e o pai mandou chamar a S. Felipe para que corresse a abençoar o seu filho espiritual. Como, porém, estivesse celebrando a Santa Missa, a criada deu o recado a um dos Padres do Oratório.
 
Nesse ínterim o menino morreu e o santo, quando chegou ao palácio, encontrou-o cadáver. Ajoelhou-se ao pé da cama e rogou com devoção por um quarto de hora, depois aspergiu o rosto do menino com água benta, deitando-lhe umas gotas na boca. Soprou-lhe o rosto, colocou-lhe a mão na fronte, chamado duas vezes em voz alta e sonora: – Paulo! Paulo!
 
O morto acorda como de um profundo sono, abre os olhos es exclama: – Padre, Padre, tenho um pecado e quero confessá-lo.
 
S. Felipe pede aos presentes que se retirem, dá ao menino um crucifixo e ouve a sua confissão; terminada a qual, chama os parentes e põe-se a falar sôbre o paraíso e a felicidade dos eleitos; o menino se entretem em santa conversação, como quando gozava perfeita saúde; após meia hora, o santo obtido resposta afirmativa, disse: – Vai, sê feliz e roga a Deus por mim.
 
E Paulo com rosto plácido, sem nenhum movimento, torna a morrer docemente nos braços do santo. Estavam presentes àquela cena, entre outras pessoas, o pai, duas irmãs e a criada.
 
O quarto foi convertido em capela e é visitado ainda hoje com veneração e os romanos chamam o palácio Máximo “a casa do milagre”.
 
Todo ano, depois de três séculos, a família Máximo comemora o prodigioso acontecimento.
 
CAPÍTULO XII
 
O inferno é invenção dos padres
 
Nada mais falso. O inferno já existia antes que existissem os padres e mesmo antes do primeiro homem, tendo sido criado pela eterna justiça para os anjos rebeldes. Os sacerdotes outra coisa não fazem senão prègar uma verdade terrível, ensinada por Deus na Sagrada Escritura e que se acha em tôdas as religiões dos vários povos que passaram pela terra.
 
Perlustrai o mundo, do álgido pólo ao ardente equador, do oceano Atlântico ao Pacífico; entrai nas florestas dos selvagens, interrogai as tribos bárbaras e haveis de ver que todos admitem depois da morte um lugar de castigo. Não estão de acôrdo sôbre a natureza dos sofrimentos; mas todos concordam em acreditar na existência do inferno.
 
Os gregos tinham o seu tártaro, no qual punham penas horríveis para os maus. Os romanos chamavam inferno ou arco e Virgílio na Eneida descreve com côres bem vivas os tormentos dos condenados, dizendo-os eternos. Os egípcios criam firmemente na vida futura e no prêmio ou castigo eterno, e dos mortos faziam um julgamento para ver se eram dignos da sepultura e das honras fúnebres. Os hidús chamam o lugar dos réprobos Palatán e nos livros sagrados dos Vedas se encontra uma longa descrição dos atrozes tormentos a que serão submetidos os condenados. Os escandinavos e outros povos setentrionais lêem no Edda a existência do cárcere infernal. Os hebreus o denominavam sheol ou geena, e o santo profeta Daniel, tomado de espanto ao meditar naquelas chamas terríveis, rogava a De
us que o livrasse do profundo abismo e não permitisse fechar-se sôbre sua cabeça aquêle poço de fogo.
 
Os Missionários Salesianos encontraram esta crença nas pampas da Patagônia e nas florestas da Terra do Fogo; e aquêles selvagens falavam com pavor do castigo que receberão os maus. Maomé, o mais solene impostor da História, gastou muitas laudas do Corão para descrever o lugar dos tormentos acumulando tôdas as penas que uma fantasia oriental pode imaginar. Zoroastro imprimiu também nos persas uma idéia terrível da punição além tumba.
 
Deixo de citar outros povos, porque, do contrário, não acabaria mais.
 
Os padres, portanto, não inventaram esta crença, mas acharam-na bem impressa em todos os povos e a encontraram ainda agora esculpida no fundo da consciência humana, a qual brada que o pecado não passará sem castigo, como a virtude não ficará sem prêmio.
 
*
*          *
 
Outra extravagância que os “espíritos fortes” vão assoalhando é esta: “o inferno é coisa da Idade Média”.
 
Só mesmo quem perdeu o juízo fala dêsse modo. O que era verdade na Idade Média o é também hoje e o será sempre, porque o tempo não pode destruir a verdade. Os séculos não conseguem apagar aquelas chamas vorazes, alimentadas, pela divina justiça e nas portas tenebrosas daquele cárcere continuarão as terríveis palavras: sempre, nunca.
 
Deus tratará os homens do século XIX como os da Idade Média, premiando os bons com o paraíso e castigando os maus com o fogo. A justiça eterna é invariável e incorruptível e não muda com o correr dos tempos e das opiniões do mundo.
 
Ouvindo falar a certas pessoas, parece que hoje em dia foram abolidos os mandamentos de Deus e da Igreja, foram suprimidos os deveres religiosos, soltou-se o freio às paixões e ao homem foi dada plena liberdade de viver segundo os seus caprichos. Ilusões estultas, que se pagam depois com uma eternidade infeliz! As leis de Deus e da Igreja estão sempre em vigor, e todo cristão é obrigado a observá-las se quiser ter uma sentença favorável no grande dia do juízo.
 
Os heróis dos bares e clubes, quando se vêem apertados de tôda a parte por argumentos fortes e não podem mais negar a existência do inferno, saem-se com um dislate sem igual: “O acostuma com tudo. Eu me acostumarei no inferno.”
 
Falam assim para não se darem por vencidos e não abandonar a vida dissoluta. Pròpriamente não têm dificuldade em admitir o cárcere eterno, porque a razão prega a existência dêle; o difícil e o repugnante para êles é corrigirem os costumes, praticarem o bem, abandonarem os maus hábitos e viverem como bons cristãos. E em vez de fazerem violência sôbre si mesmos, preferem perder-se para sempre.
 
De resto, se não são capazes de habituar-se a vencer as próprias paixões, como se acostumarão com aquelas penas cruciantes? Quem, jamais, pode acostumar-se com a dor que é contrária à natureza? Fomos feitos para a felicidade e o coração foge sempre da desventura e é impossível que se dê bem nos sofrimentos. E os santos respondem que os tormentos se sucedem aos tormentos; e do mesmo modo que os bem-aventurados compreensores experimentarão sempre novos gáudios, os infelizes condenados sentirão sempre novos e mais terríveis tormentos.
*
*          *
Divulgou-se o provérbio que “o demo não é tão feito como o pintam”, e costumam citá-lo para demonstrar que a fama e a opinião popular muitas vezes são superiores à realidade das coisas, porque a fantasia sói exagerar as dificuldades e as penas.
 
Mas, se aplicamos ao inferno êsse adágio andamos em errados. Por mais que procuremos calcar as côres e as tintas pintando as penas do demônio e dos réprobos, estaremos sempre aquém da realidade e não chegaremos nunca a exagerar. Um cadáver em decomposição não nos dá nem idéia de como Satanaz é sórdido, é horrível; e uma santa informou que, se êle saisse da sua prisão tal mal é, faria morrer pela sua hediondez todos os homens e animais.
 
No opúsculo citado da possessa de Briga lê-se que muitas vezes quando invadida pelo demônio tinha o as
pecto tão medonho que punha tôda a povoação em polvorosa. Dado o sinal de alarme, todos corriam para a igreja para implorar misericórdia de Nosso Senhor.
Eis as palavras textuais. “A filha tornou-se furiosa e ameaçadora. Horrível à vista, cabeleira desgrenhada e hirta como um penacho, olhos de fogo, assobios nunca ouvidos e incessantes, hálito quentíssimo, contrações de nervos, engrossamento muscular de fazer mêdo, sem um membro que ficasse calmo. Nenhuma fôrça era capaz de a dominar. Os mais robustos são juncos flexíveis. Acorrem outros e o quarto fica cheio de homens fortes e corajosos. Sete dêles seguram-na ao mesmo tempo nos pés, no pescoço, nos braços e na cintura; mas não resistem, porque à guisa de turbilhão impetuoso vence a todos e os põe em fuga”.
Então o povo corre ao pároco para que a exorcize.
“Não há palavras suficientes para dar uma idéia do que viu e o mêdo que teve entrando naquela casa. Todavia, confiando em Nosso Senhor, a quem sempre tinha eficazmente invocado, entra e ordena: – ‘Olá! satanaz, pára em nome de Deus’. A essas palavras, Teresa como fulminada cai no leito”.
Na manhã de 11 de maio 1849, desapareceu improvisadamente de casa e durante todo o dia ouviram-se pelos ares lamentos, gritos, rumores misteriosos. O povo pensando que aquilo fôsse o fim do mundo se recolheu na igreja para rezar.
À tarde, durante a Bênção do Santíssimo Sacramento, ouviu-se, sob um céu sereno e estrelado, estrépito medonho como de um furacão que se aproximava. A povoação se alarma; ecoam gritos prolongados e suspiros dolorosos; e finalmente distinguem-se a voz da moça possessa no teto de uma casa. À meia-noite pede auxílio para descer; e um destemido sobe uma escada e a desce, sem a menor dificuldade, como se fôsse um feixe de palha. Estava fria petrificada, descalça, e tinha um bastãozinho na mão. Homens fortes experimentaram tirar-lhe o bastão, mas não o conseguiram, como se fôsse de ferro os seus braços.
“Se, além disso, observas o seu rosto, és obrigado a desviar o teu olhar; é o mesmo que ver um espectro, isto é, o demônio em forma humana. De qualquer lado que se a observes ficas horrorizado: parece mesmo satanaz, horrível, ameaçador, feral. O ôlho, principalmente, sanguíneo e irrequieto, sob imóvel e entreaberta pupila fere de modo cruel. O inferno nela se esconde”.
Deitada no chão, ninguém mais ousava aproximar-se-lhe, quando, após incessantes pedidos dos parentes, quatro homens mais fortes a suspendem e a levam, como um tronco, para casa, onde o pároco exorcizando-a, fá-la voltar a si e largar o bastão não sem grande resistência e agitações do demônio.
*
*          *
Todos esses fatos que narramos confirmam o dogma terrível revelado por Deus da existência do inferno; e eu faço os melhores votos para que os meus leitores o evitem e mereçam o Paraíso, para o qual o Senhor nos criou. A. M. D. G.
Imprimatur Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Snr. Bispo de Niterói D. José Pereira Alves. Niterói, 1.º de janeiro de 1945. Pe. Francisco X. Lanna, SS.
 
ADENDO DE ARNALDO:
 
A bem da verdade, devo dizer aos leitores que durante mais de uma semana não consegui formatar estes textos em meu computador. Foi preciso que eu retornasse a Ricardo,  a pedir que fizesse a separação dos cinco capítulos porque aqui não dava.
 
Quando comecei a coloca-los na internet, telefonou-me aquela pessoa do livro dos demônios estando em verdadeiro desespero, porque os ataques na casa dela estavam impossíveis de suportar. Seu menino gritava desde ontem sem parar e eu podia ouvir seus berros de desespero ao telefone. Há muito tempo que não conseguem dormir.
 
Por favor, mais pessoas ajudem a rezar por aquela casa. Eles imploram ajuda, os padres não acreditam e seu bispo acredita, mas diz que não tem forças para ajudar. Se o Bispo não pode quem o conseguirá?
 
 
 






1 Teresa Strigini ou “A famosa endemoninhada de Briga Novarense, pu
blicada em Milão, em 1877”.



Artigo Visto: 2714

ATENÇÃO! Todos os artigos deste site são de livre cópia e divulgação desde que sempre sejam citados a fonte www.recadosdoaarao.com.br


Total Visitas Únicas: 4.201.074
Visitas Únicas Hoje: 348
Usuários Online: 48